terça-feira, julho 01, 2014

Política externa russa à deriva em águas agitadas


Esta exposição do texto de Vladimir Putin foi retirada da página da Voz da Rússia em português. Os meus comentários vêm depois. 

"O líder russo foi, esta terça-feira, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros a fim de participar numa reunião com embaixadores e alto diplomatas russos em que formulou as principais tarefas da diplomacia nacional. Estas tarefas não se alteraram muito: a Rússia continua atuando a favor da consolidação da paz, manutenção da estabilidade e da segurança regional e global.
Todavia, torna-se cada vez mais difícil realizar essas metas, frisou Putin:
No mapa político do mundo vão surgindo regiões com uma instabilidade crónica. A falta de segurança se faz sentir na Europa, no Oriente Médio e Central, no Sul da Ásia, na região asiática do Pacífico e em África. Se vão cristalizando desequilíbrios sistémicos na economia mundial, na esfera de finanças e no comércio. Prossegue a erosão de valores morais e espirituais tradicionais.
Já quase não há dúvidas de que o modelo unipolar sofreu um fiasco. Os povos e países inteiros se declaram dispostos a definir e escolher seu destino, conservar a sua identidade civilizacional e cultural, o que entra em contradição com tentativas de alguns países de continuar dominando nas esferas militar, económica, financeira e ideológica”.
A Rússia, contudo, se pronuncia pelo primado do direito internacional com a manutenção do papel dirigente da ONU. A lei internacional deve-se tornar uma norma para todos sem excepção e não ser utilizada, de forma arbitrária, para servir os interesses privilegiados de alguns países ou grupos de Estados. O mais importante é que as normas internacionais devem ser interpretadas sob um prisma único não distorcido.
Não se pode interpretar hoje a legislação internacional de uma maneira e amanhã – de outra, a favor de conjunturas políticas”, anunciou Vladimir Putin. A situação na Ucrânia, no parecer do presidente, é um resultado de tal política irresponsável:
Temos de entender claramente que os acontecimentos provocados na Ucrânia se tornaram um eco potente da famigerada política de dissuasão. As suas raízes remontam aos séculos anteriores. Infelizmente, tal política não deixou de se aplicar após o fim da guerra fria.
Na Ucrânia continuam sendo ameaçados nossos compatriotas, pessoas de origem russa e representantes de outras nações e etnias, sua língua, sua história e sua cultura.
Que reação era esperada de nós perante tal cenário? Nós não tínhamos direito de deixar os habitantes da Crimeia e de Sevastopol à sorte de extremistas e ultranacionalistas belicosos. Nem podíamos admitir que fosse limitado o acesso da Rússia ao espaço do mar Negro. Que na terra da Crimeia e de Sevastopol entrassem as tropas da OTAN e fosse perturbado o equilíbrio das forças na região do mar Negro. Em resumo, se não tivéssemos reagido aos desafios externos, teria sido anulado tudo pelo qual a Rússia lutou desde os tempos do Imperador Pedro, o Grande.
Quero que todos compreendam uma coisa: o nosso país irá, de agora em diante, defender de forma enérgica os direitos dos compatriotas russos que se encontram fora da Rússia, utilizando para tal todo um arsenal de meios disponíveis: desde as medidas econômicas e políticas até ao direito à autodefesa, previsto pela legislação internacional. Quero salientar que os eventos ocorridos na Ucrânia são um ponto culminante das tendências negativas surgidas na arena mundial. Elas se acumularam durante décadas. E nós tínhamos advertido disso. Lamentamos que as nossas previsões se tenham tornado realidade”.
Por trás de discursos patéticos sobre uma livre opção e o futuro da Europa se escondem tentativas de fazer da Ucrânia um país dependente com todas as consequências políticas, económicas e sociais daí decorrentes. “É doloroso e lastimável constatar que por jogos políticos têm de pagar milhões de pessoas simples”, acentuou o líder russo.
Neste contexto, a Europa deverá criar uma rede de segurança para evitar a repetição de tragédias semelhantes à ucraniana, iraquiana, síria ou líbia. O chefe de Estado russo fez lembrar que mesmo nos países da Europa do Leste e do Ocidente em que, à primeira vista, se mantém uma situação favorável, persistem contradições étnicas e sociais que podem vir a se agudizar a qualquer momento. Segundo frisou o presidente, tais controvérsias podem se tornar uma base de conflitos, crescimento de ânimos extremistas e da utilização por jogadores externos que, se aproveitando da situação político-social instável, podem chegar a perpetrar uma mudança ilegítima do poder.
Em resumo, Vladimir Putin apelou a que, no palco internacional, o Ocidente assuma novas regras de jogo mais justas. No seu entender, o modelo de duplos padrões não funciona, inclusive nas relações com a Rússia. Moscou se dispõe a interagir em formas internacionais diversas desde que sejam levadas em linha da conta seus interesses legítimos. A Moscou não convém um papel de observador indiferente, enfatizou o presidente:
Nas duas décadas passadas, os parceiros da Rússia têm-na convencido das boas intenções e disponibilidade de estruturar em conjunto uma cooperação estratégica. Mas, em paralelo, foram expandido a OTAN, aproximando o seu espaço político-militar das nossas fronteiras. Aos nossos pedidos de se explicar e discutir os problemas existentes respondiam que “o assunto em causa não tinha nada a ver connosco”. É evidente que aqueles que continuam falando da sua “exclusividade” não gostam da política externa russa independente. Os acontecimentos na Ucrânia comprovaram-no. Confirmaram ainda o fato de o modelo de dois pesos e duas medidas não estar funcionando no relacionamento com a Rússia.
Todavia, espero que o pragmatismo acabe por triunfar. Para tal convém se livrar de ambições e objetivos de criar uma caserna mundial, uma hierarquia de valores unipolares, impor as suas regras de comportamento e modos de vida. Em vez disso, é preciso proceder ao estabelecimento de relações baseadas em igualdade de direitos, respeito mútuo dos interesses de cada parte. Chegou a altura de se reconhecerem as diferenças e de se reconhecer o direito de cada país de seguir o seu destino sem olhar para as normas impostas por outros Estados”.
O desenvolvimento mundial não pode ser unificado, adiantou o líder russo, ressaltando ainda “a necessidade de procurar pontos de contacto comuns e ver em cada país não apenas um potencial concorrente, mas sim parceiro, estabelecendo a cooperação entre diversos Estados, suas associações e entidades integracionistas”.

