terça-feira, março 29, 2016

Como se cria um partido"liberal" na Rússia



Com o aproximar das eleições parlamentares, marcadas para Setembro, o Kremlin criou um partido que visa tirar terreno à oposição liberal extraparlamentar e, desse modo, não perder o actual controlo total da Duma Estatal (Câmara Baixa) do Parlamento.
Nesta Duma, Vladimir Putin já controlava os Partidos Rússia Unida, Rússia Justa, Liberal Democrático e Comunista, mas as eleições estão à porta e é preciso fazer com que a oposição extraparlamentar não supere a barreira dos 5% e fique à porta da nova Câmara Baixa.
Para isso, o Kremlin pegou numa força política outrora criada pela oposição liberal: Causa Justa (Pravoe Delo), mudou-lhe o nome para Partido do Crescimento e já está.
O dirigente do velho e novo partido é Boris Titov, homem que até agora tem “representado” os interesses do mundo dos negócios junto de Vladimir Putin.
Para dar mais credibilidade ao projecto, recrutou-se uns artistas e intelectuais conhecidos.
E tudo isto é feito às claras. O próprio Boris Titov reconheceu publicamente que este projecto é acompanhado por Viatcheslav Volodin, vice-chefe da Administração do Presidente da Rússia.
Mas porque será que, num país onde as sondagens mostram que a popularidade de Putin ronda os 80%, é preciso o Kremlin preocupar-se com uma oposição que ele apresenta como insignificante?
Porque Vladimir Putin está perfeitamente convencido de que a “quinta coluna” e os “nacional-traidores” (nomes por ele dado à oposição extraparlamentar), apoiados por “forças externas”, o querem expulsar do poder através de mais uma “revolução colorida”.
Embora sem grandes razões para isso, mas o dirigente russo deverá estar a acompanhar com muita preocupação a crise política no Brasil, tanto mais que os seus serviços secretos já o devem ter informado que alguns dos adversários de Dilma e Lula gritam nas ruas que querem imitar a Ucrânia. O sputniknews, órgão de propaganda criado pelo Kremlin para denunciar as maldades do mundo ocidental e onde é proibido escrever-se sobre os problemas na Rússia, informava no passado dia 17: “Espectros da Maidan. Manifestantes pedem golpe à la Ucrânia no Brasil”.
Cenário muito pouco provável na Rússia, mas um antigo coronel do KGB como Putin tem de prever, tal como um xadrezista experiente, as jogadas seguintes do adversário e, por isso, tenta tapar todos os buracos.

Parece-me que está a exagerar bastante, porque, além de todas as medidas antecipadamente tomadas para evitar surpresas, a oposição extraparlamentar russa continua extremamente dividida e mergulhada em disputas mesquinhas. A Comissão Eleitoral da Rússia deverá autorizar a participar no escrutínio vários partidos da oposição extraparlamentar e nenhum conseguirá superar a barreira dos 5%, que permite a eleição de deputados. Alguns opositores poderão ter alguma possibilidade de eleição nos círculos uninominais, onde serão eleitos 225 dos 450 parlamentares, mas nada que faça assustar o Kremlin.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Com o aproximar das eleições parlamentares, marcadas para Setembro, o Kremlin ... " e com o aproximar do referende de 6 de Abril, muita porcaria vai começar a destilar na MSM.

Curioso para saber o que vem por aí abaixo.