quinta-feira, janeiro 29, 2015

Heróis infantis russos evitam “subjugação” do povo russo



A associação de motoqueiros russos “Lobos Nocturnos”, dirigida por Alexandre Zolostanov, amigo do Presidente Putin, decidiu recorrer à ajuda dos heróis dos contos infantis russos para derrotar os inimigos ocidentais e “libertar” a Crimeia.
Num espectáculo organizado para os filhos de famílias numerosas russas e dos ucranianos que procuram refúgio em Moscovo, três personagens más: NAT (NATO), NEG (Negócio) e a Estrela Estrangeira (que faz lembrar a Estátua da Liberdade em Nova Iorque) querem subjugar o povo russo, roubam a chave do tempo para reescrever a história de 2014 e impedir a reunificação da Crimeia e da Rússia. Porém, esse plano é travado por heróis dos contos tradicionais russos: Pai Gelo, Branca da Neve e os “três gigantes”, bem como pelos “lobos nocturnos”. 
“O principal no conto é que os seus heróis vencem na vida real. Os heróis dos nossos contos lutaram por Sevastopol [cidade da Crimeia] duram seis anos e venceram. E, este ano, o conto é triunfal: até o Koschei Imortal [personagem negativa nos contos russos] se junta às forças do bem, defende a sua terra, as suas raízes, a sua história e combate contra o inimigo comum da Rússia”, frisou Zolostanov, citado pela agência de propaganda russa Ria-Novosti.
Zolostanov e o seu clube “Lobos Nocturnos” tornaram-se conhecidos depois do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ter desfilado com eles, montado numa moto de quatro rodas em Sevastopol, em Julho de 2012, quando essa cidade e a Crimeia ainda faziam parte da Ucrânia.
Os dirigentes russos esforçam-se por justificar a invasão do Estado vizinho com os mais diversos argumentos. Por exemplo, Valentina Matvienko, dirigente da Câmara Alta do Parlamento russo, comparou, na quarta-feira, a anexação da Crimeia ao Baptismo da Rússia, contrapondo à decadência ocidental a espiritualidade russa.
“Nós vemos como, no caso da crise da Ucrânia, em muitos dos acontecimentos na Europa Ocidental conceitos do bem são substituídos pelo mal, são postos em causas os principais fundamentos morais e tradicionais da família, aumenta a intolerância religiosa. Só o suporte na nossa espiritualidade e na nossa experiência histórica nos ajudarão a superar esses desafios, esse ataque”, afirmou ela.
A Rússia assiste a uma revisão da sua história não menos profunda do que aquela que ocorreu depois da revolução comunista de 1917 e só pode existir uma versão e interpretação dela, a escolhida pelo Kremlin. Quem se desviar da “linha mestre” é traidor, passa a fazer parte da “quinta coluna”. A discussão em torno do filme “Leviatã”, nomeado para um “Oscar”, é prova disso. O ministro da Cultura da Rússia, Vladimir Medinsky, considera tratar-se de uma imagem deturpada e negra do país, mas, como diz a sabedoria popular russa, “não acuses o espelho se tens a cara torta”. 

Sem comentários: