quarta-feira, junho 04, 2014

Rússia procura saída para isolamento internacional


Numa entrevista a órgãos de informação franceses, Vladimir Putin voltou a jurar que “não houve, nem há qualquer unidade militar ou instrutores militares russos no sudeste da Ucrânia” e que “a Rússia não tem qualquer intenção de anexar ou desestabilizar o sudeste da Ucrânia”.
Acredito nas declarações do dirigente russo, mas é evidente que elas são apenas verdade em parte. Moscovo não tem tropas regulares no sudeste da Ucrânia, mas aí combatem centenas de homens, bem preparados e equipados, vindos do território da Rússia. E tendo em conta a forma rígida como são controladas as fronteiras russas, conclui-se que esses homens só passam porque as autoridades russas fazem de conta que não veem.
Além disso, algumas das armas empregues pelos separatistas, devido à sua sofisticação, só podem ter origem russa.
Quanto à afirmação seguinte, Moscovo não precisa de anexar, pois se os separatistas vencerem, as repúblicas populares de Donetzk e Lugansk não passarão de fantoches nas mãos do Kremlin, dirigidos por homens por ele nomeados.
E, em geral, depois da forma como Vladimir Putin “resolveu” o problema da Chechénia, matando milhares de pessoas em nome da integração territorial da Rússia, ele não tem o direito moral de criticar as actuais autoridades ucranianas, que apenas o imitam na forma de acabar com o separatismo no sudeste da Ucrânia, embora em dimensões muito mais reduzidas.
A guerra da Chechénia e a anexação da Crimeia retiram à Rússia qualquer direito de vir pregar sermões sobre “padrões duplos” na política externa do Ocidente, etc. Moscovo faz o que os outros fazem e o resto são explicações de mau pagador.
Claro que o Kremlin também já não pode pôr em causa a legitimidade da eleição de Porochenko, tanto mais depois de se ver a forma como foram organizados os referendos na Crimeia e no sudeste da Ucrânia sobre a independência destas regiões.
Com isto não quero dizer que estou de acordo com a forma como as autoridades de Kiev estão a gerir a situação no sudeste da Ucrânia. É necessário respeitar as “leis da guerra” e organizações internacionais como a ONU e a OSCE devem velar por isso. E todos os actos de barbárie a que assistimos, cometidos por ambas as partes, devem ser investigados internacionalmente e castigados.
Parece-me que a táctica das autoridades ucranianas é enfraquecer o mais possível as forças separatistas até à tomada de posse do novo Presidente da Ucrânia, Petro Porochenko, para que este tenha maior peso nas conversações com o Kremlin, pois a solução do problema passa obrigatoriamente por Moscovo, por muito que os dirigentes russos digam que nada têm a ver com isso.
Por enquanto, este plano parece ter êxito, mas é claro que a via militar não resolverá o problema. Mesmo que as forças armadas ucranianas obtenham uma vitória clara, será preciso que as autoridades civis de Kiev iniciem o diálogo com os habitantes do sudeste com vista a encontrarem uma plataforma de entendimento.
Nesta tarefa, a Ucrânia irá precisar tanto do apoio da UE e EUA, por um lado, como da Rússia, por outro. Sublinho: do apoio, e não da imposição de condições. UE, EUA e Rússia poderão ter interesses naquele país estratégico no centro da Europa, mas o povo ucraniano deverá ter o direito de escolher o seu futuro, sem limitações impostas pelo exterior, bem como não deve ser forçado a optar definitivamente pelo que quer que seja.

Quanto às relações entre ucranianos e russos, elas jamais serão as mesmas, aconteça o que acontecer. 

19 comentários:

N. Amorim disse...

Caro JM, o que acha deste artigo ?

http://www.telegraph.co.uk/sponsored/rbth/opinion/10860269/solzhenitsyn-predicted-future-ukraine.html

chukcha disse...

"Quanto às relações entre ucranianos e russos, elas jamais serão as mesmas, aconteça o que acontecer. "

Depende dos Ucrânianos... Olhe que a maior parte dos que eu conheço, estão à espera do "Putin dai prikaz"... E de dia para dia, são cada vez mais, que isto de ter bombas a cair-lhes em cima (ver Lugansk, há uns videos muito sugestivos, se bem que vão sendo apagados, no youtube) das cabeças, não ajuda muito à coesão territorial da Ucrânia..

E não foi Putin, nem a Rússia que criou este lodaçal... foram os Imbecis em MAIDAN (com a ajuda da malta do ostume), que usaram os Nacionalistas Galaicos como tropa de choque e elegeram os russófonos como judeus, responsáveis por todos os seus males.

