sexta-feira, maio 09, 2014

Ucrânia: forças em presença e respectivas tácticas


 Texto envido pelo leitor Pippo: 

"08/05/2014
Na sequência de mais uma auto-denominada "operação anti-terrorista" por parte do governo de Kiev, e não obstante as recentes tomadas de posição, potencialmente apaziguadoras, por parte da Rússia, a guerra civil ucraniana entrou numa fase mais aguda, pelo que importa fazer uma breve resenha das forças em confronto e das tácticas aparentemente adoptadas e que poderão vir a ser usadas pelos actores no terreno.
Forças em presença
Milícias ucranianas separatistas/federalistas
Ao contrário do propagandeado pelo governo de Kiev e do seu serviço de informações e segurança SBU (ex-KGB), não existem quaisquer provas da presença de operacionais das FA russas no Leste da Ucrânia: não foram detectados quaisquer soldados do GRU ou de outra qualquer formação militar russa no território, bem como material militar especificamente russo (as alegações de que haveria militares equipados, por exemplo, com AK-100 caem por terra por estas serem basicamente indistintas das AK-74M em uso pelas duas partes em conflito).

Em compensação, a presença de voluntários russos, nomeadamente cossacos, é atestada e bem conhecida, o que é um dado interessante, nomeadamente no que diz respeito ao voluntarismo destes últimos para defender o povo russo-ucraniano contra a agressão dos ucranianos do Oeste. É importante salientar este aspecto uma vez que os sectores nacionalistas ucranianos (os do Oeste, bem entendido) pretendem associar os cossacos ao seu próprio povo e cultura em regime de exclusividade. Ora, nada mais longe da realidade, como os factos o comprovam: não só as sotni de cossacos, totalmente paramilitarizadas e uniformizadas, pululam por todas as antigas fronteiras da Rússia (Terek, Abkhazia, etc.), como esses mesmos cossacos se oferecem como voluntários para combater contra outros eslavos, irmãos, é certo, mas que são apercebidos como inimigos da Rússia e dos russos.

                             
Voluntários cossacos no Leste da Ucrânia, frequentemente apresentados, ainda que incorrectamente, como sendo Spetsnaz russos.
Posto isto, e como já foi verificado no terreno por “n” jornalistas, a esmagadora maioria das milícias que se opõe ao exército e paramilitares de Kiev é constituída por autóctones das regiões afectadas, russos ou ucranianos étnicos, civis, ex-militares ou militares que desertaram do exército para se juntar ao seu povo, nomeadamente os para-quedistas da extinta 25ª Brigada Aerotransportada que se renderam em Kramatorsk, para além de polícias e elementos da extinta Berkut, ucranianos de gema que defenderam o deposto presidente Yanukovitch. Estas são as massas que têm assaltado os edifícios governamentais um pouco por todo o Leste da Ucrânia, que têm pegado em armas contra um regime ilegítimo e que foram incineradas, ao melhor estilo nacional-socialista, pela turba do Sector de Direita em Odessa que constitui a sturmabteilung do actual regime ucraniano.
Exército do regime de Kiev
O exército de Kiev (EK), herdeiro directo do exército soviético, possui um arsenal imensamente mais poderoso do que o das milícias, não só ao nível do equipamento pesado [carros de combate (essencialmente T-64 e T-80), VCI (BMP e BMD), VBTP (BTR e MT-LB) e artilharia, para além de helicópteros de transporte e de ataque] como, sobretudo, ao nível das comunicações e organização, beneficiando não só da presença de forças especiais, militares e policiais, mas também de informações e eventual treino fornecidas/prestadas pelo e no estrangeiro. A presença de uns 300 profissionais (contractors) estrangeiros da Academi (ex-XE, ex-Blackwater), apesar dos rumores, não está devidamente confirmada.

