terça-feira, julho 12, 2016

Os “maus da NATO” e o “Anjinho Putin”

  (foto retirada da página do CPPC)


O Conselho Português para a Paz e a Cooperação (CPPC) estava muito preocupado com os resultados que pudessem sair da Cimeira NATO em Varsóvia, mas esconde as verdadeiras razões que levam a Aliança Atlântica a reforçar as suas posições no Leste da Europa, ilibando Vladimir Putin de qualquer responsabilidade.
Num comunicado publicado pelo CPPC no facebook, lê-se, entre outras coisas, que:  “Como os próprios responsáveis da NATO o admitem, a Cimeira tem como objectivo central o considerável reforço da presença de forças militares da NATO no Leste da Europa, particularmente na Polónia e nos Estados bálticos, ou seja, junto da fronteira da Federação Russa. No imediato, é anunciada a instalação de quatro batalhões multinacionais, ditos «robustos» – para citar o Secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg”.
No entanto, essa organização, antigamente financiada pela União Soviética, não escreve uma palavra sobre o que levou a NATO a mudar de política, ou seja, sobre a invasão da Crimeia e do Leste da Ucrânia pelas tropas de Vladimir Putin em 2014. Ao que consegui apurar, o CPPC não publicou qualquer nota de protesto contra essa grosseira violação do Direito Internacional, nem quando tropas russas ocuparam o um terço do território da Geórgia em 2008.
Conclui-se por isso que este Conselho tem dois pesos e duas medidas ao abordar a Paz e a Cooperação no mundo.
Vejamos outro trecho do comunicado: “Na sua expansão para o Leste da Europa e estratégia de provocação à Rússia, a NATO conta com o concurso de governos, forças e grupos paramilitares de extrema-direita. São os casos, entre outros, do governo ucraniano, colocado no poder na sequência de um golpe apoiado pela NATO e a União Europeia, e que se sustenta em forças onde se incluem abertamente grupos neo-fascistas; ou da Polónia, onde está em criação uma força paramilitar (assumida pelo governo como uma componente das Forças Armadas), cujos membros são recrutados em grupos de extrema-direita, conhecidos pela sua xenofobia”.
Não se pode negar que existem grupos neo-fascistas e de extrema-direita, por exemplo, na Ucrânia, mas o CPPC não se preocupou em consultar os resultados das eleições parlamentares realizadas após a queda de Victor Inukovitch, que deram resultados residuais às forças extremistas, nem se preocupa em ver que, à medida que as forças armadas ucranianas se tornam melhor organizadas, a influência dos grupos extremistas diminui.
Mas o mais surpreendente é que o CPPC não dá conta que Vladimir Putin, ao mesmo tempo que aumenta fortemente o carácter repressivo do seu regime (criação da Guarda Nacional, aumento do número de polícias em mais 40 mil agentes, perseguição e assassinato de opositores, etc.), financia forças de vários extremos políticos na Europa. Estou convencido de que marine le Pen, líder da extrema-direita racista e xenófoba francesa, assinaria este mesmo documento. A argumentação do CPPC e da Frente Nacional é muito semelhante no que respeita à NATO e à Rússia. Marine le Pen faz por milhões de euros, e o CPPC? Como já escrevi várias vezes, citando documentos soviéticos, o Conselho Mundial para a Paz, onde estava e está integrada a respectiva secção portuguesa, recebiam avultadas somas do regime soviético. Citando Anatoli Chernaev, alto funcionário da Secção internacional do Comité Central do Partido Comunista, essas quantias não chegavam “porque, todos os anos, terminam com deficit… Os combatentes profissionais pela paz estoiram-nas em amantes, diferentes “iniciativas”, viagens e vida de luxo”.  
Quanto aos orçamentos militares, o CPPC constata que: “Os países membro da NATO, com destaque para os EUA, são responsáveis pela maior parte das despesas militares no mundo e pela corrida a cada vez mais sofisticados armamentos, incluindo armas nucleares. A NATO pressiona os seus membros a aumentar os orçamentos militares. Para a NATO não falta dinheiro para a guerra, enquanto, simultaneamente, são promovidas políticas contra os direitos e condições de vida dos trabalhadores e dos povos em muitos dos seus países membro”.
Porém, evita falar do aumento brutal do orçamento militar russo. Quando Putin chegou ao poder em 2000, a Rússia, segundo dados oficiais, gastava 9 228 000 de dólares em armamento, mas, em 2016, esse número subiu para 87 837 000, sendo o terceiro maior do mundo. Tendo em conta as dificuldades económicas que atravessa a Rússia, não acredito que sejam promovidas políticas a favor dos trabalhadores.

Fica-se com a impressão de que os apoiantes do Conselho Português para a Paz e Cooperação equiparam a política externa de Putin à política de “defesa da paz” da URSS. Talvez tenham razão. Nenhuma delas conduz à paz e muito menos ao socialismo e ao comunismo.

3 comentários:

João Nobre disse...

«Estou convencido de que marine le Pen, líder da extrema-direita racista e xenófoba francesa, assinaria este mesmo documento.»

A Marine Le Pen está apenas a defender a sua Pátria contra os sabujos e lacaios do Mundialismo que desejam destruir a Europa e a França.

Marine Le Pen racista e xenófoba?!? O professor José Milhazes por favor pense duas vezes! Racistas e xenófobos são os que abriram as fronteiras da Europa a uma autêntica invasão islamo-africana, com o intuito único de exterminar os europeus na sua própria terra, esses é que são os verdadeiros racistas e xenófobos. Essa gente há-de acabar toda a ser julgada por genocídio, tal como se fez aos nazis:

http://historiamaximus.blogspot.pt/2016/04/o-que-os-politicos-portugueses-estao.html

antónio m p disse...

Diz o José Milhazes pela boca de terceiros: "Os combatentes profissionais pela paz estoiram-nas (as ajudas que recebem) em amantes, diferentes “iniciativas”, viagens e vida de luxo".
Esta pérola de Milhazes emparelha bem com o comentário de J. J. H. Nobre, segundo o qual "Marine Le Pen está apenas a defender a sua Pátria".
Estamos esclarecidos!

Manuel Galvão disse...

O Herdogan, o Trump, o Putin, dão um jeito para resolver "coisa"...
O Grande Estado Islâmico, do Mar Negro ao Golfo de Aden entra em funções com a queda da Síria e dos Faiçal.
Estamos todos a um passo de termos que nos virar 5 vezes por dia para a cidade de Meca!