À medida que o tempo passa e o poder de Vladimir Putin se
prolonga, passámos a saber coisas mais espantosas sobre a sua biografia. Por
este andar, o culto da personalidade poderá atingir os níveis norte-coreanos,
mas com um sinal ideológico contrário: se, na Coreia do Norte, país onde não
podem existir anjinhos devido à ideologia ateia que impera no país, são os
passarinhos que cantam quando nascem os grandes líderes; na Rússia, as aves
parecem estar quase a serem substituídas por anjinhos.
Num documentário dedicado à vida e obra de Kirill, actual Patriarca
de Moscovo e de Toda a Rússia, Vladimir Putin revelou um segredo do seu
baptismo. Segundo ele, a sua mãe tê-lo-ia baptizado em 1952 no Templo da
Transfiguração de Leninegrado (São Petersburgo), sem o conhecimento do pai,
porque este era militante comunista.
Utilizando o método dedutivo, muito necessário na profissão
de espião, Putin concluiu que ele teria sido baptizado pelo padre Mikhail, pai
do actual Patriarca Ortodoxo. Nessa altura, esse era o único sacerdote com esse
nome que prestava serviço religioso nesse templo.
Não duvido que esta dedução seja verdadeira, mas é estranho o
tempo e a forma como é revelada. O Presidente russo não se podia ter lembrado
disso no tempo do comunismo, porque teria a carreira estragada: não poderia
aderir ao Partido Comunista, nem ingressar no KGB (polícia política soviética).
Mas poderia ter revelado o nome do sacerdote quando reconheceu que tinha sido
baptizado depois da queda do comunismo.
Depois desta revelação, os acólitos de Putin poderão
considerar que se trata de um “líder escolhido por Deus” e que, por
conseguinte, é chegada a hora de o proclamar Vladimir II, czar da Rússia. Tanto
mais que todos os russos, sejam ministros ou arraia miúda, são iguais perante
ele, por isso proponho o cognome de “Justo”. Alguém duvida que foi ele que
mandou prender o ministro da Economia, Alexei Ulukaek, quando este se preparava
para “receber” luvas no valor de dois milhões de dólares em papel?
Claro que há demasiados mistérios nesta detenção: Ulukaiev
foi receber o suborno depois do negócio já estar fechado e a quantia que
deveria receber não corresponde à envergadura da negociata. Tratou-se da compra
de uma petrolífera por outra: a estatal Rosneft. Segundo alguns peritos, o “suborno
justo” andaria entre os 30 e 40 milhões de dólares.
Mas Putin teve pena do ministro e a “justiça russa” apenas o
obrigou a prisão domiciliária.
Resumindo, Vladimir Putin e os seus ideólogos tentam cruzar a mitologia soviética com a mitologia russa e o resultado só poderá ser um monstro com duas cabeças. Quais delas será mais semelhante à de Donald Trump?
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