Coluna motorizada ucraniana equipada com BTR-80 nos arredores de Svyitohirsk, perto de Slaviansk, 26/04/2014.
Para além dos elementos do exército regular e de forças policiais de choque ou especiais, o EK foi aumentado com a incorporação da chamada Guarda Nacional, força constituída por voluntários, relativamente bem equipada, medianamente treinada e enquadrada, em que a presença de elementos fascistas ou neonazis é notória. Com os seus quadros constituídos essencialmente por habitantes do Oeste da Ucrânia, o seu entrosamento com a população do Leste, russófona, tem-se revelado difícil quando não mesmo abertamente hostil, a sua indisciplina e chauvinismo levando-os a cometer crimes de guerra que já têm sido reportados, nomeadamente o abate indiscriminado de civis.
Tácticas
Uma vez que as forças armadas de Kiev possuem um maior potencial humano e material, a sua postura será tendencialmente mais ofensiva, ao passo que a das milícias, muito pior equipadas e menos numerosas, será tendencialmente defensiva. Isto condicionará o tipo de tácticas a adoptar pelas partes.
Atirador especial das milícias ucranianas e grupo armado com arma de precisão, espingarda automática e RPG-18. As espingardas de precisão são a SVD Dragunov.
Da parte do EK, as operações preliminares serão de confinamento dos seus inimigos a um espaço restrito com o fim de lhe limitar os movimentos, as comunicações com outros centros de resistência, a entrada e a saída de pessoas e, numa fase mais tardia, ou a obtenção da rendição do inimigo ou o assalto e tomada de posições, passo a passo, dos centros urbanos.
A intercepção e/ou empastelamento das comunicações, a utilização dos meios aéreos para deslocar tropas de um ponto para o outro da zona de operações, a utilização intensiva de blindados ligeiros (todos eles equipados com metralhadoras 14,5mm, canhões de 30mm ou morteiros de 120mm, como os tais 2S9 que um certo comentador da nossa praça insistia não existirem!) permitirá a prossecução deste tipo de operações com alguma certeza de sucesso.
A progressão em meio urbano, contudo, poderá ser mais complicada pois os combates urbanos desenvolvem-se num ambiente 4D (largura, extensão, altura e profundidade), o controlo é muito mais difícil (os prédios cortam a visibilidade e as comunicações), há um estreitamento das zonas de progressão e a eventual existência de entulho dificulta a progressão (eis aqui a verdadeira justificação – e não o “poupar a vida de civis” - para que o EK não use todo o seu potencial, vide meios aéreos e artilharia, para reduzir a oposição: zonas urbanas semi-destruídas são mais fáceis de defender, e mais difíceis de conquistar, do que se estiverem intactas).
Em termos de combate urbano, doutrina soviética visava, em primeiro lugar, o controlo dos edifícios principais ou de grandes dimensões, bem como os principais eixos de comunicação das cidades. Penso que será este o objectivo do EK e portanto a progressão efectuar-se-á ao longo das principais avenidas das localidades, infantaria à frente e veículos de combate atrás a dar apoio.
Do lado das milícias ucranianas, a arma a adoptar será, na minha opinião, a resistência em meio urbano, com ocasionais emboscadas ou golpes de mão em zonas circundantes com vista, nomeadamente, a destruir equipamento (VCI ou VBTP), eliminar grupos isolados, destruir barreiras, semear a incerteza e redireccionar reservas de outra forma disponíveis para actuar noutros sectores.
A debilidade humana e material das milícias tem sido evidenciada não só pela presença, em postos de controlo/barreiras, de elementos desarmados ou meramente armados com bastões, mas também pelo reduzido número de acções ofensivas contra o EK, salientando-se, contudo, o sucesso das mesmas, mormente em emboscadas contra grupos motorizados e o abate de vários helicópteros de combate e a destruição ou dano provocado noutros, de transporte, o que é perfeitamente possível de ser feito não só com armas anti-carro e MANPAD como com os canhões de 30mm dos BMD-2 em poder das milícias.
No que diz respeito aos combates em ambiente urbano, poderá ser adoptado um dispositivo em três níveis de defesa, a primeira, com poucos elementos (que até poderão estar desarmados), de simples detecção e comunicação, que visará detectar e comunicar a entrada de forças atacantes, sua composição, efectivos e eixo de progressão; a segunda, de fixação, que poderá ter elementos equipados com armas ligeiras e algumas armas anti-carro, com vista a deter e provocar desgaste nas forças adversárias; e a terceira, de reacção, contra-ataque ou envolvência, móvel (motorizada ou mecanizada, servindo para este caso os VCI capturados à 25ª Aerotransportada), composta por elementos mais aguerridos, bem treinados e equipados (os tais voluntários, por exemplo), que reforçarão as posições ou, melhor ainda, contornarão o inimigo com vista a tomar-lhes o flanco ou a retaguarda e aniquila-lo. A utilização da dimensão “altura” (controlo de prédios) permitirá utilizar com mais eficácia as armas anti-carro (os veículos são menos blindados no topo e na traseira); a utilização de atiradores (snipers), crucial no combate urbano, permitirá controlar vastas áreas e deter por tempo indeterminado a progressão de uma coluna atacante a qual, pela sua natureza, tem de se expor. A emboscada será a táctica principal a adoptar, táctica essa a que o elemento urbano se presta excepcionalmente bem.
Do sucesso da resistência à agressão kievita dependerá o futuro da região. Por via da força dos números, os pratos da balança inclinam-se a favor do EK, mais numeroso e com maiores possibilidades de recrutamento, e sem dúvida melhor treinado e equipado. Contudo, como a História nos ensina, na guerrilha e nos combates urbanos, uma resistência eficaz pode quebrar a moral do mais forte adversário, sobretudo se este não estiver muito disposto a sofrer baixas pela conquista de uma terra à qual não é bem-vindo.
Caso se atinja o impasse no terreno, nomeadamente com a retirada das forças kievitas e sem mais efusão de sangue, poderão abrir-se as portas para a negociação política com vista à resolução do conflito pela via pacífica, salvaguardando-se porventura o meio-termo entre as posições de ambas as partes. 

