quarta-feira, maio 14, 2014

Rússia disposta a reconhecer eleições presidenciais na Ucrânia como mal menor



Serguei Narichkin, Presidente da Duma Estatal da Rússia, admitiu hoje, pela primeira vez, que o seu país poderá reconhecer as eleições presidenciais marcadas para 25 de Maio na Ucrânia.
Em declarações ao canal televisivo Rossia 24, ele considera-as de “legitimidade incompleta”, mas acrescenta que “entre dois males, é preciso escolher o menor”.
Realizadas em plena operação punitiva, as eleições têm legitimidade duvidosa, mas o actual poder de Kiev também não é legítimo e, se não se realizar a votação, apenas será ainda pior”, frisou.
Anteriormente, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, não reconhecia legitimidade a esse escrutínio, considerando Victor Ianukovitch o presidente legítimo do país vizinho. Mas, depois, ele alterou a sua posição: o reconhecimento da legitimidade das eleições presidenciais, mas só após alterações da Constituição com vista a fazer da Ucrânia um Estado federal.
Agora, Narichkin já admite a realização das reformas constitucionais depois do escrutínio. Porém, o Kremlin continua a insistir que o governo de Kiev tem de levar em conta os resultados dos referendos organizados pelos separatistas no Leste da Ucrânia.
Esta mudança de posição parece dever-se ao facto de Moscovo já ter conseguido realizar o seu programa máximo nesta crise: ocupou a Crimeia e a Ucrânia avança a passos largos para a federalização. Caso este processo continue a avançar, o Kremlin fica com fortes alavancas para travar a aproximação da Ucrânia em relação à União Europeia e à NATO, pois a qualquer momento pode desenterrar a carta do separatismo.
A mudança da posição russa parece também ser devida ao facto do Kremlin ter compreendido que a posterior deterioração da situação no país vizinho o isola cada vez mais no campo internacional e lhe cria problemas crescentes mesmo a nível interno. Por exemplo, nos últimos tempos, informa hoje o diário Nezavissimaia Gazeta, os preços dos produtos mais essenciais estão a sofrer aumentos significativos, o que poderá provocar ondas de contestação social.
Na Ucrânia, 21 pessoas lutam pelo cargo de Presidente do país, dando as sondagens a vitória a Piotr Porochenko, conhecido como o “oligarca doce” devido aos seus interesses na indústria dos chocolates. Este político já anunciou que está disposto a conversar com os federalistas do Leste e do Sul da Ucrânia e a fazer as reformas necessárias para evitar o desmembramento do país. Iúlia Timochenko vem a seguir, mas sem praticamente hipóteses algumas de competir com Porochenko.

34 comentários:

Pippo disse...

Mais uma vez, a Rússia continua a dar cartas na vertente diplomática, apostando no diálogo e no"meio termo", em lugar de seguir a via extremista que tem vindo a ser imposta por Washington e os seguidistas de Bruxelas e Kiev.

Note-se que desde o princípio desta crise que o objectivo da Rússia foi sempre o diálogo e o "meio termo" entre, posição essa que nunca foi desejada pelo outro lado da contenda.
Com a deposição do presidente eleito, a primeira reacção da Rússia foi naturalmente assegurar a LIBERTAÇÃO da Crimeia, objectivo esse conseguido praticamente sem efusão de sangue.

Mesmo reconhecendo o resultado das presidenciais, nota-se que a Rússia impõe como condição para o diálogo um óbvio federalismo, o que é desejado por um sector cada vez mais vasto da população do Leste, ou assim nos contam os jornalistas NO TERRENO. Portanto, quanto a esta questão, e da forma como as coisas estão, parece que a federalização da Ucrânia nem sequer é opção mas sim uma necessidade.

Se os revoltosos da Maidan e os seus "sponsors" tivessem tido a inteligência para negociar as coisas logo desde o início, ter-se-iam poupado muitos dissabores e muita efusão de sangue.
Mas se calhar não era esse o objectivo...

PortugueseMan disse...

...A mudança da posição russa parece também ser devida ao facto do Kremlin ter compreendido que a posterior deterioração da situação no país vizinho o isola cada vez mais no campo internacional e lhe cria problemas crescentes mesmo a nível interno...

Penso que não.