Agora amanhem-se! Ou façam um limpeza étnica, se conseguirem... Slaviansk, Donetsk, Lugansk, Mariupol, e mesmo Odessa já disseram que não estavam dispostos a render-se. Os Russos não se rendem!

chukcha disse...

"mas o povo ucraniano deverá ter o direito de escolher o seu futuro, sem limitações impostas pelo exterior, bem como não deve ser forçado a optar definitivamente pelo que quer que seja."

Já passamos essa fase. O Ucrânia morreu, em Maidan.
O caixão foi pregado:
- No Massacre em Odessa.
- Em Mariupol
- Em Krasnoarmeisk, no referendo
- No cerco e bombardeamento em Slavyansk (escolas e hospitais)
- Em Donetsk
- No bomardeamento da "Avenida dos Alidos" de Lugansk (para paralelismo)...

Aalguém acha que vai haver coexistânicia pacifica entre as vítimas e os algozes?

A Ucrânia morreu. MAIDAN matou-a!

Anónimo disse...

É impressionante a forma como Joaé Milhazes trata a Rússia e os seus dirigentes.

PortugueseMan disse...

...Parece-me que a táctica das autoridades ucranianas é enfraquecer o mais possível as forças separatistas até à tomada de posse do novo Presidente da Ucrânia...

...Por enquanto, este plano parece ter êxito, mas é claro que a via militar não resolverá o problema...

Não sei exactamente porque tem essa percepção de que as autoridades ucranianas estão a ter algum tipo de exito, mas a mim o que me parece é exactamente o contrário, ou seja, não estão a conseguir obter nenhum tipo de resultado concreto e à medida que o tempo passa e mais civis sejam atingidos, mais problemática será a situação.

Sublinho: do apoio, e não da imposição de condições.

Mas é o que vai haver. Imposições e por parte da Rússia. A não ser que os EUA/UE estejam dispostos a subsidiar gás. Como até agora isso não aconteceu, DUVIDO que se cheguem à frente com o dinheiro.

A Rússia deu mais uma semana, para que não se corte o gás, o que significa que estão a decorrer negociações.

Até lá a situação só piora para as autoridades ucranianas.

Quanto ao título, a Rússia não me parece nada isolada. Pressão Ocidental? sem dúvida. Pressão na imprensa? correcto.

Mas... isto não tem sido o normal ao longo destes anos? E no entanto, com tantas críticas, o Ocidente tem andado ocupado em parcerias com os russos.

Por exemplo, como estava a Rússia, quando esta invadiu a "Geórgia"? Não estava isolada internacionalmente? não foi alvo de críticas?

No entanto após este episódio, a Rússia consegue encomendar porta-helicopteros (equipamente militar!!) a um país da NATO, um país europeu.

Portanto quando juntamos estas duas palavras "isolamento" e "Rússia", a coisa realmente não combina.

E já que falo dos porta-helicopteros:

France Moves to Defy Allies on Sale of Warship to Russia

France is preparing to train hundreds of Russian seamen to operate a powerful French-made warship this month, defying calls from the U.S. and other Western allies to keep the vessel out of the Kremlin's hands, say people familiar with the matter.

A group of 400 Russian sailors are scheduled to arrive on June 22 in the French Atlantic port of Saint-Nazaire to undergo months of instruction before some of them pilot the first of two Mistral-class carriers back to Russia in the fall, said one of these people...


http://online.wsj.com/articles/france-moves-to-defy-allies-on-sale-of-warship-to-russia-1401877000

Como pode ver, falarmos de isolamento é difícil. Tem custos? tem. Mas estamos a falar do que a Rússia considera a sua linha de segurança. Isso não tem preço e vão pagar a factura que tiverem que pagar.

Anónimo disse...

A Rússia está a fornecer armas sofisticadas? A fomentar e permitir a passagem de combatentes pela fronteira russa-ucraniana?Tudo com intenção de desestabilizar a Ucrânia?

Antes de assim sentenciar sumária e liminarmente o caso, não seria mais prudente o senhor José Milhazes não divergir inexplicavelmente da jurisprudência que fez no caso do massacre de Odessa?

Se acha plausível e merecedora de investigação a tese de que os facínoras de Odessa poderão ter vindo da Transnistria, por que razão não poderão os combatentes estrangeiros de Donetsk, Slavyansk e Lugansk ter vindo dessa mesma região?

