sexta-feira, julho 19, 2019

O olhar da Rússia para o mundo

Palestra no Estado Maior General das Forças Armadas

Boa tarde, 
Pediram-me para falar deste tema que é bastante complicado, tendo em conta a actual situação internacional, é muito difícil! 
Não me peçam para fazer prognósticos, porque é difícil, e é difícil porque tudo muda de forma tão rápida que é impossível prever o que poderá acontecer amanhã ou depois de amanhã. 
E é difícil porque, como nós sabemos, passámos a ter um novo tipo de dirigentes mundiais que antes não tínhamos, e que também não tinham twitter, porque se tivessem, se calhar alguns deles poderiam ser assim. 
Assim sendo, eu vou falar sobre como “A Rússia olha para o Mundo”, mas não hoje, quero falar sobre um pouquinho antes. 
Como nós sabemos da História, a Rússia que não é bem um país, é um continente! É um corpo gigantesco situado entre a Europa e a Ásia. 
E eu sou da opinião que a Rússia é um país europeu. Poderá ter uns traços asiáticos, mas nada que influencie a política atual. O que influencia na política atual russa, principalmente no que diz respeito à política externa, é um pouco o papel que a Rússia acha ser seu, desde há muito tempo, e que é: a Rússia é uma das principais potências mundiais e que deve ser vista e olhada desta forma. 
Isto esteve presente em vários períodos históricos como no reinado de Pedro I, nas Guerras Napoleónicas, na União Soviética e hoje, naquilo a que nós chamamos o “Putinismo”. Ou seja, a Rússia pretende chamar a si um papel fundamental nas relações internacionais e na resolução dos problemas internacionais. 
Isto não foi verdade depois do fim da União Soviética. 
A União Soviética foi o império que menos tempo durou na História da Humanidade, pouco mais de 70 anos, o que em termos históricos são frações de milésimo de segundo. Mas a União Soviética não é um corpo estranho dentro da ideia imperial russa. O internacionalismo proletário não cai do céu, nem do marxismo-leninismo, ele tem origem na natureza imperial da Rússia pré-revolucionária. 
E em doutrinas mais antigas, se recuarmos até à Idade Média, chamada a Terceira Roma, ou seja, estamos a falar do Czar Vassili III, que quando cai 
Constantinopla nas mãos dos turcos, em 1453, Moscovo chamou a si o papel de Roma, como centro do Cristianismo. 
A I Roma morreu destruída pelos Bárbaros, a II Roma morreu destruída pelos Turcos, a III Roma, e última, é Moscovo. 
Esta teoria faz-nos lembrar a teoria do V Império, mas é uma teoria que esteve sempre muito presente na política externa Russa e Soviética ao longo da História. 
Dá-se uma ruptura importante no fim da União Soviética, com a desintegração desta. Isto porque a União Soviética mostrou ser incapaz de criar um sistema económico e social capaz de garantir a política externa que ia conduzindo, ou seja, em termos militares era uma superpotência, em termos económicos e de desenvolvimento social, era um país típico do terceiro mundo. Isto pode parecer paradoxal, mas é verdade! Em conclusão, a União Soviética era um colosso com pés de barro. 
Um dos indícios daquilo que afirmei, era o facto de a maioria das exportações da União Soviética ser em matérias não-transformadas, como era o caso do Petróleo e do Gás. 
A União Soviética praticamente não exportava mais nada. Exportava armamentos, mas isso não se pode considerar como exportar, era mais oferecer do que exportar, que o digam os Angolanos ou outros povos, que recebiam armamentos em quantidades industriais, e que depois, o pagamento, era para o tal futuro radioso que acabou por não chegar. 
E é precisamente esta diferença colossal entre o desenvolvimento interno e a política externa ofensiva da União Soviética, uma das causas do fim da União Soviética. 
Bastou que o senhor Reagan atirasse cá para baixo o preço do Petróleo a nível internacional, para Gorbatchov não ter dinheiro para realizar as reformas com vista a renovar o sistema soviético. 
E é aqui que começa o problema! 
A União Soviética começa com Gorbatchov a ter consciência de que não pode continuar aquela política, e cria-se na sociedade soviética e nalguns setores da direção soviética, a ideia de que o ocidente os vai ajudar. 
(Continua)

2 comentários:

JMSBATISTA disse...

Gostei de aprender. Obrigado...

José Augusto Marques disse...

Fico à dspera do próximo.