A Rússia vai querer ditar as suas condições. A Rússia detem a chave para a resolução do país.

Neste momento o principal problema da Ucrânia não é o seu desmembramento. É o facto de não terem dinheiro.

O FMI não vai conseguir resolver o problema. As medidas que vão impôr, vão tornar impossível a governação pelos os políticos que ganharem as eleições.

Portanto a Rússia vai querer algo do género.

1) Crimeia, estamos conversados.

2) Alguma forma de separação da restante Ucrânia, de modo a poder ajudar APENAS quem queremos.

O que vai oferecer em troca?

1) Mais alguns anos de subsídio de gás a TODA a Ucrânia. O que irá permitir implementar as reformas do FMI, já de si muito duras, mas haverá alguma estabilidade devido ao preço da energia.

Quanto à isolação do país, continuo a insistir, o South Stream está a ganhar velocidade devido ao problema ucraniano, e os franceses CONTINUAM a construir os porta-helicopteros.

Ou seja, isolar a Rússia, tem custos astronómicos e ninguém quer essa factura na sua porta.

A Rússia estabeleceu ligações demasiado importantes com o Ocidente e agora cortar essas ligações tem grande impacto em ambas as extremidades.

Ora, as principais economias ocidentais, não têm andado muito saudáveis nos últimos anos...

PortugueseMan disse...

Despite pressure, France won't cancel warship deal with Russia

France will press ahead with a 1.2 billion-euro ($1.66 billion) contract to sell Mistral helicopter carriers to Russia because cancelling the deal would do more damage to Paris than to Moscow...

France's move illustrates the limitations of European Union sanctions...

The United States has been pressing France, Germany and Britain to take a tougher line against Russia. For France, this would mean at least delaying the Mistral contract. For Britain, closing its mansions and bank vaults to magnates close to Russian President Vladimir Putin. For Germany, initiating gradual steps to reduce dependency on Russian gas...

...Former President Nicolas Sarkozy had hailed the signing of the Mistral contract as evidence the Cold War was over. It has created about 1,000 jobs in France...


http://www.reuters.com/article/2014/05/12/us-france-russia-mistral-idUSBREA4B08V20140512

Este artigo é interessante, que mostra a fragilidade Ocidental.

Como é que a Rússia, um país tão débil económicamente, e dependente da venda de energia, consegue colocar em xeque economias mais avançadas e que estão unidas?

Se calhar porque economia russa não está assim tão débil e a economia russa não está assim tão dependente da venda de energia.

A Rússia por meio de acções POLÍTICAS, está a conseguir impôr a sua vontade, contra grandes economias ocidentais.

Prefiro isto a bombardeamentos, confesso.

Unknown disse...

Em resumo: A Russia fica com alavancas para impedir a aproximação da Ucrania à NATO e à UE. Certo. MAs, porque é que a NATO e a UE têm mais direito a anexar a Ucrânia no seu raio de acção, do que a Rússia? O direito a influenciar a Ucrânia não deveria ser de ninguém, nem de uns, nem de outros. Em que baseia o autor do blogue esta sua condenação à acção Russa, apoiando sempre a acção Ocidental? Porque condena a primeira e não a segunda. Não serão as duas uma intromissão nos destinos de um país soberano?

A aproximação à UE e à NATO não é mais "popular" do que é a aproximação à Rússia. Estão as duas no mesmo plano e por isso é que o país está dividido. Uns de um lado e outros do outro. Quem tem razão? Todos e nenhum, como sempre. Porque é que haveria de ser o "bom" Ocidente a ter razão contra a "má" Rússia? Em que direito moral e universal se baseia essa bondade imanente do ocidente? Ainda acredita naquela história da carochina dos americanos que dizem sempre: "we are the good guys". Os Iraquianos que o digam!

Anónimo disse...

"Note-se que desde o princípio desta crise que o objectivo da Rússia foi sempre o diálogo e o "meio termo"...

Quo usque tandem abutere, Pippo, patientia nostra

Pippo disse...

Porquê, anónimo, falta-lhe a paciência para ouvir a verdade?
Pode sempre mudar de blog... :0)

PortugueseMan disse...

Rússia recusa prolongamento do uso da Estação Espacial

O vice-primeiro-ministro russo, Dmitri Rogozin, anunciou que, ao contrário do que os EUA propuseram, a Rússia não vai prolongar o uso da ISS depois de 2020...

