Aproveitando
uma rápida passagem pela bela cidade de Viana do Castelo, não pude
deixar de visitar com a minha família o Navio-Hospital Gil Eanes,
hoje museu atracado num dos cais. Isto porque foi o seu pessoal
médico que salvou a vida do meu pai no final dos anos de 1960.
Nessa
altura, o meu defunto pai, José Marques Pinto, era tripulante do
navio bacalhoeiro “Vaz”,
que pescava perto da Terra Nova. Durante a faina, em alto mar,
rebentaram-lhe duas úlceras no estômago e ele teve de ser
urgentemente transportado para St. John's (São João da Terra Nova).
Foi precisamente o corpo médico do Hospital Gil Eanes que lhe
prestou os primeiros socorros e o conseguiu transportar para um
hospital canadiano, onde foi operado com êxito.
Sala de Operações
Naquela
altura, as comunicações não eram tão rápidas como hoje. A
notícia da doença do meu pai chegou-nos através de uma carta, o
que nos deixou bastante preocupados e angustiantes durante algumas
semanas. Mas, um dia, inesperadamente, chegou a casa são e salvo.
Não
sei se existe ou não alguma obra publicada sobre a história do “Gil
Eanes” e sobre os homens que nele trabalharam, mas mereciam muito.
Salvaram muitas vidas, aliviaram as dores de muitos dos pescadores do
bacalhau.
Enfermaria
Antes
do 25 de Abril de 1974, o pescador de bacalhau era das profissões
mais ingratas, tratava-se de autênticos escravos. Recordo muitas
histórias que o meu avô materno, pai, tios, primos e irmão
contavam sobre esse trabalho, relatos inacreditáveis sobre seis
meses no mar sem as mais elementares condições sanitárias, com uma
alimentação extremamente pobre e um horário de trabalho que podia
ir até às 16 ou 18 horas de trabalho.
O
salário vinha apenas no fim da viagem, por isso, as mães e mulheres
tinham que frequentemente de recorrer “ao prego” para conseguir
algum dinheiro para sustentar a casa.
Para recordar mais tarde
Por
esta e outras razões não compreendo aqueles que defendem que se
vivia melhor antes da “Revolução dos Cravos”. Alguns, muito
poucos, até podiam viver. Enquanto hoje, muitos dos netos e bisnetos
dos pescadores de bacalhau são médicos, enfermeiros, biólogos,
engenheiros, jornalistas, etc. Basta visitar a Póvoa de Varzim,
Caxinas, Matosinhos, Aveiro, Ílhavo e muitos outros lugares de onde
eram originários os pescadores do bacalhau para se compreender que
Portugal deu um salto civilizacional depois de 1974.
Aqui
fica o meu tributo ao Navio-Hospital “Gil Eanes”.
P.S.
Recentemente, visitei o Museu do Bacalhau em Ílhavo e não gostei.
Os espaços estão mal aproveitados, a exposição, à excepção do
aquário com bacalhaus, é pouco viva, pouco interessante.
1 comentário:
Se porventura o José Milhazes estiver interessado talvez possa pô-lo em contacto com uma filha do último ou dos últimos comandantes do navio Gil Eanes. Há muito tempo que não a contacto por isso não sei a disponibilidade da pessoa. Agradeço os seus escritos que leio com atenção. JJaneiro
cidadeinclusiva@gmail.com
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