Este discurso de Vladimir Putin não passou de mais uma tentativa de justificar a política da Rússia face à Ucrânia, mas está enfermado de novas contradições. Putin defende que “Os povos e países inteiros se declaram dispostos a definir e escolher seu destino”, incluindo a Rússia sem ingerência de fora, mas a Ucrânia parece já não ter. O Kremlin não gosta da ingerência do Ocidente no destino desse país, mas repete formas de ingerência tão ou mais grosseiras: ocupa territórios, fornece armas e homens a separatistas, etc.
O dirigente russo critica o facto das autoridades ucranianas aprovarem a nova Constituição sem discussão, como se na Rússia houvesse grandes discussões sobre esse tema. Putin tem um parlamento disposto a mexer e remexer a Lei Suprema sem qualquer discussão. Por exemplo, o prolongamento do mandato presidencial de 4 para 6 anos.
Putin diz que a Rússia é um “parceiro previsível”, principalmente se se tiver em conta que, a 4 de Março de 2014, ele declarou que a Rússia nem sequer pensava separar a Crimeia da Ucrânia e que nessa península ucraniana não havia tropas russas. 18 dias depois, anexou-a depois de um referendo feito à pressão.
Quando esse território foi anexado, Putin justificou esse passo com a violação dos direitos dos russófonos (como é sabido, nenhum russófono ou cidadão russo foi morto ou ferido na Crimeia), mas hoje encontrou outros pretextos: garantir saída alargada para Mar Negro e travar a NATO.
Quanto à observância pela Rússia do Direito Internacional, isso ficou também evidente na questão da Crimeia.
E quanto à preocupação com a Europa, não se compreende tal coisa se ele considera que a Rússia não é só Europa e ameaça virar-se para a China, futuro candidato a territórios russos no Extremo Oriente. Porque estará ele tão preocupado com o destino do Velho Continente que se afoga na decadência e degradação de costumes?
É curioso ler que Putin condena o apoio concedido por outros a forças extremistas quando ele próprio apoia semelhantes forças no Leste da Ucrânia.

Esperava-se que Putin traçasse os novos rumos da política externa para os próximos anos, mas tal não acontece, talvez porque o Kremlin não saiba como “descalçar a bota” chamada Ucrânia.
Numa coisa dou razão a Vladimir Putin: o mundo unipolar morreu, resta saber o que virá a seguir, principalmente se os países mais fortes mandarem às malvas os mais elementares princípios do Direito Internacional. 

11 comentários:

Pippo disse...

É curioso que o JM diga que o Putin É curioso ler que Putin apoia " forças extremistas" no Leste da Ucrânia.
Pode-se saber de que extremismo se trata?
Terão essas milícias uma ideologia filo-nazi, xenófoba, chauvinista, fundamentalista religiosa?

