sexta-feira, junho 06, 2014

Tarefas hérculas de Porochenko e Rússia


Moscovo ainda não reconheceu oficialmente a eleição de Petro Porochenko para o cargo de Presidente da Ucrânia, mas enviou dois sinais positivos de que poderá estar disposto a fazê-lo. O primeiro foi a presença do embaixador russo em Kiev, Mikhail Zurabov, na cerimónia de tomada de posse de Porochenko e segundo foi o aperto de mão e o encontro breve entre os presidentes ucraniano e russo na Normandia.
No entanto, ainda deverá ser percorrido um difícil percurso para normalizar as relações entre os dois países.
Porochenko mostrou-se disposto a dialogar com todas as forças com vista a encontrar forma de pôr fim ao conflito no sudeste da Ucrânia e a aumentar a autonomia das regiões do país; prometeu amnistiar os separatistas que não tenham cometido crimes de sangue.
Porém, estes separatistas respondem que só iniciarão o diálogo depois de reconhecida a independência das regiões de Lugansk e Donetzk por Kiev, bem como após a retirada de todas as tropas ucranianas da região.
É visível a incompatibilidade das propostas dos dois lados, mas o diálogo deverá iniciar-se logo após a tomada de posse de Porocenko, que terá lugar no dia 7 de junho.
O êxito das conversações irá depender muito da atitude de Moscovo que, por muito que negue, está profundamente envolvida no conflito. Até pode ser verdade a jura de Vladimir Putin de que no território da Ucrânia não há tropas russas, mas foram já dezenas os cidadãos russos que atravessaram a fronteira para combaterem ao lado dos separatistas e “regressaram” a casa em caixões chumbados. Além disso, também não é segredo para ninguém de onde é que os separatistas recebem armas para realizar as suas operações.
Se as autoridades russas estiverem realmente interessadas em resolver o problema, poderão dar um importante e decisivo contributo.
Claro que a missão de Porochenko será muito difícil: restabelecer a unidade da Ucrânia (não incluo aqui a Crimeia, porque esse problema vai demorar muitos anos a resolver), bem como evitar o colapso económico do país. E aqui, se a UE e os EUA não organizarem um programa de apoio de emergência, o vizinho da Rússia continuará vulnerável aos caprichos do Kremlin.
Se o Ocidente quiser vencer o Kremlin na luta pela Ucrânia, basta fazer dela um país próspero, democrático e aberto. Isso será a melhor forma de fazer mexer também a sociedade civil na Rússia, porque Vladimir Putin e a sua corte não souberam conseguir isso, não obstante a chuva de dólares e euros vinda do petróleo e gás.

No que respeita a sanções da parte da UE e dos EUA, a situação, vista a partir de Moscovo, é bastante estranha. As declarações são contraditórias, o que mostra que nem a UE, nem os EUA sabem bem o que fazer. As indecisões com os porta-helicópteros franceses Mistral são disso uma prova clara. 

13 comentários:

chukcha disse...

Boa análise, admitindo que Porco/cenco (piada russa) consegue levar a sua avante e não sofre um Maidan 3.0. Afinal aquela porra lá na praça não era contra os oligarcas? E o democrata Liashko que acbou de expulsar jornalitas russos, porque estavam a "espiar o parlamento", fica-se? (note-se o expiar o parlamento, 8% nas eleições presidenciais, tortura pessoas, mata pessoas assumidamente e com orgulho, mas não entra na quota dos fascistas para os jornalistas ocidentais????


Eu é mais tremoços e realidade. A reconciliação é impossivel. Ou a Junta massacra Slavyansk, como Putin não fez em Grozni, ou então perde a guerra.

Hoje foi 1 dos 3 AN-30 de kiev...

Assim de repente (pode faltar algum), mas só ABATIDOS em Slovyansk:
25.04 - minus МI-8
02.05 - minus 2 МI-24
05.05 - minus МI-24
29.05 - minus МI-8
04.06 - minus МI-24
06.06 - minus АN-30

E negociar? Se sim, kaput porcocenco (patriotas galaicos)), se nao kaput exercito, donbass, kharkov... odessa...