Não seria melhor deixar a investigação dessa matéria e a resposta a essas questões para a comissão internacional de inquérito que o senhor José Milhazes reclama ser necessária para sentenciar os culpados pelo massacre de Odessa?

Anónimo disse...

A Rússia está a fornecer armas sofisticadas? A fomentar e permitir a passagem de combatentes pela fronteira russa-ucraniana?Tudo com intenção de desestabilizar a Ucrânia?

Antes de assim sentenciar sumária e liminarmente o caso, não seria mais prudente o senhor José Milhazes não divergir inexplicavelmente da jurisprudência que fez no caso do massacre de Odessa?

Se acha plausível e merecedora de investigação a tese de que os facínoras de Odessa poderão ter vindo da Transnistria, por que razão não poderão os combatentes estrangeiros de Donetsk, Slavyansk e Lugansk ter vindo dessa mesma região?

Não seria melhor deixar a investigação dessa matéria e a resposta a essas questões para a comissão internacional de inquérito que o senhor José Milhazes reclama ser necessária para sentenciar os culpados pelo massacre de Odessa?

Pippo disse...

"o povo ucraniano deverá ter o direito de escolher o seu futuro"

Gostei desta linda afirmação. :0)

Sou eu que sou distraído ou "o povo ucraniano" exerceu o seu direito a escolher o seu futuro, nomeadamente a se separar do resto do país, e o governo de Kiev, pela via armada, está a impedir o exercício desse mesmo direito?

Será que há ucranianos de primeira e ucranianos de segunda? Será que há ucranianos "legítimos" (que falam o "ucraniano", a língua do Oeste do país) e há ucranianos "ilegítimos", que falam russo?

Quem é que tem o direito de decidir o destino do país? Os habitantes de Lvov ou Ternopol têm o direito de decidir, a tiro, o futuro dos habitantes de Slavyansk ou de Lugansk?

Realmente a frase tem piada.

Pippo disse...

E agora, para a gargalhada geral:

"The days of empire and spheres of influence are over. Bigger nations must not be allowed to bully the small, or impose their will at the barrel of a gun or with masked men taking over buildings,"

AAAAAAAHAHAH!

Afeganistão
Iraque
Geórgia
Drones no Paquistão, Irão, Somália, Iémen, …
Síria
Ucrânia

6 intervenções externas em 13 anos. E o recurso às “dark tactics” acentuou-se com o Obama (uso de drones/UVA, intervenções armadas no Paquistão, acções da CIA na Ucrânia, …)

Hipócrita!

http://www.theguardian.com/world/2014/jun/04/obama-russia-dark-tactics-ukraine

PortugueseMan disse...

Por falar em isolamento...

Russia Gets First World Bank Investment Since Crisis

The World Bank approved an investment in Russia for the first time since President Vladimir Putin annexed Crimea, overriding Canada’s opposition and a lack of support from the U.S. and parts of Europe...

...The U.S. and three European constituencies at the board abstained...


http://www.bloomberg.com/news/2014-06-03/world-bank-approves-first-russia-investment-since-crisis.html

chukcha disse...

"Claro que o Kremlin também já não pode pôr em causa a legitimidade da eleição de Porochenko,"

Nem nunca pôs. Essa mania de reconhecer algumas eleições e não reconhecer outras é uma coisa exclusivamente Ocidental, que acham que na Síria e na Venezuela está tudo mal e no Barein e Arabia Saudita é uma maravilha. Russos e Chineses por norma comem pragmaticamente o que os povos decidem.

Agora pode é reconhecer as eleições e o referendo ao mesmo tempo, como qualquer pessoa de bem.

"Mas... isto não tem sido o normal ao longo destes anos? E no entanto, com tantas críticas, o Ocidente tem andado ocupado em parcerias com os russos."

Quanto ao isolamento, o exemplo do PM é paradigmático. Em 2008 (imprensa, ocidente) Putin era Hitler porque anexou a Georgia, cometeu genocidio e quase iniciou a 3ª Guerra Mundial.

Passado 1 ano, conclusão: Sakhashville é um imbecil, Rússia fez o que devia.

Só que já nem estamos em 2008. As relações com a China melhoraram, rebentou a crise Ocidental (EU e EUA em recessão) e agora os Russos sabem que a Europa depende mais deles que eles da Europa (até porque está disposta a menos sacríficios patrióticos por causa da Ucrânia):
- Kaliningrado, ZE, representa, para dezenas de empresas alemãs, a diferença entre o verde e o vermelho). E o que diferencia a Renault em expansão da falida PSA é a penetração no Mercado Russo.
-E isto para não falar da Energia, que a Rússia vende a bom preço.

e é por isto, que visa e mastercard avançam com 3bi$ (que é a dívida da Ucrânia) para operar na Rússia. È a diferença entre o Verde, e o Vermelho!

chukcha disse...

