quarta-feira, maio 01, 2019

Um olhar sobre o impasse na Venezuela


Ainda não será desta 

A conversa telefónica de Pompeo e Lavrov a nada levou. As posições da Rússia e dos Estados Unidos continuam a ser completamente divergentes. Se os últimos querem que a Rússia saia da Venezuela e leve consigo Maduro, Moscovo exige o fim das ingerências internacionais. Por detrás de Putin está a China que, como sempre, faz o seu próprio jogo.

Uma situação muito semelhante àquela que se formou quando a Rússia interveio militarmente na Síria para salvar o regime de Assad. Embora, desta vez, a operação seja feita "nas barbas" dos Estados Unidos, estes já não são o que eram e, por isso, uma intervenção militar é improvável e perigosa. 
No terreno, é evidente que os apoiantes de Gaidó não conseguiram mais uma vez trazer para seu lado as Forças Armadas venezuelanas, mas Maduro parece também não controlar os militares de forma a ordenar-lhes esmagar a oposição.
Esta situação poderia ser a ideal para que os militares venezuelanos façam um "25 de Abril". Tomam o poder, distanciam-se das forças políticas e transformam-se em garante da transição para a democracia na Venezuela, mas as chefias militares parecem estar mergulhadas na corrupção, no tráfico de droga, o que torna difícil este cenário.
Desse modo, o povo venezuelano vai continuar a sofrer por tempo indeterminado, pois a segunda tentativa de Gaidó fracassou: erros de cálculo.
A política da União Europeia neste campo tem sido vergonhosa, pois a diplomacia espanhola não se farta de fazer asneiras e a levar os restantes europeus atrás de si. Os Estados Unidos, no campo da política externa, têm receio dos resultados das suas possíveis acções e Trump já mostrou ser um Presidente que não quer ou não sabe como resolver os graves problemas internacionais.
Do outro lado, a Rússia e a China esfregam as mãos de contentes. A primeira, porque está convencida que os seus interesses estão protegidos e a segunda, porque a Rússia adora fazer a política da "retirada das brasas do fogo". 
Realmente, o mundo deixou de ser o que era e estamos perante uma guerra fria estranha e complexa.

2 comentários:

Pedro disse...

Não é possível comentar um assunto como estes com real seriedade sem referir o brutal embargo a que o país está sujeito, quais as consequências habituais de uma acção militar norte americana (Libia, Iraque, Vietname, etc). Não é possível ser maniqueísta numa questão como esta. Não se condena um extremo para abraçar outro.

antónio m p disse...

Se Guaidó fracassou não foi por um "erro de cálculo" mas sim porque não tem apoio no povo venezuelano. Não é por outra razão que está sempre a apelar ao apoio (ingerência) internacional. É tudo o que tem.

Também por força destas circunstâncias é que agora vão aparecendo cada vez mais as "forças moderadas da oposição" que estiveram até agora adormecidas... à espera dos resultados das tácticas violentas internas e internacionais.