Ainda vai ser bonita a festa, pá, mas eu não me fiaria muito no porcocenco!... acredito que não terá grande reinado. E acho que vai implodir pela "verdadeira ucrânia", se tentar negociar com os "terroristas" (nomeclatura maidaneira)...

Pippo disse...

"já dezenas os cidadãos russos que atravessaram a fronteira para combaterem ao lado dos separatistas e “regressaram” a casa em caixões chumbados"

E muitas mais dezenas de ucranianos do Oeste, que são considerados estrangeiros no Donetsk, foram para esta região matar e impor a sua autoridade e voltaram para casa de pés para a frente.

Será que estes têm legitimidade e aqueles não a têm?


"Se as autoridades russas estiverem realmente interessadas em resolver o problema, poderão dar um importante e decisivo contributo."

E que contributo seria esse, JM?


"Claro que a missão de Porochenko será muito difícil: restabelecer a unidade da Ucrânia"

E porque é que há de restabelecer a "unidade da Ucrânia"? E porque não estabelecer uma Federação? Porque é que a Ucrânia tem de ser una, ao contrário da vontade de uma parte importante da população? Pode explicar-nos isso, JM?

PortugueseMan disse...

Além disso, também não é segredo para ninguém de onde é que os separatistas recebem armas para realizar as suas operações.

Você sugere, a Rússia como fornecedora de armas, mas isso está incorrecto meu caro.

Vêm armas de lá? sim, tal como russos que atravessam a fronteira, não vêm de mão a abanar.

Mas com a quantidade de material disponível para os rebeldes, na sua àrea de influência, muito do armamento é obtido localmente.

As regiões separatistas têm a sua própria dinâmica.

PortugueseMan disse...

...Se as autoridades russas estiverem realmente interessadas em resolver o problema, poderão dar um importante e decisivo contributo...

Em troca do quê?

...E aqui, se a UE e os EUA não organizarem um programa de apoio de emergência, o vizinho da Rússia continuará vulnerável aos caprichos do Kremlin...

Não vai ser possível. Nenhum dos dois vai arranjar as quantidades de dinheiro que a Ucrânia vai precisar nos próximos anos.

...Se o Ocidente quiser vencer o Kremlin na luta pela Ucrânia, basta fazer dela um país próspero, democrático e aberto...

Sem dinheiro é o mesmo que tentar fazer uma omolete sem ovos.

Isto para acontecer, só num Universo paralelo.

Ou seja se o Ocidente quisesse tirar a Ucrânia das garras do Kremlin, só tinha que subsidiar o gás russo, injectar o dinheiro que fôr preciso durante os anos que fôr preciso, até serem "independentes". E deveriam ter começado por aí, em vez de oferecerem uma associação à UE, sabendo perfeitamente da dependência que a Ucrãnia tinha para com a Rússia.

Ou seja, está tudo nas mãos da Rússia.

Anónimo disse...

Caro José Milhazes,

O malandro do Putin não só enviou combatentes para a Ucrânia, mas também arregimentou, de Vladivostok a Kaliningrado, um exército de babooshkas e civis para servirem de carpideiras e familiares fajutos nos funerais das vítimas do combate.

É vê-las neste vídeo e em outros que por aí andam no youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=oIuMsklqjJI

A perfídia e intrujice do homem não conhece limites.

É bem feito que mais ninguém fale com ele para além do Hollande, da Merkel, do Cameron, do Porochenko, dos governantes da Bulgária que recusaram ceder às pressões da UE para que abandonassem o Southstream, do presidente da China, Índia, Brasil e, por telefone ou durante uns punitivos 15 minutos na Normandia, do Obama.

Um isolamento mais que merecido.

chukcha disse...

"...Se o Ocidente quiser vencer o Kremlin na luta pela Ucrânia, basta fazer dela um país próspero, democrático e aberto..."

Sim, esta é sem dúvida a melhor tese de todas. O Ocidente vai fazer da Ucrânia o que não fez aos europeus "Hungrius" "Bulgrios" "Romenios", nem sequer aos pequenos (e baratos) Balticos" que ainda por cima tem uma ligção histórica à Escandinavia...