"...Parece-me que a táctica das autoridades ucranianas é enfraquecer o mais possível as forças separatistas até à tomada de posse do novo Presidente da Ucrânia...
...Por enquanto, este plano parece ter êxito, mas é claro que a via militar não resolverá o problema..."

Hehe!

Exitos objectivos da Junta:
- Seguraram o aeroporto de Donetsk, destruindo-o.
- Apertam o Cerco sobre Slavyansk.
- Situação fragil em Mariupol.
- Umas centenas (milhares) de mortos, muitos entre a população civil!

Fracssos objectivos da Junta:
- Perderam todo o donbass (excepto pequenas vilas)
- Ainda há fronteiras?
- Umas centenas (milhares) de mortos, muitos entre a população civil!

Quanto a Slavyansk:
Os Nazis demorarm 4 meses a subjugar Slavyansk. Por este andar a Guarda Nazional vai demorar 4 anos!

antónio m p disse...

«Sublinho: do apoio, e não da imposição de condições».
Não sublinhe, risque, José Milhazes, porque essa generosidade não existe em política - sobretudo em política internacional.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

António, então não existe para ninguém, excepto para os que têm força.

PortugueseMan disse...

Rebeldes pró-russos controlam 200 quilómetros da fronteira com Ucrânia

Os insurgentes pró-russos garantiram esta sexta-feira controlar entre 15 a 200 quilómetros da fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, depois da guarda de fronteira ucraniana abandonar nas últimas 48 horas, pelo menos, quatro postos na região rebelde de Lugansk...


http://www.tvi24.iol.pt/503/internacional/ucrania-russia-fronteira-rebeldes-tvi24/1558935-4073.html

Caro JM,

Situações destas, mostram a fragilidade do governo ucraniano. Os separatistas tentam obter o máximo que puderem, e com isto terem uma posição negocial o mais forte possível.

São 2 tipos de negociações que o governo enfrenta. De um lado os russos, do outro, os separatistas.

Os russos têm uma fortíssima posição negocial, a Ucrânia necessita de gás e a preços reduzidos.

Os separatistas, estão a conseguir fazer valer a sua posição, o que não permite ao governo resolver pelo o menos este problema. Para resolver este problema à força, bate com a negociação com os russos.

Já não estou a falar da situação económica que simplesmente derreteu. Não estou a ver como a Ucrânia saia disto, sem aceitar as imposições russas.

Pippo disse...

Vladimir Putin responde a perguntas de jornalistas franceses.

https://www.youtube.com/watch?v=9gvbS09gN80

nuno_inzaghi disse...

" ...e em geral, depois da forma como Vladimir Putin resolveu o problema da chechenia, matando milhares de pessoas em nome da integracao territorial da russia" caro JM bem sei que e um anti russo e odeia tudo o que diz respeito a russia mas vir defender terroristas tambem ja e demais e ja nao e a primeira vez que o faz so porque estes se opoem a russia! quanto ao " exterminio" de chechenos... no censo de 1989 haviam na chechenia 66% de chechenos 24.8% de russos em 2010 sao 95.3% de chechenos e 1.9% de russos! parece que putin nao os conseguiu exterminar pois cada vez sao mais e ja agora vou publicar um texto que vem na wikipedia Separatist regime policy of proscription of non-Chechens (mostly Russians) from Chechnya in the 1990s. Before the First Chechen War tens of thousands of people of non-Chechen ethnicity had left the republic, and thousands of other people were turned into slaves or killed. Since 1996 the violence against non-Chechens has continued and almost all of them have left Chechnya up to this moment.[177][178][179][180] The tactics used to implement this policy of ethnic cleansing include the ignoring of widespread acts of lawlessness committed against non-Chechens (especially acts of violence committed against Russians) and they are accompanied by the distribution of nationalistic propaganda.[181]

Unknown disse...

China e Russia do oleodutostão
http://www.tomdispatch.com/blog/175845/tomgam%3A_pepe_escobar%2C_who%27s_pivoting_where_in_eura

Unknown disse...

China e Russia do oleodutostão
http://www.tomdispatch.com/blog/175845/tomgam%3A_pepe_escobar%2C_who%27s_pivoting_where_in_eura