...Em janeiro, a Nasa anunciou o prolongamento da ISS até 2024...

...Rogozin afirma que "o segmento russo [da ISS] pode existir de maneira independente, mas o segmento norte-americano não pode funcionar de forma independente do russo"...

...As naves russas Soyuz são, desde a paragem das naves espaciais norte-americanas, a única forma de levar e trazer pessoas e equipamentos da ISS...

...Rogozin anunciou também a suspensão, já a partir do próximo dia 1 de junho, do funcionamento das 11 estações norte-americanas do sistema de navegação GPS (Global Positioning System) em território russo. A decisão só será alterada caso os EUA se comprometam a implementar em território norte-americano uma infraestrutura do sistema de navegação por satélite russo GLONASS. Se esse compromisso não avançar, a decisão será definitiva a partir de 1 de setembro...

...A Rússia vai ainda proibir o uso dos seus motores RD-180 e NK-33 para foguetes de lançamento de satélites militares pelos EUA e a autorização só será dada se existirem garantias que a utilização tem fins civis...


http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3861194

Interessante retaliação por parte da Rússia devido às sanções do Ocidente.

Esta retaliação visa apenas os EUA, deixando a Europa de fora.

E nitidamente o principal objectivo é embaraçar a Administração americana, ao expôr a sua dependência em matérias relativas ao espaço. Os americanos não vão gostar de ser lembrados que neste momento os seus astronautas só chegam ao espaço à boleia dos russos e que a ISS, está completamente dependente da Rússia, ou seja a ISS não sobrevive sem a participação russa.

Também bastante embaraçoso é ver lançamentos de satélites militares americanos recorrendo a tecnologia russa.

Quanto ao GPS, são dois coelhos num só tiro. Ou os EUA dão o mesmo tratamento ao sistema russo em território americano, ou estes vão ficar prejudicados na Rússia.

Como penso que os EUA não querem ficar prejudicados na Rússia, com o sistema GPS, o GLONASS vai melhorar a sua posição em território americano.

Vamos a ver os próximos episódios, da guerra das "sanções"

Anónimo disse...

@Pippo,

Para a verdade há sempre paciência ... para o ler a si é que falta ...

Cumprimentos,

PortugueseMan disse...

para o ler a si é que falta ...

Se calhar o melhor que tem a fazer é não ler os posts do Pippo.

Eu no meu caso, leio sempre os posts dele e não preciso consumir a minha paciência para os ler.

Você é livre de ler o que quiser. Use e abuse dessa liberdade.

Astromac disse...

Como é que a Rússia, um país tão débil económicamente, e dependente da venda de energia, consegue colocar em xeque economias mais avançadas e que estão unidas?

Caro PortugueseMan, o facto da economia russa depender essencialmente da venda de matérias primas não quer dizer que não possa ter dinheiro. Pelo mesmo modo os angolanos, com uma economia semelhante, podem comprar aviões luxuosos para o seu ditador.

É de facto lastimoso que os países europeus permitam a Putin anexar países e regiões tal como Hitler fez. Tudo em nome do lucro privado. A Gazprom o os seus papagaios, ao contrário do discurso oficial, andam desesperadamente a correr a Europa e dizer quão prejudicial será para a economia que mais sanções sejam tomadas. É vergonhoso que a UE e as suas democracias se vergam deste modo aos interesses privados. Resta saber que mais irão permitir.

Pippo disse...

Caro anónimo,

Tem paciência para a verdade mas não tem para ler o que eu escrevo? Ora eis aí uma bela contradição!
Mas como disse, e o PM reforçou, pode sempre não ler o que eu escrevo, ou até pode optar por outros blogs, o DaUcrânia, por exemplo! ;0)


"É de facto lastimoso que os países europeus permitam a Putin anexar países e regiões tal como Hitler fez. Tudo em nome do lucro privado. (...) É vergonhoso que a UE e as suas democracias se vergUEm deste modo aos interesses privados. Resta saber que mais irão permitir."

