segunda-feira, março 17, 2014

Rússia coloca China em situação complicada



Até agora, muito se tem falado da influência da política do Kremlin na Ucrânia nas relações entre a Rússia e o Ocidente, mas não se deve esquecer a China, cuja situação também não é nada invejável depois do referendo da Crimeia.
Pequim absteve-se no Conselho de Segurança da ONU, alegando que a aprovação da proposta apresentada pelos EUA de condenação do referendo poderia agravar ainda mais a tensão já existe. Depois disso, a China recusa-se comentar os resultados do escrutínio, mas com uma dificuldade cada vez maior.
Hoje, ao responder a um jornalista sobre o referendo da Crimeia, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China declarou: “A China respeitou sempre a soberania, independência e integridade territorial de todos os Estados. A questão da Crimeia deve ter uma solução política no quadro da lei e da ordem”.
Claro que, pelo menos publicamente, não irá reconhecer a anexação da Crimeia por parte da Rússia. Pequim até pode pretender anexar territórios, mas sem qualquer vestígio do “direito dos povos à autodeterminação”, porque este direito é negado pelas autoridades chineses ao Tibete e às regiões islâmicas do Noroeste do país.
As autoridades chinesas avançaram com um complexo plano para “fazer baixar a tensão existente”, mas parece que chegue demasiadamente tarde, porque Vladimir Putin não vai renunciar àquilo que tão pouco lhe custou a ganhar, mais um membro da Federação da Rússia.
Deste modo, o dirigente russo veio complicar o jogo da própria China.
Isto será tanto mais perigoso se o “bichinho” da autodeterminação avançar na própria Federação da Rússia. Durante o processo de adesão da Crimeia à Rússia, Vladimir Putin terá de pedir ao Tribunal Constitucional uma parecer sobre a legalidade disso. Não há dúvidas que os juízes do TC irão dizer ao Kremlin, mas não se devem esquecer que, em 1992, os juízes desse tribunal recusaram à Tartária um referendo sobre maior autonomia no seio da Federação da Rússia.
Além de mais, Moscovo vai continuar a ingerir-se nos assuntos internos da Ucrânia, sob as mais diversas formas, incluindo a via militar.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia acha-se no direito de vir ditar o futuro da Ucrânia, ou melhor, do que resta desse país dilacerado, considerando que Kiev deve convocar uma Assembleia Constitucional para “reforçar os princípios da lei, da defesa dos direitos humanos e de todas as minorias nacionais, da liberdade de expressão e da actividade dos partidos políticos e dos meios de comunicação, bem como de outros princípios que garantam o sistema político da Ucrânia como Estado federativo democrático, que tem soberania e um estatuto político-militar neutro”.
Além disso, a língua russa deverá ser também uma das duas línguas oficiais da Ucrânia.
Para alguns, isto pode ser o princípio da “finlandização” da Ucrânia, mas, na realidade, trata-se da doutrina da “soberania limitada”, proclamada pelo antigo líder soviético Leonid Brejnev, depois de ter ordenado a invasão da Checoslováquia em 1968.

Ao que tudo indica, Moscovo tem pressa de ocupar o máximo de posições na Ucrânia para desacreditar o actual Governo de Kiev por ser incapaz de travar esta ofensiva, bem como pôr ordem em casa. Os passos seguintes consistirão em continuar a desestabilizar a situação no Sul e Leste da Ucrânia para, quando chegarem as eleições presidenciais ucranianas, marcadas para 25 de Maio, o país estar de facto dividido.

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