Quanto aos "novos rumos da política externa" russa, meu caro, tais "novos rumos" dificilmente poderão existir pois estamos no âmbito da geopolítica, e a geografia é incontornável.

Não entendi essa sua questão da Rússia vs Europa vs China...

Pippo disse...

Como o nosso "amigo" Chocochenko regressou à via da "pacificação" (o termo usado pelas potências coloniais quando subjugavam os indígenas de outros continentes pela violência), impõe-se aqui um novo artigo. Pena que o dono do blog já não os publique em primeira página...


As tropas de choque do Regime

Enquanto se mantém, ainda que ténuamente, o cessar-fogo no Leste da Ucrânia , a presença no terreno dos batalhões da chamada Guarda Nacional, sob as ordens directas de Igor Kolomoiski e Dmitro Iarosh e a supervisão geral de Andrei Parubiy, Secretário do Conselho Nacional de Segurança e de Defesa, ameaça fracassar o cessar-fogo declarado pelo presidente Poroshenko e aceite pelas Repúblicas de Donetsk e Lugansk.

À aliança entre oligarcas como Kolomoiski e os movimentos neo-nazis Svoboda e "Pravy Sektor" junta-se agora o crime organizado, pois os batalhões do "Pravy Sektor" já recrutam principalmente nas prisões. O radical Oleg Liatchko reconheceu e elogiou o espírito de luta desses novos recrutas cadastrados. 1

Este exército privado de Kolomoiski, podendo prolongar a guerra mais do que o necessário, dificilmente poderá vencer os ucranianos secessionistas sem o apoio das armas pesadas das Forças Armadas ucranianas ao serviço de Kiev, cujo exército, que muitas vezes, se tem recusado a intervir contra a população ucraniana.

O exército privado de Kolomoiski bombardeia essencialmente civis porque estes não só são um alvo fácil, mas também são o objectivo último das forças neo-nazis ucranianas, como o anunciou recentemente Borislav Beresa, do "Pravy Sektor", que quer uma guerra de extermínio contra a população ucraniana do Leste que se recusa a obedecer ao novo poder em Kiev.2

Contudo, as forças da Guarda Nacional também realizam ataques de forma mais ou menos independente. Foi o que fez no dia 18 o batalhão "Aydar", pertencente ao "Pravy Sektor" e responsável pela morte de jornalistas russos, que foi pesadamente punido numa incursão em Metalist, perto de Slavyansk, com a perda de vários homens entre mortos, feridos e prisioneiros (alguns do exército) e pelo menos 3 viaturas (um BTR e dois BMP-2). 3 4 5 6

Depois desta derrota, o Batalhão Aydar foi dissolvido mas Andrei Parubiy, conhecido neo-nazi, conseguiu reverter a situação e neste momento a existência do Aydar está dependente do presidente. 7 Sergei Melnichuk, o comandante do Batalhão, veio prontamente afirmar que “há traidores entre as forças leais a Kiev”, o que prognostica uma “caça às bruxas” entre as fileiras. 8 Talvez ele até tenha razão pois nem todos parecem partilhar dos ideais “puros” (ou “purificadores”) dos voluntários do Batalhão Aydar. 9

Esta "guerra suja", no entanto, é cada vez mais impopular, não só Zhitomir mas também na região de Lvov, coração do nacional-socialismo da Ucrânia, onde os pais de recrutas protestam contra a inclusão dos seus filhos nas designadas “Operações Anti-Terroristas”. 10 11

1 http://russian.rt.com/article/37959
2 http://inforesist.org/en/total-wipe-out-is-the-only-way-to-liberate-donbas/?lang=en
3 https://www.youtube.com/watch?v=BGepcBn0qJU&feature=player_embedded
4 https://www.youtube.com/watch?v=0gOfoBNBXdA
5 https://www.youtube.com/watch?v=efMosh4xCow
6 https://www.youtube.com/watch?v=fnnySzSOnIM
7 http://www.kyivpost.com/content/ukraine/aydar-batallion-ready-to-fight-even-as-units-future-remains-unclear-353215.html
8 http://voiceofrussia.com/news/2014_06_24/Ukrainian-Aydar-battalion-commander-suspects-traitors-among-ATO-leadership-5305/
9 http://euromaidanpress.com/2014/06/16/we-will-shoot-you-not-and-nobody-will-look-for-you-how-berkut-veterans-are-living-with-maidan-veterans/
10 https://www.youtube.com/watch?v=8PTS7xfXv_0&feature=youtu.be
11 http://russian.rt.com/article/37957

Anónimo disse...