A Ucrânia do Oeste seguirá assim o seu rumo, o mesmo acontecendo à Ucrânia do Leste, igualmente merecedora de decidir livremente o seu próprio destino."

20 comentários:

Tuga disse...

Visão muito realista Pippo.

Em Mariupol a coisa está a descambar, os soldados da Junta Kievita estão a abater civis.

Em Inglês isto tem um nome War Crimes.

http://www.youtube.com/watch?v=kno4MEp9sPY&feature=player_embedded

Mais argumentos para Putin.

Tuga disse...

Civil abatido por militares da Junta de Kiev.

Uma vergonha.

http://www.youtube.com/watch?v=mEJx-t6ahGg&feature=player_embedded

Seria bom que os media em Portugal e na Europa reportassem estes acontecimentos gravíssimos.

Pelos vistos, foram cerca de 20 os civis abatidos por sinipers e elementos da Guarda Nacional Ucraniana/Pravy Sektor em Mariupol.

Paulo disse...

É dificil fazer um comentário a esta análise, dada a soma de disparates ser tão significativa.

Trata-se de uma declaração politica em favor da Russia fascista, manipulando alguns dados e algumas referências para dar a impressão de que há ali alguma coisa que valha a pena ou tenha qualquer sentido.

O principal disparate, resulta do total desconhecimento do autor sobre as questões logísticas, que são da maior importância quando se tem na rua uma força militar com meios blindados.

Anónimo disse...

Excelente trabalho.

Muito esclarecedor.

Obrigado Pippo.

Deixo aqui este video mostrando a execução sumária por enforcamento de um cidadãos por dois elementos do Sector de Direita.

É um acto de uma brutaliadde extrema. Será que ninguém se irá interessar por averiguar esta crueldade para levar à justiça quem o praticou?


O video encontrasse no fim do artigo.


http://de.ukraine-human-rights.org/rechter-sektor-hangt-ukrainer/

ANTI-COWBOY disse...

Bom texto,bons esclarecimentos,boa informação feita com seriedade.Parabéns Pippo.

Pippo disse...

"O principal disparate, resulta do total desconhecimento do autor sobre as questões logísticas, que são da maior importância quando se tem na rua uma força militar com meios blindados."

Sim, Paulo, de facto demonstro um total desconhecimento e mais, ainda bem que a questão logística só surge no caso das forças blindadas, que se for no caso de forças motorizadas ela nem sequer existe! :0)

Paulo, sugiro-lhe que estude "um pouco mais" sobre aquilo de que pretende falar. A continuar assim só dá mostras da sua ignorância e arrogância pseudo-intelectual.

