"Lenine viveu, Lenine vive, Lenine viverá" (V.Maiakovskii)
Dizem os comunistas que “só a verdade é revolucionária”, mas
apenas a verdade deles. Assim foi e assim será nas prometidas celebrações do centenário
da chamada revolução de Outubro de 1917.
O Avante, órgão do Comité Central do Partido Comunista
Português, prometeu, no penúltimo número, um amplo programa de celebrações do
centenário do golpe de Estado que impôs uma ditadura comunista na Rússia em
1917, mas não esperem por novidades ou surpresas.
A não ser que o XX Congresso do PCP, marcado para o próximo
mês de Dezembro, se transforme em algo semelhante ao mesmo congresso do Partido
Comunista da União Soviética, que pôs fim ao culto da personalidade do ditador
José Estaline e denunciou parte dos seus crimes. Tal coisa ninguém espera até
porque, como repetem os dirigentes comunistas, não há comparação possível, pois
no PCP não houve, nem há culto da personalidade e esse partido é um exemplo de virtudes,
tanto mais agora quando renuncia à sua coerência para servir de muleta ao
governo socialista.
Pelo contrário, espera-se que tudo continue na mesma, sem
quaisquer desvios da linha ideológica do PCP. Neste caso, não espero novidades,
embora a celebração de um centenário é sempre um bom momento para revelar algo
de inédito.
Posso deixar aqui algumas ideias. Por exemplo, o jornal
Avante promete editar “obras reunindo textos de Lénine e Álvaro Cunhal sobre a
Revolução de Outubro e ainda reeditado o livro de John Reed Dez Dias que
Abalaram o Mundo”. Esperam-se as reedições do costume, como, por exemplo, “Que
fazer?”, “Teses de Abril”, “Estado e Revolução” de Vladimir Lenine. Talvez não
valha a pena reeditar obras como “Esquerdismo: doença infantil do comunismo” do
mesmo autor ou “O Radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista” de Álvaro
Cunhal para não ofender o Bloco de Esquerda.
Mas não seria mau editar as centenas de textos de Lenine que
estiveram proibidos durante o regime soviético (1917-1991) e que ainda não
foram traduzidos para a língua portuguesa.
Sem dúvida que ajudariam a formar uma imagem mais fiel e real do
dirigente comunista, mostrando mais concretamente que o estalinismo não é um
desvio, mas uma continuação do marxismo-leninismo.
Por exemplo, um telegrama enviado por Lenine para Lev Trotski
a 22 de Outubro de 1919: “Dar cabo de Iudenitch (precisamente dar cabo,
exterminar) é para nós diabolicamente importante. Se a ofensiva começou, não se
poderá mobilizar mais 20 mil operários de Petrogrado e mais 10 mil burgueses,
instalar atrás deles metralhadoras, fuzilar várias centenas e conseguir um
verdadeiro ataque massivo contra Iudenitch?”.
Nikolai Iudenitch foi um dos principais generais que comandou
tropas brancas, que reuniam os adversários dos comunistas durante a guerra
civil entre 1917 e 1922, e que, segundo alguns cálculos, poderia ter causado de
8 a 13 milhões de vítimas mortais.
Noutro telegrama proibido de Lenine, datado de 28 de
Fevereiro de 1920, ele ordena: “Precisamos muito de petróleo, escrevei um
manifesto à população onde se diga que cortaremos em pedaços todos os que
queimarem e estragarem o petróleo, os poços, e que, pelo contrário,
ofereceremos a vida a todos se Maikop e principalmente Grozni nos forem
entregues sem estragos”.
Seria também útil revelar que instruções dava Vladimir Lenine
aos seus camaradas para enganar as delegações estrangeiras que queriam visitar
a Rússia Soviética. Neste caso concreto, dirigentes sindicais ingleses.
A 6 de Abril de 1920, ele ordena: “Para receber os chefes dos
Trade Unions é preciso:
1)
criar
uma comissão constituída por Radek, Melnitchanski, Frainber mais dois que
estiveram na Inglaterra e na América e mais Tchetcherin.
2)
Tarefas
da comissão:
a)
organizar
a impressão (pelo menos de 20 a 500 exemplares) de folhas volantes em inglês
para os “hóspedes”.
b)
arranjar
tradutores seguros que devem acompanhar permanentemente os “hóspedes”.
c)
organizar
uma campanha na imprensa soviética (artigos curtos, de 5 a 10 linhas, que
desmascarem completamente os hóspedes, enquanto social-traidores, mencheviques,
participantes na pilhagem inglesa das colónias, etc.”
d)
fazer
a mesma campanha nos comícios de trabalhadores sob a forma de convite para os
hóspedes para ouvirem discursos e para que lhes sejam feitas “perguntas”.
Chamamo-los para centenas de fábricas em São Petersburgo e Moscovo…
Resumindo: no fundo, organizar a calúnia e caluniar, mas sob
formas extremamente bem-educadas”.
E talvez não fosse má ideia revelar os verdadeiros planos daquele
dirigente comunista russo que disse querer construir o socialismo num país e
renunciar à revolução mundial. A 23 de Julho, Lenine escreve a José Estaline,
que lhe veio a suceder no reforço da ditadura comunista: “A situação na
Internacional Comunista é fantástica. Zinoviev, Bukharin e eu pensamos que se
deve incentivar a revolução imediatamente na Itália. A minha opinião pessoal é
que para isso é preciso sovietizar a Hungria, talvez também a República Checa e
a Roménia. É preciso pensar bem. Comunique-me a Sua conclusão pormenorizada…”.
Mas devo estar a sonhar, porque a verdade nem sempre é
revolucionária.
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