Se a Rússia está a meter o nariz em assuntos que não lhe interessam nem lhe dizem respeito, como defende o senhor José Milhazes, talvez o mesmo queira esclarecer os seus leitores por que razão a esmagadora maioria das dezenas de milhar de refugiados do Donbass procuraram refugio na Rússia?

Não seria mais lógico terem fugido para Oeste e procurado refúgio e protecção em território sob jurisdição kievita?

Não deveriam essas 90.000 pessoas, segundo estimativas oficiais da ONU, recearem os russos e fugido para os braços do governo que reclama o poder de decidir o destino delas?

Pois...

Jorge Almeida disse...

Parece-me que o texto citado pelo Doutor Milhazes se encontra no link
http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_07_01/Vladimir-Putin-tra-a-linhas-mestras-da-pol-tica-externa-russa-8423/

Unknown disse...

«É curioso ler que Putin condena o apoio concedido por outros a forças extremistas quando ele próprio apoia semelhantes forças no Leste da Ucrânia.»

Volta à questão levantada por Pippo. Jm, forças extremistas? Será isto uma tentativa, leviana, superficial e manipuladora, para tentar aproximar, mesmo que forçosamente, as acções Russas às acções imperialistas dos EUA/NATO/UE?

Não, não precisava disto JM. Quem diz conhecer tão bem o terreno como o diz conhecer, não poderia vir com esta pressuposição. A classificação em causa é, acima de tudo, uma afronta e uma ofensa a todos os que, legitimamente lutam pelos seus destinos, mesmo que, numa perspectiva ou outra, tal nos pareça errado.

Isto é o mesmo que dizer que todos os pró-ocidentais e apoiantes de Kiev são extremistas. Que todos os que estavam em Maidan eram extremistas. Que todos os guerrilheiros, libertários e que protestam, lutam ou reivindicam, são extremistas. Acima de tudo, JM mostra uma enorme injustiça para com todos os que lutam pela liberdade ao longo da história humana.

Haverão extremistas no leste da Ucrânia? Certamente. Como os há em todo o lado. Mas daí a comparar os milicianos do leste aos nazi-fascistas do oeste é uma aproximação, tão abusiva como condenável.

Será que, para o JM, todo o que luta é extremista? Será que, para o JM, todo o que se mobiliza para defender os seus interesses é extremista? O que é um extremista para si? JM? Um anti imperialista? Um anti nazi? Basta ser pró Russo? Basta ser pró Putin? Basta ser anti EUA/NATO/UE? Basta querer ser livre e lutar por isso?

No leste da Ucrânia o problema é muito mais complexo do que o que JM nos quer fazer supor. Não se trata apenas de uma disputa territorial, é mais do que isso. Muito mais do que isso.

Já agora, será que os membros do governo de Kiev que atiram bombas incendiárias de fósforo branco, para cima da população extremista do Donbass, são extremistas? Porque se matam indiscriminadamente com as suas bombas pessoas indefesas? O que serão? E os milicianos do leste, matarão, indiscriminadamente pessoas indefesas?

Cada dia fico mais supreendido com a dureza e desfaçatez da propaganda ocidental. Onde está a imprensa "isenta", "livre" e de "referência" que acusam Putin de não a ter? E nós temos?

Junto vídeo de bomba incendiária em Slavyiansk. Espero que o veja e o condene, já que não o denunciou.

http://youtu.be/NH_ozebkblk

Unknown disse...

Mais fósforo branco em Semenkova.

http://youtu.be/cn7OSGOHvRM

Sabe onde falha a propaganda da comunicação social (seja a ocidental, a Russa ou outra...)? Nisto... Na internet. É que a verdade está por aí... É só apanha-la. É tudo verdadeiro? não, claro que não. Mas o conjunto das perspectivas, das visões e das mentiras, permitem-nos construir uma "big picture" muito mais fiel em relação à verdade. E para fazer esse trabalho de composição não é preciso ser-se jornalista. Aliás, deixe-me que diga: se há alguém que, hoje em dia, não faz esse trabalho de composição é, precisamente, o jornalista. Falta de tempo? Falta de motivação? Falta de formação? Falta de liberdade? Medo? Tudo um pouco...

N. Amorim disse...

O que aconteceu nos dois primeiros dias de julho na Ucrania ?

Nada, nada aconteceu.
Obrigado a todos os jornalistas, sem excepção pelo empenho.

PortugueseMan disse...

Mais uma achega relativamente ao South Stream:

Hungary says will not suspend South Stream pipeline

Hungarian Prime Minister Viktor Orban said Tuesday his country would not give up on Russia's controversial South Stream gas pipeline project as it was key to securing the country's energy supplies...

