A Crimeia
parece que se vai transformar num lugar de peregrinação dos
deputados europeus que apoiaram a anexação dessa península
ucraniana, havendo na lista de inscrições um deputado europeu
português.
Os primeiros
“peregrinos” que lá desembarcaram no dia 23 de Julho foram 8
deputados e dois senadores da Assembleia Francesa, a maioria dos
quais membros do partido dirigido por Nicolas Zarkozy.
A oposição
da diplomacia francesa a essa viagem transformou os parlamentares em
autênticos heróis na Rússia, onde estão a ser recebidos entre uma
enchurrada de elogios.
Num encontro
com os deputados franceses, Serguei Narichkin, dirigente da Duma
Estatal (câmara baixa) do Parlamento Russo, considerou a decisão
deles de “passo decidido e ousado”, e explicou de forma original
(mais um versão a juntar às muitas que os dirigentes russos
apresentaram para justificar a violação do Direito Internacional) a
história da Crimeia depois da desintegração da União Soviética.
“Conheço
os vossos planos de passarem dia e meio na Crimeia, tinham planeado
isso com antecedência. Conversem com os habitantes simples da
península. Estou convencido de que eles falarão honestamente do que
sentiram e como viveram duram 23 anos (1991-1994) quando, devido a
uma série de circunstâncias, a Crimeia foi, no fundo,
pacificamente, mas anexada pela Ucrânia”, declarou Narichkin.
Ora,
como é sabido, a Ucrânia não anexou qualquer território em 1991,
mas a Crimeia tinha-lhe sido entregue em 1954.
Narichkin
explicou também que as autoridades ucranianas “mentem e dizem
asneiras” quando afirmam que tem lugar uma guerra entre a Rússia e
a Ucrânia, pois, se isso fosse verdade, as tropas de Moscovo
resolveriam o caso em “três, quatro, num máximo de cinco dias”.
Esperemos
que as actuais autoridades russas não decidam concretizar o famoso
mito das “aldeias de Potemkine”. Diziam as más línguas da época
(acusação que os historiadores não conseguiram confirmar) que esse
marechal e amante
da Catarina II, a Grande, preocupado com o que a czarina, na sua
viagem à Crimeia (1787), iria ver ao olhar para vilas, lugarejos e
aldeias, de bordo do seu barco real ao longo das marges do rio
Dniepre, resolveu construir fachadas de casas novas e pintadas,
vestir os camponeses com trajes novos e limpos.
Até
porque as “aldeias de Potemkine” irão servir mais vezes. O
deputado russo Vassili Likhatchov anunciou que, no Outono, 15 dos 751
deputados do Parlamento Europeu tencionam visitar a Crimeia. Segundo
ele, trata-se de deputados europeus que fazem parte do grupo “Amigos
da Rússia”. Entre eles estão Elisabetta Gardini, do partido Força
Itália, Nandi Morano, do partido dirigido por Sarkozy, bem como
representantes da Inglaterra, Alemanha e Portugal.
Não
consegui até agora confirmar o nome do deputado ou deputados
portugueses que irão ajudar a legitimar a ocupação da Crimeia,
mas, a julgar pelos comentários do jornal Avante e as posições do
Partido Comunista, poderão ser deputados europeus desta força
política.
Como
é sabido, a Rússia não se esquece dos amigos. Helmut Schroeder,
antigo chanceler alemão, trabalha hoje para a gazífera russa
Gazprom; Silvio Berlusconi, antigo primeiro-ministro italiano,
revelou ter recebido de Vladimir Putin, Presidente russo e seu amigo,
a proposta de cidadania russa e o cargo de ministro do
Desenvolvimento Económica da Rússia.
Bem diz o ditado português: "diz-me com quem andas e eu digo-te quem és".
5 comentários:
Amigo Milhazes. as "aldeias de Potemkine" vi-as eu com os meus próprios olhos em Riga, em 2006, durante a cimeira da NATO. A estrada que liga o aeroporto ao centro da cidade sofreu dois tipos de intervenção: tampas de esgoto soldadas e fachadas dos edifícios pintadas. Só as fachadas, evidentemente. A propaganda não será, certamente, um exclusivo do Kremlin. Um abraço.
....Gerhard Schröder
Todos os comentários têm de ser censurados pela Barba Azul.
Caro José Milhazes, o ex-chanceler alemão e serventuário de Putin chama-se Gerhard (e não Helmut) Schröder.
«A julgar pelos comentários do jornal Avante e as posições do Partido Comunista, poderão ser deputados europeus desta força política». Mas a julgar pela parcialidade com que o José Milhazes costuma falar sobre o PCP, poderão não ser... A julgar!
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