segunda-feira, abril 14, 2014

Impasse até quando?



Não obstante o ultimato lançado pelo Presidente interino da Ucrânia, Alexandre Turchinov, para que os separatistas do Leste e do Sul da Ucrânia entregassem as armas e abandonassem os edifícios administrativos até às 8 horas de hoje, estes não tencionam render-se e ameaçam resistir caso seja empregue a força.
Pelo contrário, continuam a tomar novos edifícios, esquadras da polícia, câmaras municipais, etc.
Isto porque sentem o apoio e o incentivo de Moscovo. A Rússia, que em casa já teria esmagado com tanques e blindados qualquer tentativa de separatismo ou desejo de maior autonomia das regiões e repúblicas da Federação, ameaça boicotar o encontro de Genebra, marcado para 17 de Abril, caso o governo de Kiev recorre à polícia e tropas para controlar a situação.
Além disso, não obstante todos os apelos à comunidade internacional para que ajude militarmente a Ucrânia (ainda hoje Iúlia Timochenko declarou : “Peço também aos líderes do mundo ajuda militar directa ao povo ucraniano que luta pela sua liberdade”), esta não encontra formas reais de travar o ímpeto dos separatistas apoiados por Moscovo.
Com receio de recorrer à força para “não dar argumentos à Rússia” e “não provocar uma muito provável resposta sangrenta”, o actual governo de Kiev tenta dialogar com os separatistas e até já fez algumas cedências. Por exemplo, Turchinov aceita a realização de um referendo sobre a “futura estrutura administrativa da Ucrânia” no dia 25 de maio, dia para o qual estão já marcadas eleições presidenciais.
Porém, é difícil acreditar que nesse dia se possa realizar ambos os escrutínios. Segundo fontes próximas de Iúlia Timochenko, esta praticamente não começou a campanha eleitoral para as presidenciais, nem pretende aumentar esforços nesse sentido, porque, o mais provável é que as presidenciais sejam adiadas para o Outono.
Se assim for, reúnem-se condições para que em Genebra, no encontro entre representantes da Ucrânia, Rússia, EU e EUA, se possa chegar a um consenso sobre a calendarização do desagravamento da situação em torno da Ucrânia. O governo de Kiev poderá aceitar a realização do referendo e o adiamento da realização de eleições presidenciais para Outono, quando já for clara a organização administrativa do país.

Mas isso necessita da boa vontade das duas partes. Talvez o isolamento internacional a que está cada vez mais sujeito o Kremlin contribua para isso. Caso a situação se continue a deteriorar, os EUA e a UE arriscam-se a ser muito desacreditados desta crise.

15 comentários:

Pippo disse...

JM, já lhe fiz estas perguntas várias vezes e até ao momento não obtive qualquer resposta:

1 - O actual governo da Ucrânia não foi eleito democraticamente e foi imposto através de um golpe de Estado no qual se usou a força e, ao que transparece, ardis criminosos (os snipers da Maidan, etc.). Porque é que você o considera legítimo mas não reconhece a legitimidade aos revoltosos do Leste?

2 - Este governo ucraniano só está onde está porque teve o apoio dos EUA e da UE. Porque é que você não condenou essa ingerência nos assuntos internos da Ucrânia com a mesma veemência com que condena toda e qualquer ingerência russa?

3 - Este governo só representa os interesses de uma facção étnica, que é a do Oeste, mas o JM parece dar a entender que este governo representa TODOS os ucranianos (o que é manifestamente falso). Porquê?

Gostaria de obter uma resposta cabal a estas questões.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Pippo, você anda decididamente distraído. Eu nunca disse que o actual governo russo é legítimo. Porém neste momento, é a principal força capaz de participar na normalização da situação.

Anónimo disse...

Justino disse :

Registe-se o importante progresso evidenciado pela presença da UE na mesa das conversações. É que, sendo a Federação da Rússia considerada “potência regional” pelos americanos, o assunto Ucrânia seria sobretudo um assunto regional europeu. Veremos pois se a UE se vai limitar a falar em dueto como os EUA, como as Pointer Sisters.

Todavia, falta um interlocutor na mesa, um representante das forças revoltosas do leste e sul da Ucrânia, o qual teria tanta legitimidade quanto o representante dos revoltosos da praça Maidan, agora arvorado em governante de facto da Ucrânia, com a importante diferença de aqueles se terem revoltado contra um governo legítimo ao passo que estes últimos se revoltam contra um governo ilegítimo.