De volta às questões do dia, enquanto na Crimeia, cuja reunificação com a Rússia É UM FACTO CONSUMADO, se comemorou o Dia da Vitória, em Mariupol o exército de Kiev andou a matr civis desarmados:

At Café Arbat, where pools of blood were visible on the ground, one of the waitresses, Lena, said that three unarmed men had been shot by Ukrainian soldiers.

"I wasn't for one side or the other until today, but after seeing this, I have the feeling I want to take up a weapon myself and kill these people," she said.

"I'm 50 years old and they made me fall on the ground and hide from bullets, in my own cafe, in my own town."

http://www.theguardian.com/world/2014/may/09/ukraine-putin-crimea-victory-day-mariupol

Viriatus disse...

Caro Pippo, excelente trabalho, digno de figurar em qualquer órgão de comunicação. O que nos chega via imprensa ocidental é francamente medíocre e tendencioso. Apoiando a Junta de Kiev, o Ocidente tem lançado uma cortina de fumo sobre a verdade. Força! Precisamos de muitos artigos como este.

Paulo disse...

Qualquer pessoa que tenha o hábito de lidar com este tipo de temas, sabe que «meios blindados» não são apenas os carros de combate pesados, mas também as VBTP, viaturas blindadas de transporte de pessoal e as VCI, viaturas de combate de infantaria.

As forças do governo ucrâniano estão a utilizar meios das brigadas mecanizadas e não das duas brigadas blindadas.

Seria também interessante saber porque é que os meios da 25ª brigada aerotransportada aparecem agora na Guarda Nacional.

Fiquei com a impressão de que a 25ª tinha sido dissolvida, porque todos os seus constituintes se tinham rendido, fugido com medo, ou entregue às milicias fascistas russas ... :)


Enfim, uma contradição em cada parágrafo.

Pippo disse...

Paulo, "qualquer pessoa" que tenha o hábito de lidar com estes temas sabe que «meios blindados» não são apenas os carros de combate "pesados" (que actualmente, são-no todos, pois os light tanks e os medium tanks são coisas do passado), mas também as VBTP e as VCI.

Ora, se tivesse estado com atenção antes de escrever, teria lido que eu escrevi "equipamento pesado [carros de combate (essencialmente T-64 e T-80), VCI (BMP e BMD), VBTP (BTR e MT-LB)".

Referiu a extinção da 25ª Ora que giro, também eu!:

"nomeadamente os para-quedistas da extinta 25ª Brigada Aerotransportada"

Não sabe como é que os blindados da 25ª aparecem agora nas mãos dos fascistas ucranianos? Então é porque não sabe a constituição das brigadas ucranianas e a quantidade de veículos ao seu dispor. Talvez devesse aprender um pouco mais sobre o tema antes de tecer mais comentários ao artigo, não acha?

A continuar a contradizer-se assim, digamos que - em linguagem militar - só expõe o seu flanco! :0)

Pippo disse...

Mais notícias interessntes:

Segundo o Der Spiegel, há confirmação, por parte dos serviços secretos alemães (BND - Bundesnachrichtendienst), da presença de 400 mercenários da Academi (ex-Blackwhater) ao serviço das forças armadas de Kiev, mais concretamente, integrados na unidade especial da polícia "Sokol" que actuou nos arredores de Slavyansk.

Também se confirma a violação do espaço aéreo ucraniano por parte de aviões russos. Isso poderá estar ligado ao rumor de que um avião de transporte russo terá aterrado em Odessa... cidade onde também terão aterrado outros quatro aviões de transporte, desta vez vindos da Bulgária... onde os Estados Unidos têm duas bases aéreas à disposição (Graff Ignatiev e Bezmer) e um centro logístico (Aitos).

http://www.spiegel.de/politik/ausland/ukraine-krise-400-us-soeldner-von-academi-kaempfen-gegen-separatisten-a-968745.html

Pippo disse...

