Até
agora, muito se tem falado da influência da política do Kremlin na
Ucrânia nas relações entre a Rússia e o Ocidente, mas não se
deve esquecer a China, cuja situação também não é nada invejável
depois do referendo da Crimeia.
Pequim
absteve-se no Conselho de Segurança da ONU, alegando que a aprovação
da proposta apresentada pelos EUA de condenação do referendo
poderia agravar ainda mais a tensão já existe. Depois disso, a
China recusa-se comentar os resultados do escrutínio, mas com uma
dificuldade cada vez maior.
Hoje,
ao responder a um jornalista sobre o referendo da Crimeia, um
porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China
declarou: “A China respeitou sempre a soberania, independência e
integridade territorial de todos os Estados. A questão da Crimeia
deve ter uma solução política no quadro da lei e da ordem”.
Claro
que, pelo menos publicamente, não irá reconhecer a anexação da
Crimeia por parte da Rússia. Pequim até pode pretender anexar
territórios, mas sem qualquer vestígio do “direito dos povos à
autodeterminação”, porque este direito é negado pelas
autoridades chineses ao Tibete e às regiões islâmicas do Noroeste
do país.
As
autoridades chinesas avançaram com um complexo plano para “fazer
baixar a tensão existente”, mas parece que chegue demasiadamente
tarde, porque Vladimir Putin não vai renunciar àquilo que tão
pouco lhe custou a ganhar, mais um membro da Federação da Rússia.
Deste
modo, o dirigente russo veio complicar o jogo da própria China.
Isto
será tanto mais perigoso se o “bichinho” da autodeterminação
avançar na própria Federação da Rússia. Durante o processo de
adesão da Crimeia à Rússia, Vladimir Putin terá de pedir ao
Tribunal Constitucional uma parecer sobre a legalidade disso. Não há
dúvidas que os juízes do TC irão dizer ao Kremlin, mas não se
devem esquecer que, em 1992, os juízes desse tribunal recusaram à
Tartária um referendo sobre maior autonomia no seio da Federação
da Rússia.
Além
de mais, Moscovo vai continuar a ingerir-se nos assuntos internos da
Ucrânia, sob as mais diversas formas, incluindo a via militar.
O
Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia acha-se no direito
de vir ditar o futuro da Ucrânia, ou melhor, do que resta desse país
dilacerado, considerando que Kiev deve convocar uma Assembleia
Constitucional para “reforçar os princípios da lei, da defesa dos
direitos humanos e de todas as minorias nacionais, da liberdade de
expressão e da actividade dos partidos políticos e dos meios de
comunicação, bem como de outros princípios que garantam o sistema
político da Ucrânia como Estado federativo democrático, que tem
soberania e um estatuto político-militar neutro”.
Além
disso, a língua russa deverá ser também uma das duas línguas
oficiais da Ucrânia.
Para
alguns, isto pode ser o princípio da “finlandização” da
Ucrânia, mas, na realidade, trata-se da doutrina da “soberania
limitada”, proclamada pelo antigo líder soviético Leonid Brejnev,
depois de ter ordenado a invasão da Checoslováquia em 1968.
Ao
que tudo indica, Moscovo tem pressa de ocupar o máximo de posições
na Ucrânia para desacreditar o actual Governo de Kiev por ser
incapaz de travar esta ofensiva, bem como pôr ordem em casa. Os
passos seguintes consistirão em continuar a desestabilizar a
situação no Sul e Leste da Ucrânia para, quando chegarem as
eleições presidenciais ucranianas, marcadas para 25 de Maio, o país
estar de facto dividido.
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