Quando JM diz, e bem, “A Rússia que em casa já teria esmagado com tanques e blindados qualquer tentativa de separatismo”, parece omitir esta importante diferença, a Rússia tem um governo legítimo sufragado por toda a Federação, justamente o oposto da Ucrânia onde o governo sufragado foi corrido p pela força de uma praça, a mesma força que pretende impor o seu jugo, e até a sua língua, a todos os demais.

Entretanto, registe-se também que as sanções económicas parecem ter produzido o efeito contrário. Na semana que findou o dólar desvalorizou e as tecnológicas do Nasdaq desvalorizaram abruptamente. Há muito que se especulava que a bolha das tecnológicas iria rebentar arrasando consigo os mercados. Só não se sabia quando. Os movimentos de capitais russos, alarmados pela eminência de sanções podem ter despoletado a queda cujas repercussões ainda estão longe de serem compulsadas. Uma má notícia para todos, Ocidente e Rússia, onde as frágeis economias são interdependentes na aldeia global.

PortugueseMan disse...

Com receio de recorrer à força para “não dar argumentos à Rússia” e “não provocar uma muito provável resposta sangrenta”, o actual governo de Kiev tenta dialogar com os separatistas e até já fez algumas cedências.

Não deixa de ser curioso que ia agora falar num tema que acaba por estar relacionado com isto que está aqui.

Kiev não tem receio de recorrer à força meu caro. Não deixa de ser curioso esta compreensão pela junta que parece recorrer ao diálogo.

Se quisessem dialogar não andavam a fazer ultimatos, uns atrás dos outros.

Já se interrogou, porque fazem tantos ultimatos e depois nada acontece?

Já se interrogou porque pedem ajuda militar externa?

Porque não têm ninguém que cumpra as suas ordens.

Você já viu a quantidade de demissões que está a haver? as forças militares/policiais, não vão usar da força num conflito interno, ainda por cima por uma junta que nem legitimidade tem para coisa nenhuma.

Portanto de certeza que está a acontecer algo do género:

1 - Demitir
2 - nomear
3 - demitir de novo

Quem ocupa o lugar acaba por se recusar também, ou não consegue ser obedecido.

A junta tenta sobreviver, tenta mandar, mas não consegue espalhar autoridade.

E quantos mais ultimatos, falharem, pior ficarão.

Meu caro, não esteja à procura dos russos nos arbustos ucranianos, estamos a falar de um país de quase 50 milhões de pessoas, a pressão russa não justifica tudo.

Muitos ucranianos QUEREM algo de DIFERENTE e não querem NADA dos tipos que tiraram de lá o tipo em quem votaram, por muitas críticas que tenham contra ele.

Olhe para lá da sua janela, meu caro.

A realidade não é aquilo que queremos ver.

Verifique se tem havido demissões, em lugares destacados nas forças policiais/militares.

E não me venha dizer que é tudo russos disfarçados a mexer cordelinhos.

E já agora, já alguém deu algum dinheirinho, no meio de tanto país solidário e preocupado?

chukcha disse...

Até quando?

Ora vamos fazer uma analepse, assim de memória:

Maidan na rua hà meses:
- Ianukovtich convida o Yats para chefiar um GOVERNO DE SALVAÇÃO NACIONAL (GSN) (sem os fascistas)
- Maidan/Yats/Pravy Sector Rejeita
- Ocidente distribui bolinhos e fundos

UE patrocina acordo (e assina, como garante):
- Avança-se para Governo de Salvação Nacional.
- Maidan/Yats/Pravy Sector assina.
- Maidan/Yats/Pravy Sector toma conta de Kiev, e começa a destruír a memória e dignidade quer russa quer do povo Ucrâniano.
- Ocidente manda o Sikorsky e idiotas afins dar beijinhos ao pravy Sector.
- Russia exige retorno à situação do acordo (ou seja GSN).

Crimeia avança com referendo para as calendas:
-Ucrãnia transforma-se numa bandalheira,
- Ocidente (Burroso e tal) recebe o Yats
- Russia exige retorno à situação do acordo (ou seja GSN)

Referendo Antecipado na crimeia:
- OBomba recebe Yats
- Bandalheira na Ucrânia.
- Ocidente respinga.
- Russia exige retorno à situação do acordo (ou seja GSN.)

Criemia volta para casa:
- OBomba, Burroso e Merkl nao avançam com hrivnas.
- Bandalheira na Ucrânia.
- Ocidente respinga e avança com sanções.
- Russia exige retorno à situação do acordo (ou seja GSN.)

O Donbass rvolta-se:
Criemia volta para casa:
- OBomba, Burroso e Merkl nao avançam com hrivnas.
- Bandalheira na Ucrânia.
- Ocidente respinga e avança com sanções.
- Russia exige retorno à situação do acordo (ou seja GSN.)