Continuam a desertar elementos das FA de Kiev, que também tentam, de forma violenta e obviamente ilegítima, travar o referendo através da violência gratuita.

http://rt.com/news/158264-dead-ukraine-krasnoarmeysk-shooting/

http://rt.com/news/157996-civilians-block-apc-mariupol/

Os representantes federalistas/secessionistas já decretaram que irão declarar todos e quaisquer militares, polícias ou milicianos/mercenários ao serviço de Kiev como "invasores" passíveis de serem "caçados" e mortos, tendo inclusive apelado aos familiares desses soldados para que obriguem as autoridades de Kiev a ordenar o seu regresso a casa.

PortugueseMan disse...

Caro Pippo,

Bom artigo.

Deve ter dado um bocado de trabalho.

Continue, que só enriquece este espaço.

chukcha disse...

Caro Pippo, excelente texto, você esmerou-se. Queria comenta-lo à algum tempo mas os eventos têm-se precipitado: a 9 de Maio o Massacre de Mariupol, em que blindados da guarda nacional entraram na cidade, dispararam indiscriminadamente para a população, mandaram um RPG contra a sede da polícia e retiraram (https://www.youtube.com/watch?v=M5MrAZqW2H8). Não sem antes terem perdido um blindado na operção e deixado ficar mais alguns, quando fugiram da sede da GN nesta cidade.

Depois o Referendo que correu impecávelmente bem, legitima a DPR e esta já pode "legalmente" (mais ou menos) constituir unidades regulares armadas.
Note-se que a única acção que a junta de Kiev conseguui empreender para perturbar o Referendo foi um ataque, com forças paramilitares numa pequena cidade: Chegaram em carrinhas, tomaram as mesas de voto, foram confrontados pela população, dispararam assassinado dois e ferindo mais um ou dois. Retiraram.

Agora consta que existem combates de snipers em torno do Slavyansk e alguns disparos de artilharia.

Mas dúvido é que as forças de Kiev tenham agora quaisquer condiçoes para desenvolver operações de um perfil diferente do que até agora, ou seja que passem do 1 estádio de operações, ataques mais ou menos cirurgicos porque o Donbass está completamente perdido e não me parece ser possivel recuperar seja o que for pela força- o referendum demonstrou isso! Note-se alías, que desde o início, e apesar da imensa mortandade que foram causando, as forças da Junta não recuperaram um único edificio ocupado.

Além do mais, tem que se preocupar com o resto do país, começar a segurar Kharkov e o Sul... se é que o Yats e o Turchinov não são agentes do Putin, que lhe oferecem regiões mesmo quando ele não as quer...

Pippo disse...

Thanks!

Este artigo foi escrito numa base de antecipação ao que poderia vir a ser um conflito mais sangrento entre as milícias ucranianas e o exército de Kiev, conflito esse que, para o efeito, e felizmente, não aconteceu... ainda!

Não há dúvida, e já o havia escrito aqui neste blog, que quem procura a guerra é o governo da Junta, que insiste em empregar no Leste forças alógenas a este região. Ao forçar o conflito força a intervenção da comunidade americano-internacional e permite-se apresentar a Rússia como o "bicho-papão" da arena internacional, contudo, cada acçõe encetada origina mortos civis, perde de soldados e material (um BMP aqui, uns Mil-24 ali...) e se os ganhos territoriais são mínimos ou nulos, as perdas políticas são cada vez mais graves.
Contraste-se isso com a actuação muito mais ordeira e muito menos assassina (com a excepção do assassinato daqueles dois políticos kievitas) das milícias locais.
Ora, como nos relatam os repórteres NO TERRENO, a confluência destes factores, mais do que a mera troca de palavras faz com que a população esteja cada vez menos alienada e mais disposta a lutar contra a Junta.

A sorte de Kiev é que controla muitos meios ("pesados", logísticos e afins :o) ), caso contrário, tivesse ela os mesmos meios dos seus opositores, e neste momento Odessa, Kharkov e Dnipropetrovsk já estariam nas mãos dos russófonos.

Pippo disse...