Toda a gente quer viver em Paris, mas dos países de Leste que entraram na UE, apenas em Praga se vive quase como em Paris (e é pela proximidade à Alemanha), mas mesmo aí a Silésia e a própria Morávia estão longe da civilizada e "próspera" europa!

E diga-se de passagem, entre Rostov e a parvónica Bulgara, eu, Donbassiano, optaria pela 1ª... E eles também!

MSantos disse...

"...Se o Ocidente quiser vencer o Kremlin na luta pela Ucrânia, basta fazer dela um país próspero, democrático e aberto..."

Como será possível ainda acreditar honestamente nisto?

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

A Bulgária já cedeu às pressões da UE (que é como quem diz, Washington) e já declarou que vai abandonar o Southstream.

Ou seja a UE em vez de contornar um foco de tensão e tornar-se independente desse mesmo foco para receber energia de forma fiável e ininterrupta, deixa-se sequestrar contra os seus próprios interesses por estes países cheios de ódio, munidos de um nacionalismo fanático e doentio e que apenas desejam tornar-se "americanos" apenas para se vingarem da Rússia.

Cumpts
Manuel Santos

Pippo disse...

Bom, se o Southstream foi bloqueado, então só funcionará o Nordstream e os gasodutos que circulam pela Ucrânia. A Rússia poderá impor à vontade o seu preço e ainda acrescentar-lhe uma "taxa" pelas sanções que lhe estão a ser aplicadas, e se a "Europa" não quiser, poderá ir comprar gás de xisto aos EUA.

E entretanto, a Rússia vai negociando com a China, ou seja, a quota passará de 30% para um valor mais substancial.

Mas o que interessa é que a "liberdade" da Ucrânia seja salvaguardada.

chukcha disse...

Quanto aos gasodutos, não sei bem em que estádio de construção é que estão. Mas provavelmente as obras estarão adjudicadas, maquinas no terreno, materiais encomendados etc.Estas coisas de parar obras em construção funcionam em Portugal, mas em países com contas públicas em ordem nem por isso. A Sérvia já disse que avança, e a Bulgaria avançará também, nem que seja até um porto no mar negro...

Quanto ao resto, se Novarassia for uma realidade, o Southstream não é preciso para nada. Se não for, é bem os Europeus começarem a pensar em Energia Nuclear ou comprar florestas na Sibéria (O presidente Putin tem umas reflexões sobre isto). Ou então em construir reservtórios suficientes para a criação de buffers de GN...

PortugueseMan disse...

Caros,

Acho prematuro falar de abandono ou bloqueio do South Stream.

Este é um projecto que muitos países europeus acham essencial.

É um jogo de forças políticas, onde a questão "Ucrânia" está muito quente.

Se a Rússia tem interesse em vender, mais interesse têm os países clientes de terem acesso via pipeline a um fornecedor como a Rússia.

Eu nem acredito que os trabalhos sejam interrompidos, ou seja do lado da Rússia a coisa de certeza que vai avançar.

Foi a mesma coisa com o Nord Stream.

Os Polacos foram dos que mais fizeram barulho e muito se tentou para acabar o projecto.

Resultado? hoje a Alemanha tem energia em abundância, e um pipeline DEDICADO.

O Nord Stream é do que mais contribui para a segurança energética europeia.

O South Stream vai fazer o mesmo.

Claro que vai incomodar muita gente, claro que os EUA não querem que a Europa se aproxime demasiado da Rússia, mas a aproximação existe.

PortugueseMan disse...

Caro Chucka,

Relativamente aos gasodutos, eu costumo falar deles de vez em quando.

espreite http://portugueseman.blogspot.pt/ e veja os posts acerca dos gasodutos.

Pippo disse...

A prophecy of pain: Solzhenitsyn foretells the future for Ukraine

http://www.telegraph.co.uk/sponsored/rbth/opinion/10860269/solzhenitsyn-predicted-future-ukraine.html?WT.mc_id=605595&source=Polar#!/