Kaharkov rvolta-se:
- OBomba, Burroso e Merkl nao avançam com hrivna.
- Bandalheira na Ucrânia.
- Ocidente respinga e avança com sanções.
- Russia exige retorno à situação do acordo (ou seja GSN.)

Ou seja: Até quando pergunta o Milhazes?

1. Até que alguém ouça a única pertensão da Rússia - GSN (ou seja incluir representação de mais de 50% pop nas decisões do governo provisório (não deviam ser todos assim, e não ter o recismo e o sectarismo como combustível???)

2. Até que a Rússia se canse e diga:
Estimado Ocidente/Maidan, ide ser autistas para o raio que vos parta, na galícia e na Valónia. Nós por cá, ficamos com um GOVERNO DE SALVAÇÃO NACIONAL.

3. Até que a junta fascista comece a matar o seu próprio povo (o povo ucrâniano)....

chukcha disse...

Pippo,
Como sempre bons pontos, mas permita-me explicitar a conclusão óbvia dos seus corolários:

- Porque carga de àgua é que mais de 50% da população (PRegiões+PC+partidos sem represent. parl.), que têm sido tratados como sub-humanos (discartados os votos, perderam a vóz, aguentam legislação hostil) há-de aguentar esta merda?

É que não nos esqueçamos, que quem votou em Ianukovitch, não votou por acreditar que ele era um poço de virtudes e honestidade. Não, votaram conscientemente nele porque apesar de saberem que ele era uma canalha mafioso, lhes ia dar algumas garantias de respeito cultural e mesmo económico, quando comparado com a alternativa - a aliança olgarco-galaica, que herdeira da revlução laranja de 2004, e que aí iniciou as leis de discriminação étnica e promoção dos assassinos dos seus avós a heróis nacionais!

Pippo disse...

"Eu nunca disse que o actual governo russo é legítimo"

Perdão?!? Estamos a discutir a Ucrânia, ou fugiu-lhe a boca para a "verdade"? ;0)

"neste momento, é a principal força capaz de participar na normalização da situação."

PERDÃO?!? O que é que entende por "normalizar a situação"? Impor uma visão nacionalista e russófoba da Ucrânia? Impor a sua ilegitimidade a toda a população, independentemente da vontade desta?

No seu entender, obviamente, todos deverão submeter-se a este governo, é isso?

E quanto às questões 2 e 3 anteriormente formuladas?
Já sei que se se dignar a responder pergunta 2 dirá que condenou as ingerências ocidentais, mas devem ter sido umas condenações tão ligeiras, mas mesmo tão ligeiras, que devem ter sido levadas pelo vento...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Pippo, claro que queria dizer ucraniano. Não há outro. Quanto à russofobia na Ucrânia, é um exagero, pois você sabe bem que isso nunca foi algo preocupante na política e prática do ucranianos.
Pippo, já lhe disse, você ou lê com pouca atenção, ou a sua intenção é criticar apenas por criticar. Recomendo-lhe a ler com atenção.

Unknown disse...

Boa tarde,
A Russia esta cada vez mais louca ou anda a brincar com fogo, hoje mesmo um avião de combate russo sobrevoo o navio de guerra americano no mar negro numa atitude provocatória, se continuar assim poderá as coisas rapidamente tornar-se uma situação que irá mais além da Ucrânia, mais atitudes desta arrisca se a que os americanos derrubem algum avião de combate russo.

Pippo disse...

Eu leio com atenção, mas o JM não responde às questões, que já foram formuladas por várias vezes.

Críticas às ingerências:
- do Oeste - só muito de passagem;
- da Rússia - o tempo todo

Legitimidade:
- os golpistas são os "representantes da Ucrânia";
- os separatistas são apenas pró-russos, ou seja, pelos vistos não representam a Ucrânia...

Quanto à russofobia na Ucrânia ser um exagero, é curioso, pois isso faz parte do conteúdo programático dos dois mais importantes partidos que ganharam a Revolução (as tropas de choque não eram do Yatsenyuk!), faz parte da ideologia do ex e futuro herói nacional, Stepan Bandera, etc. A animosidade está lá, e caso assim não fosse, gostaria então que me explicasse porque raio é que a língua "ucraniana" (a da Galícia) tem de ser imposta a toda a população e porque é que uma das primeiras leis que se tentou impor foi a abolição do russo como 2ª língua oficial.
Se não é animosidade, é o quê? A tal "amizade fraternal" de que o JM falava?

Pippo disse...