Olha, escrevi eu que as milícias poderiam encetar ataques/emboscadas às forças que cercam as suas posições e eis que:

http://www.theguardian.com/world/2014/may/13/six-ukrainian-soldiers-killed-donetsk-ambush

Receio bem que se Kiev não ceder, isto venha a tornar-se o pão-nosso de cada dia.
Em alternativa, Kiev poderá atacar em força, mas combates em meio urbano, como se sabe, são "outra loiça" e não sei se a Guarda Nacional, mesmo com mercenários a soldo, estará à altura do acontecimento.

Anónimo disse...

Para mim, que tenho este vício de ter nascido numa democracia, não consigo compreender muito bem como se pode considerar "legítimas" e "legais" eleições patrocinadas por soldados que estão de armas em punho junto as urnas...

Também não consigo perceber esta dicotomia Ucrânia de Leste Ucrânia de Oeste ... é que também Portugal viviu uma diferença semelhante entre o norte e o sul, e nem por isso os alentejanos pegaram em armas e decidiram formar a republica popular alentejana....

Pippo disse...

Resultado da emboscada de ontem:

https://www.youtube.com/watch?v=CAte_v7a0mE

A arma a bordo do que parece ser um GAZ-66 é um morteiro automático 2B9 Vasilek, de 82mm.


E aqui, imagens de operações anti-ocupação:

https://www.youtube.com/watch?v=1RZVeutHu6A

Pippo disse...

"Para mim, que tenho este vício de ter nascido numa democracia, não consigo compreender muito bem como se pode considerar "legítimas" e "legais" eleições patrocinadas por soldados que estão de armas em punho junto as urnas... "

Imagine agora eu, que também tenho este vício de ter nascido numa democracia, de aceitar que um governo saído de uma revolta violenta por parte da população seja aceita por parte da "comunidade internacional" como sendo legítimo.
É que ao menos, nesta votação, não houve coacção (os jornalistas NO TERRENO nada relatam acerca disso).

"Também não consigo perceber esta dicotomia Ucrânia de Leste Ucrânia de Oeste". Pois. Isso implica saber História.
A parte o pormenor legalista (mas sem alcance prático) do "Reino do Algarve", desde meados do séc. XIII que Portugal é um Estado unitário, sem distinções notórias ao nível populacional. Portiugal é, verdadeiramente, um dos primeiros, senão mesmo o primeiro Estado-Nação da Europa.
Já a Ucrânia ("fronteira"), como o nome indica, era apenas uma região fronteiriça, uma "marche" ("Marca"), como a Dinamarca (Dane Mark) ou a Estíria (Steyr Mark) ou a Marca de Espanha, etc.. O país e as suas fronteiras são totalmente artificiais e criadas por entidades exteriores, que dominaram a região (Lituânia-Polónia; Impéro Austro-Húngaro; Império Russo). A adiçao das regiões do Leste foi efectuada, se não me engano, em 1922, e a da Crimeia nos anos 50.
Como vê, qualquer comparação com Portugal é espúria, incorrecta.

Anónimo disse...

o chefe dos terroristas russos na regiãao de Donetsk, coronel da GRU Igor "Strelok" Girkin confirma nessa entrevista a presença de soldados russos entre as tropas terroristas: https://www.youtube.com/watch?v=P5pSiOxAoWk

Pippo disse...

Continua a guerra de desgaste.

De um lado, as forças de Kiev instalam bloqueios e bombardeiam cidades “sublevadas”; do outro, mortíferos golpes de mão, como este registado, no qual são colocados fora de combate VBTP [(e pelo menos um VCI (BMP ou BMD, como se verifica pelas lagartas)], camiões e umas duas dezenas de soldados.

http://www.theguardian.com/world/2014/may/22/ukrainian-troops-pro-russia-militants-attack-checkpoint

Entretanto, as milícias ao serviço de Kiev treinam e armam-se pelo que após as eleições presidenciais poderemos esperar um renovar da ofensiva. Resta saber o que acontecerá às milícias formadas pelo Pravi Sektor tendo por pano de fundo a espectável derrota dos partidos fascistas e neo-nazis nas eleições. Ficarão fiéis ao novo regime, seguirão a sua própria agenda, perderão qualidades? O que acontecerá?