Lastimável é haver quem continue primitivamente a comparar Putin a Hitler. Essas alusões bacocas não estarão já um bocado desacreditadas? Nos anos 90 era o Saddam Hussein que era o novo Adolfo; logo depois foi o Milosevic; em 2001 passou a ser o Bin Laden; recentemente são os israelitas que são os novos nazis apartheidistas; agora o Adolfo já incarnou na pessoa do Putin... que raio, o tipo do bigode à Charlot cabe em todas!
Também acho piada a esses medinhos todos em relação à Rússia. A França e o Reino Unido bombardeiam sem piedade a Líbia e ninguém chama aos governantes destes países de Hitler; a França também se quer meter na Síria e ninguém se chateia (haverá franceses na Síria, por acaso?!?); os EUA, em nome da luta contra o "terrorismo" e as "ADM", invade o Iraque, parte tudo, mata a torto e a direito, e no problem. Ah, pois é, é uma democracia e isso... que tem uma prisão tipo Guantánamo (a tal que o Obama ia encerrar... logo a seguir à sua eleição!) e que impõe "democracias" do estilo da afegã e da iraquiana... e ainda da kosovar, onde os governantes fazem tráfico de órgãos humanos retirados a sérvios e isso...

Portanto, quanto a vergonhas e "demo-cracias", estamos conversados.

Quanto aos "interesses privados"... meu caro Astromac, eu cá tenho a "ligeira" impressão que nem toda a gente partilha da sua opinião em relação à Rússia e ao que está a ocorrer na Ucrânia. Aliás, suspeito até que os que partilham a sua opinião estão em minoria.
E no que diz respeito à anexação da Crimeia, nem tenho dúvidas.

PortugueseMan disse...

Meu caro,

Caro PortugueseMan, o facto da economia russa depender essencialmente da venda de matérias primas não quer dizer que não possa ter dinheiro.

A economia russa já dependeu mais da venda de matérias primas.

E claro que tem dinheiro, as reservas que acumulou nos últimos anos são dignas de nota.

Pelo mesmo modo os angolanos, com uma economia semelhante, podem comprar aviões luxuosos para o seu ditador.

A Angola não possui a diversidade que a economia russa tem.

A Angola não produz aviões.

A Gazprom o os seus papagaios, ao contrário do discurso oficial, andam desesperadamente a correr a Europa e dizer quão prejudicial será para a economia que mais sanções sejam tomadas.

Eu nas várias notícias que vejo e de várias fontes, nunca vi referências que a Gazprom anda a correr por aí desesperadamente, vejo sempre notícias de que as sanções que estão a ser aplicadas estão a ser muito prejudiciais à Rússia, com poucas referências ao impacto de quem as impõe.

Ninguém obriga a Europa a avançar com o SOuth Stream, que ainda coloca a Europa mais dependente do gás russo, no entanto este tem sido o grande beneficiado da instabilidade ucraniana.

É vergonhoso que a UE e as suas democracias se vergam deste modo aos interesses privados.

Estabilidade energética não é interesse privado é do interesse da Europa. A Russia contribui para a segurança energética europeia.

N. Amorim disse...

mas um artigo interessante

http://www.parismatch.com/Actu/International/Revelations-on-the-Krasnoarmeysk-killing-564127

PortugueseMan disse...

Gazprom apresenta fatura choruda à Ucrânia

...A Gazprom, monopólio russo do gás, apresentou à Ucrânia uma conta de 1,2 mil milhões de euros, como pré-pagamento pelas entregas de junho.

Depois de ter feito um desconto significativo à Ucrânia durante a presidência de Yanukovich, a Rússia quase duplicou o preço para os 485 dólares por mil metros cúbicos, depois do movimento popular que ditou a queda do ex-presidente...


http://pt.euronews.com/2014/05/13/gazprom-apresenta-fatura-choruda-a-ucrania/

E vai ser por aqui que começam as negociações.

Já não estamos a falar do dinheiro em dívida, estamos a falar de PRE-PAGAMENTO.

Ou pagam, ou aceitam os termos da Rússia.

Quem vai passar o cheque?

A Ucrânia? A Europa? Os EUA?

Quem?

PortugueseMan disse...

Mais emprego gerado na Rússia e apesar de estar relacionado com a venda de matérias primas, a coisa vai mais além. emprego gerado à conta dos negócios entre a Alemanha e Rússia. Todos ganham.