..."We will not allow ourselves to get into a situation that our gas supplies depend on Ukraine,"...

...Orban said that while his country supported Ukraine, Hungary was "responsible for our citizens and energy supplies"...

... "Those who say we should not build South Stream must offer an alternative as we can not live without energy."...


https://uk.finance.yahoo.com/news/hungary-says-not-suspend-south-204934661.html

Um pouco como seria expectável, a "facção" pró-South Stream, começa a levantar voz. Esperemos que estes países não sejam catalogados de extremistas, separatistas, afinal são "regiões" de um projecto bem maior...

Seria interessante ver a posição da Itália, dado que também é um dos grandes interessados.

Ou seja, a Bulgária que é posição chave como já tinha indicado anteriormente, para o South Stream, e que está a sofrer uma pressão enorme para empatar este pipeline, começa a receber apoios de quem pretende que este pipeline veja a luz do dia.

A construção está a avançar praticamente em todos os países, ou seja, nada pára neste pipeline. Como sempre insisto este pipeline é essencial para a segurança energética europeia. Infelizmente políticos de vistas curtas, estão em algumas posições chave, o que permite atirar areia para a engrenagem.

A Ucrânia já não serve para fornecer energia a ninguém, quando este pipeline estiver pronto, já a Ucrânia(s) terá uma nova realidade.

Uma nova realidade será também para alguns países europeus, que actualmente recebem eenrgia russa via Ucrânia e participam activamente no atirar da Ucrânia para a fogueira. Penso que pelo o menos um destes países, a Polónia irá ter uma pesada factura a pagar.Os polacos que se apressem a encontrar alternativas ao gás russo...

Viriatus disse...

Depois de um noite em que o exército ucraniano tentou tudo por tudo para ganhar posições aos federalistas e/ou pró-russos (aparentemente sem sucesso), eis que continua a batalha na frente diplomática. E aqui parece que há novidades. Tudo indica que o Ocidente terá concordado com a criação de uma espécie de “protectorado” russo dentro das fronteiras ucranianas, fronteiras que seriam reconhecidas pela Rússia como invioláveis (claro que a Crimeia está de fora). Assim, tudo indica que se chegou a um consenso para a criação de uma entidade (Novorossiya) que abarcaria toda a região do Donbass, ficando esta entidade sob a supervisão de Viktor Medvedchuk, que pessoalmente governaria a região de Donetsk, ficando a de Lugansk sob o controlo de Nestor Shufrych. A nomeação destes dois homens, amigos pessoais e políticos, receberia o apoio do Ocidente (lembro que foi Angela Merkel a sugerir o nome de Medvedchuk), da Rússia (Medvedchuk é um amigo pessoal de Putin) e de Petrochenko (que não tem voto na matéria, mas que quer a paz na Ucrânia).
Este “arranjo” político, que poucos se atreveriam a vaticinar até há pouco tempo, foi na verdade confirmado por Igor Kolomoisky, um dos grandes senhores da guerra na Ucrânia. O mesmo homem que abriu os cordões à sua grande bolsa de banqueiro para pôr a prémio a cabeça de Oleg Tsarev (um milhão de dólares) e vários milhares de dólares pela cabeça de cada um dos “turras” do Donbass (sem sucesso, coitado) vem agora confirmar numa entrevista que não só apoia como defende com todas as suas forças “a nomeação de Viktor Medvedchuk para governador de Donetsk e Lugansk”. E diz mais: “Se os líderes separatistas não aprovarem essa candidatura, isso significa que eles estão a ignorar Vladimir Putin”. Segundo Kolomoisky, Viktor Madvedchuk é a única hipótese de se evitar a guerra total no Donbass.
Sinal de que alguma coisa está a mudar são por exemplo 1) os repetidos elogios do Ocidente à decisão russa de admitir inspectores da OSCE e da Ucrânia nos seus “checkpoints”, 2) o silêncio da UE quanto aos avisos da Bulgária, Hungria e Áustria de que irão prosseguir com o “South Stream”, 3) a decisão salomónica da ICAO (Organização Internacional da Aviação Civil) de atribuir à Rússia a jurisdição sobre a Crimeia e respectivas águas territoriais = 12 milhas (deixando à Ucrânia o controlo em mar aberto, “mas tendo em consideração acordos técnicos com a Rússia”). Na prática, se a paz chegar ao leste da Ucrânia pela mão da Rússia, o “dossier” Crimeia ficará congelado até ao século XXX (pelo menos).

Unknown disse...

Esse JM é uma vergonha para Potugal!Cara de pau...

Unknown disse...

http://noticia-final.blogspot.com.br/2014/07/russia-reorientando-se.html?m=1