Face à intransigência dos "terroristas" e "traidores" que querem decidir o seu próprio destino, as autoridades kievitas lançaram as suas tropas de assalto, constituídas pela forças especiais das unidades «Bars», «Yahuar» e «Hepard», e da sub-unidade «Omega», aquarteladas em Kiev, Vinnytia e Zaporizhya, e apoiadas por pelo menos três helicópteros, que tentaram retomar os edifícios ocupados por homens armados, que se declaram a favor de uma união com a Rússia.

Tudo começou de feição, alegadamente com a remoção de barricadas...

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=nbmvlYndfZM

Mas acabou mal! As milícias, que incorporam muitos militares das FA ucranianas que decidiram defender a sua terra, apanharam os homens das forças "especiais" numa emboscada e fizeram mortos:

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3tWVw9FU2ZQ

Morreu assim o capitão Henniy Bilichenko e ficaram feridos os corneis Kuznetzov e Kuksa, números um e dois do comando anti-terrorista do Ministério do Interior.
Obviamente, "as milícias pro-russas tiveram o dobro das baixas", segundo as informações veiculadas por Kiev.

Obviamente, quando a maioria das forças de segurança e da população adere às milícias e à sua luta contra o governo central, é difícil encetar qualquer tipo de "operação anti-terrorista"

http://www.theguardian.com/world/2014/apr/14/prorussian-militias-fill-vacuum-kiev-control-eastern-ukraine-slips

Anónimo disse...

Ucrânia

Depois da Síria parece que a Europa e Obama promovem mais uma guerra civil, dantes era a política da canhoneira, agora correm-se menos riscos e gasta-se menos dinheiro promovendo guerras civis.
Blog "O Jumento"

PortugueseMan disse...

...hoje mesmo um avião de combate russo sobrevoo o navio de guerra americano no mar negro numa atitude provocatória...

Esse tipo de coisas ocorre frequentemente entre russos e americanos.

Neste caso específico, parece ser uma mensagem de reclamação, pois os navios americanos não podem estar muitos dias no Mar Negro, salvo erro são 21 dias.

E tem havido "zunszuns" acerca disso.

MSantos disse...

Atitudes loucas da Rússia em demonstrar a uma força antagonista que se estão a aproximar das suas águas territoriais e do seu "quintal" próximo.

Logicamente se algum navio de guerra russo penetrasse no Golfo do México, seria uma atitude imperialista e provocatória ao se aproximar das águas territoriais de uma nação soberana como os EUA.

Cumpts
Manuel Santos

Manuel Pina disse...

Caro Milhazes, leio com atenção todos os comentários no seu blog e tenho que assinar por baixo de tudo o que estes portugueses comentam.
Na minha modesta opinião, quero frisar algo que ainda não se disse... a péssima situação económica que os países do Sul da europa pertencentes à UE vivem actualmente e que o Senhor que vive (actualemnte ) longe parece desconhecer.
Se a Ucrania ingressasse na UE a nossa situação pioraira mais (se isso ainda for possível) porque o pouco que ainda temos seria substiruido (ou ido buscar) à Ucrania, a preços e condições ainda mais baixaos. Penso mesmo, que o ingresso da Ucrania na CEE será o fim da mesma UE, ou pelo menos o princípio do fim do prejecto europeu que já está completamente moribundo.
Na realidade, temos que registar dois factos indesmentíveis, O governo da Ucrania é eligitimo. Mesmo após um golpe de estado, nomear o governo numa praça em que se reuiniram algumas milhares de pessoas... nem numa república das bananas!
Depois, este governo não pode acusar os outros de estarem a fazer aquilo que eles próprios fizeram. Se os revoltosos (actuais) têm o apoio da Rússia, els (anteriores) tiveram o apoio descarado do todo o ocidente!
Se há interferência estrangeira, também o houve anteriormente e quem NÃO DEIXOU os Ucranianos resolverem internamente a sua vida fomos nós os Ocidentais, os Russos somente estão a responder como parte interessada na sua autonomia.
Parece-me óbvio que os EUA e UE não gostaram nada de descobrir que afinal o monstro (Russo) não estava morto, como têm apregoado. A Rússia venceu em toda a linha e o Ocidente meteu o rabo entre as pernas e só para salvar a face, tenta manter vivo o assunto, que urá abandonar em breve, marimbando-se para a Ucrania e o seu povo!
A Rússia é um país de enorme respeito pelos estrangeiros e jornalistas, basta ver o exemplo do caro senhor José Milhazes. Acredita que nos EUA permitiriam que um comentarista internacional dissesse tão mal (não criticar)desse país?
A Rússia continua a permitir que o Senhor viva sossegado em Moscovo, como sabe isso nem em Portugal lhe permitiriam!
Cumprimentos