RMA Pipeline Equipment establishes Russian facility

RMA Pipeline Equipment, a German pipeline technology manufacturer and service provider, has installed its largest facility to date in the Alabuga special economic zone in Russia’s Tatarstan Volga river republic...

...RMA Pipeline Equipment is a producer and supplier of structures and high-quality pipeline equipment as well as controlling and measurement technologies and special components for gas, water and heating supplies...


http://www.oilandgastechnology.net/pipeline-news/rma-pipeline-equipment-establishes-russian-facility

Astromac disse...

Caro Pippo, tenho pena que não perceba o paralelo do Anschluss nazi da Áustria com a invasão russa da Crimeia. Mas não tenho tempo nem paciência para lhe explicar. Quanto ao resto, escusa de estar a misturar Iraque, Síria e etc. pois nunca me ouviu dizer que concordava com o que aí aconteceu, e um mal não justifica outro! É incrível como os apoiantes de Putin têm sempre de recorrer ao Kosovo, Iraque, e outros para justificar os abusos russos.

Pippo disse...

O paralelismo entre o Anschluss com a Áustria e a LIBERTAÇÃO (que se foi invasão, foi a mais pacífica da História!) da Crimeia serve apenas e exclusivamente para associar Putin a Hitler, ou seja, é uma manobrazinha barata de propaganda.
Porque é que não a compara à reunificação alemã?!?

Quanto ao "resto", é precisamente o que justifica as acções da Rússia. Se uns podem, os outros também. Ou há regras para uns e a sua ausência para os outros?

PS - Quais são os abusos? Os milhares de mortos na Crimeia? As centenas que andam a ser chachinadas pelos militaes russos no Dombass?

Pippo disse...

Caro Astromac, depois de lhe responder (o comentário ainda não aparece publicado) lembrei-me de outros movimentos irredentistas que, "curiosamente" nunca são comparados à libertação da Crimeia (ao contrário do Anschluss de 1938:

- a reunificação italiana (origem do termo "irredentismo", que tirou territórios italianos aos austríacos;
- o irredentismo húngaro
- o irredentismo arménio no Nagorno-Karabakh (Alto-Karabakh). Este foi bem violento, mas parece que só os azeris e os turcos é que se chateiam.
- o irredentismo irlandês (ah pois é!). Aposto que estamos todos contra a unificação da Irlanda, não é?
- o irredentismo húngaro, nomeadamente o relativo à Transilvânia.
- o irredentismo alemão do séc. XIX, iniciado com o "Discurso à Nação Alemã" do Fichte, que unificou todos os Estados alemães excepto a Áustria, devido à vitória, pela via militar (sadowa) da concepção da "Pequena Alemanha" sobre a da "Grande Alemanha")

Poderíamos usar todos estes exemplos, o melhor de todos o italiano, para igualar a libertação da Crimeia pela Rússia, mas há quem insista em optar pelo irredentismo nazi, o que não é inocente, sendo uma clara opção de se associar o actual regime russo ao regime nazi.
É incorrecto, é falacioso e é desonesto, mas é assim que alguns o fazem. O que é pena.

Pippo disse...

Parece que o JM não publicou o meu comentário, mas não faz mal, ilustrei o que queria em relação à ridícula comparação Anschluss-Crimeia.


E agora falando de geopolítica, um excerto de um artigo que ilustra a posição da França face a esta crise:

"Pourquoi diable la France devrait-elle entrer en conflit avec la Russie, pays profondément francophile, partenaire économique fiable, rare client solvable de notre complexe militaro-industriel et garant de notre sécurité énergétique ? L’Allemagne a des prétentions dans la Mitteleuropa, les Anglo-saxons s’inquiètent pour la Mer Noire, la Pologne veut revenir à Odessa… soit… mais la France n’a comme intérêts en Mer Noire et en Europe centrale que ceux de la Russie, puisque la Russie est destinée à devenir notre premier allié en Europe."

http://www.realpolitik.tv/2014/05/republique-bananiere-dukraine-episode-12/


Extra: em Lvov, as comemorações da vitória sobre os nazis foram canceladas. Em compensação, o centro cultural russo da cidade foi reduzido a cinzas. Ena, tanta "svoboda"!

Anónimo disse...

De pippo; "Tem paciência para a verdade mas não tem para ler o que eu escrevo? Ora eis aí uma bela contradição!"

Meu caro nem Cristo respondeu ao que era a verdade ... mas já vi que como todos aqueles que há muito esgotaram o stock da decência isso não o impede de continuar.

Hoje no "Jornal I":

Deve ser mentira na ONU ... afinal de contas a Russia sempre apostou no diálogo e do "meio termo" .. se não fosse triste até me ria...


A comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, manifestou também preocupação pelos "sérios problemas" de perseguição e intimidação contra os tártaros na Crimeia

As Nações Unidas alertaram hoje para uma “deterioração alarmante” dos direitos humanos no leste da Ucrânia, onde o exército combate uma revolução lançada por separatistas pró-Rússia.

Num relatório hoje divulgado, a comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, manifestou também preocupação pelos "sérios problemas" de perseguição e intimidação contra os tártaros na Crimeia, território anexado pela Rússia em março, perante a indignação da comunidade internacional.

O relatório cataloga uma lista de "assassínios seletivos, tortura e espancamentos, raptos, intimidação e em alguns casos assédio sexual", crimes que diz estarem a ser perpetrados por grupos antigovernamentais no leste da Ucrânia.


Anónimo disse...

@De Pippo - Mas como disse, e o PM reforçou, pode sempre não ler o que eu escrevo, ou até pode optar por outros blogs, o DaUcrânia, por exemplo! ;0)

Mais uma vez, caro Pippo parece que lhe falta o mais leve sentido de democracia ... eu leio o que me apetecer e leio-o com muito prazer, porque o vejo enredar nas suas próprias mirificas construções e nada me dá mais prazer que uma bela distopia.

E já agora é Da Russia porque o autor do Blog aí vive ... não é Da Russia porque foi comprado (e o autor, ao contrário de muitos, jamais o seria) pelo dinheiro do Putin ...

Continue a escrever, eu continuarei a ler mas aceite a crítica porque se vive em Portugal saberá o que é uma democracia....

Pippo disse...

"Num relatório hoje divulgado, a comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, manifestou também preocupação pelos "sérios problemas" de perseguição e intimidação contra os tártaros na Crimeia, território anexado pela Rússia em março, perante a indignação da comunidade internacional.

O relatório cataloga uma lista de "assassínios seletivos, tortura e espancamentos, raptos, intimidação e em alguns casos assédio sexual", crimes que diz estarem a ser perpetrados por grupos antigovernamentais no leste da Ucrânia."

Então, em que é que ficamos, é na Crimeia ou no Leste da Ucrânia?

Que crimes são esses contra o tártaros? Estão especificados?

E quanto aos crimes "perpetrados por grupos antigovernamentais no leste da Ucrânia", são equiparados aos cometidos pelos grupos governamentais no leste da Ucrânia (Odessa, Karsnoarmeysk, etc.) ou a estes é só silêncio?

N. Amorim disse...

Caro anónimo, o relatório da ONU segue a narrativa de Kiev !?!

não posso acreditar :DDDDD

antónio m p disse...

Obrigado, Pippo, pela sua esclarecida e importante contribuição para afastar alguma areia que domina a atmosfera ocidental e se pega nos olhos.

amp

Astromac disse...

Parece que se está a dar uma viragem na guerra, com os trabalhadores das siderurgias e minas a patrulhar pacificamente as ruas e a escumalha a desaparecer:

http://www.nytimes.com/2014/05/16/world/europe/ukraine-workers-take-to-streets-to-calm-Mariupol.html

http://www.thewire.com/global/2014/05/ukraine-pushes-back-separatists-in-east/371036/

De acordo com a voz da maioria dos comentadores aqui, provavelmente são porcos capitalistas nazis orquestrados pelos zionistas.

Os russos trazidos de autocarro que andaram a provocar o caos e bater os unionistas à paulada devem estar a aguardar ordens do chefe para o que fazer a seguir.

Noutras notícias, um jornalista da RT atravessa uma zona de conflito, pisa uma mina sinalizadora e depois acusa o exército ucraniano de abrir fogo sobre ele:

http://rt.com/news/159468-ukraine-shoot-army-journalist/

(Link provavelmente será apagado rápidamente, mas sendo a RT, nunca se sabe...)

N. Amorim disse...

caro Astromac, voce tem de ler menos porcaria do NYT ou então perceber a mensagem que tentam passar.

Translation of Mariupol MetInvest/DPR agreement

Today, May 15, in Mariupol, a multilateral memorandum on peace and security was signed. The initiators of the signing of the document were the managers of the Ilyich and Azovstal iron and steel works, and the city staff of the people's guards [we assume this refers to the patrol groups].

The document was signed by the general directors of the Ilyich and Azoval iron and steel works, Yuri Zinchenko and Enver Tskitishvili, Mayor Yuri Khotlubey, and the acting head of the city department of internal affairs, Oleg Morgun, the representatives of veterans, women, trade unions in Mariupol, and the leader of the DPR supporters in Mariupol, Denis Kuzmenko.

To the memorandum were attached joint initiatives on public safety in Mariupol and suggestions to the Kiev authorities.

Here is the full text of the memorandum on peace and security in Mariupol:

1. The events of May 9 showed that armed confrontation will lead us on the road to death. This is the way to a political stalemate. These events must not be repeated. Our priority is peace in Mariupol, calm in the city, ensuring the stable operation of industrial and utility companies. Ideological and political differences are no cause for bloodshed. We are united by a desire for peace and our love for Mariupol.

2. The withdrawal of troops from Mariupol has given rise to a peace process. We support and will jointly develop initiatives to strengthen the work of the people's guards. We trust the city police and support their fight against looting, hooliganism and theft in the city.

3. We need to take new steps to ensure peace and order in Mariupol. We call for a complete rejection of violence and the disarmament of all armed groups that have emerged in the wake of the protests. The leaders of the DPR, the people's guards and police assure that they will renounce illegal activities (violence, the occupation of buildings and the use of weapons).

4. Simultaneously, we are jointly appealing to the Kiev authorities with a proposal to remove military checkpoints from roads leading to Mariupol. The city police must ensure peace at the entrances of the city with the support of the people's guard.

5. The city authorities assure the livelihoods of the citizens of Mariupol and the smooth functioning of municipal services and infrastructure.

6. Together, we shall make every effort to restore damaged or destroyed buildings and roads, and to clean the city.

7. We shall do all possible to immortalise the memory of those citizens of Mariupol killed in the recent armed clashes.

8. This memorandum is open for signatures from other members of the public and businesses in Mariupol. We are sending it to the authorities, international organisations working in Ukraine and the media.

Cancaseiro disse...

Há uma coisa que intriga a população do Leste da Ucrânia, à qual os militares enviados por Kiev para a região quando lhes colocam a questão não conseguem responder. Porque razão não se consegue ver qual é a patente deles nem a que batalhão pertencem? Será para fazerem merda à vontade e depois dizerem que foram as milícias populares "separatista"?

Astromac disse...

Caro N. Amorim: brilhante argumentação. Convenceu-me. Nunca mais vou ler a porcaria do NYT.

chukcha disse...

Vamos com música para animar as hostes, posteriormente seguirá o agit-prop mais convencional ;)

- Música para o Astromac e restantes anónimos, comprovarem que se calhar a resistência ao FASCISMO DOS BANdERAS tem algum motivo para existir !!!???

Música para os conservadores socialistas
Donbass/Levanta-te classe trabalhadora
http://www.youtube.com/watch?v=73XQdAY67fY

MAIS UMA PARA O sOCIALISTA DESILUDIDO...
http://www.youtube.com/watch?v=f94jvzv73Bg

e Para os ainda mais conservadores E socialistas... a partizanka
http://www.youtube.com/watch?v=etU6x22sEXE

Mas o movimento ANTI-FASCISTA DO DONBASS, É MUITO ABRANGENTE. Também há músicas Monarquicas (apologistas do Czar Niculau) Russas (via Zello Slovyansk) - o hino reaccionário (e assumidamente contra revolucionário). Esta é para os adeptos da RPDonbass assumidamente reaccionários e Monarquicos - se isto não é um levantamento Popular e abrangente o que será?!


E este é um dos pontos por onde a narrativa dos Maidanairos começa a ruir - há oposição, e muita, e os comunistas partilham barricadas com os monárquicos, porque a batalha é importante - PELA DIGNIDADE HUMANA, PELA DIGNIDADE DO DONBASS!

Seremos irmãos, ou foi feito em Moscovo, no GRU? Adensa-se a trama :) mas a Ucrânia não será fascista!
https://www.youtube.com/watch?v=2V7s03rZ46w

E especialmente para os céticos: em Kramatorsk, com 80 mil habitantes todos eles agentes do Putin, uma ode ao Babay (o cossaco barbudo de "estimação" da Primavera Russa, e já mais que uma vez referido pelo Pippo por aqui) e a todos os Cossacos, numa festa popular...tipo arraial... SERÁ QUE VIERAM TODOS DE AUTOCARROS DE MOSCOVO... os 80 mil de Kramatorsk que não esqueCem Odessa... ou começa a falhar algures a narrativa maidaniana...?

http://www.youtube.com/watch?v=K8cYGHIQ4cQ

"Defendem-nos do fascismo os nossos cossacos, pela LIBERDADE, PELO REFERENDO, OS NOSSOS COSSACOS!".

E mais uma vez, Levanta-te Donbass, seremos o novo Brest!

https://www.youtube.com/watch?v=jNoGW_sbKcY

(...)

Pippo disse...

Eheheh! Gostei da música pimba! Não está ainda ao nível da música tchalga búlgara (nem ao nível das suas intérpretes), mas está muito bom!

É fantástico como estes gajos do "GRU" andam aí de cara destapada e barbas ao léu, sujeitando-se à identificação popular.

O mesmo acontece com ALGUNS das milícias pró-Kiev, tal como aconteceu em Krasnoarmeysk, cenário do homicídio a sangue frio de dois homens desarmados, onde um alto dirigente do Pravi Sektor e um líder do "Batalhão Dombass" foram identificados pela Paris Match, resultando isto num artigo intitulado "Revelações sobre a matança de Krasnoarmeysk"

Já por duas vezes enviei a tradução do artigo, com fotos, ao JM (ontem e anteontem) mas ele ainda não publicou no blog.

Anónimo disse...

Há fruta do pé e há fruta do chão.

A Rússia já colheu a fruta do pé: a Crimeia.

Consoante o tempo e o desenrolar dos eventos, irá colher a fruta do chão a seu tempo e a seu modo, atraindo para a sua esfera de influência toda a Ucrânia ou a sua parte mais industrializada e rica, que tem costa.

O caroço, i.e. nada da Ucrânia ou uma Ucrânia agrícola que não terá acesso ao mar e herdará uma dívida astronómica, ficará para quem lá viver, porque nessa altura a UE e os EUA já terão dado de frosques.

Anónimo disse...

Há fruta do pé e há fruta do chão.

A Rússia já colheu a fruta do pé: a Crimeia.

Consoante o tempo e o desenrolar dos eventos, irá colher a fruta do chão a seu tempo e a seu modo, atraindo para a sua esfera de influência toda a Ucrânia ou a sua parte mais industrializada e rica, que tem costa.

O caroço, i.e. nada da Ucrânia ou uma Ucrânia agrícola que não terá acesso ao mar e herdará uma dívida astronómica, ficará para quem lá viver, porque nessa altura a UE e os EUA já terão dado de frosques.

Elio disse...

umas pinceladas interessantes...
http://atimes.com/atimes/Central_Asia/CEN-01-130514.html

Viriatus disse...

A nova constituição da República Popular de Donetsk (RPD) foi em certa medida decalcada da constituição da Crimeia, mas com uma clara nuance, que permite duas leituras, e que muito provavelmente é uma mão estendida à federalização ucraniana, se as autoridades de Kiev estiveram disposto a ver e reconhecer a nova realidade (o que até agora ainda não aconteceu). Eis o que diz o esboço constitucional, quando se refere ao “Estado federativo”: No caso de o Estado Federativo expressar o seu acordo (…) para acolher a República Popular de Donetsk no seu território, a República Federativa de Donetsk automaticamente se converte em parte do Estado Federativo”. A leitura pode ter dois destinatários, a Federação Russa e uma hipotética Federação Ucraniana. Talvez haja aqui lugar para uma solução política na Ucrânia, agora que têm lugar mesas redondas sobre a reorganização político-administrativa do país e se encontram soluções para o impasse que se vive no leste do país.