terça-feira, junho 13, 2006

Contributos para a História de Portugal - 7


Hoje, assinala-se o 1º aniversário da morte de Álvaro Cunhal, antigo dirigente do Partido Comunista Português ( no retrato do pintor soviético Serguei Prissekin). Ocasião para publicar um documento que mostra como esse partido recebeu as transformações sócio-políticas realizadas na União Soviética após 1985, quando à frente dos destinos dessa superpotência passou a estar Mikhail Gorbatchov. Trata-se de um relatório de Vadim Medvedev, secretário do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética, que chefiou a delegação soviética ao XII Congresso do PCP (Porto, 1988).

Arquivo da Fundação Gorbatchov. Fundo Nº4, lista Nº1
1-4 de Dezembro de 1988

Informação sobre as conversas realizadas durante os trabalhos do XII Congresso do PCP, cidade do Porto

… Grande interesse despertaram os resultados do Plenário de Novembro do CC, a XII Sessão Extraordinária do Soviete Supremo da URSS, bem como o estado das coisas nas repúblicas do Báltico, Azerbaijão e Arménia. Não obstante a compreensão geral das dificuldades que surgem na via da perestroika, nomeadamente nas relações entre nacionalidades, podia-se sentir a preocupação dos amigos pela situação que surge numa série de regiões do país. A. Cunhal disse sinceramente que muitos não compreendem como puderam ter surgido acontecimentos como os de Nagorno-Karabakh depois de 70 anos de Poder Soviético.

… Uma série de interlocutores (G. Marchais, A. Cunhal, D. Henin (Partido Comunista de Israel) chamaram a atenção para o carácter de algumas publicações nos meios de informação soviéticos, que, segundo eles, deturpam a história do socialismo, não avaliam de forma crítica uns ou outros aspectos da vida da sociedade capitalista.


7 de Dezembro de 1988
Informação sobre os resultados da viagem da delegação do PCUS a Portugal

… Com um interesse sincero de amigos, falaram das preocupações devido à agudização das relações nacionais na União Soviética… Estão também preocupados com o facto de, durante as amplas discussões democráticas que têm lugar na União Soviética, serem expressas opiniões e raciocínios que provocam perguntas perplexas ou preocupação. Durante as conversas, tivemos de explicar várias vezes os novos métodos de direcção do partido em relação à imprensa e a outros meios de informação em massa, assinalando que não se deve ver em cada artigo de um autor o ponto de vista do partido.
Como já foi informado, o congresso reagiu com aplausos tempestuosos à parte do discurso da saudação onde se reafirma a opção inabalável no partido pela via de Lenine, pela via da Revolução de Outubro, pela via do socialismo.

4. Discussão no Congresso

Os documentos por ele aprovados confirmaram o amplo apoio dos comunistas à nova política do partido. Por outro lado, revelou-se também de forma bastante clara a existência no partido de pessoas que discordam dessa política. Em medida significativa, essa oposição significa uma reacção aos velhos métodos de trabalho do partido, que não são levadas suficientemente em conta as novas realidades. Na medida em que a direcção soube responder a esses novos fenómenos, ela conseguiu garantir o apoio massivo e neutralizar a oposição.
Ao mesmo tempo, seria precipitado afirmar que foram resolvidos todos os problemas que foram objecto de discussão antes do congresso e que parcialmente se revelaram durante o congresso.
Alguns comunistas consideram que a democratização do partido não foi suficientemente longe. Outros exprimem o seu desacordo com a abordagem demasiadamente dura do PCP nas relações com os socialistas. Terceiros criticam a direcção pelos erros passados, considerando que, no período de ascensão das disposições revolucionárias, o partido comunista teve posições demasiadamente radicais, o que afastou algumas camadas da população e possíveis aliados políticos.
Essa discussão foi alimentada, na véspera do congresso, pelos meios de informação burgueses. E também durante o congresso, os principais jornais burgueses de Portugal, bem como a rádio e a televisão tentaram criar uma ideia tendenciosa sobre o andamento dos trabalhos do congresso, prestando fundamentalmente atenção aos discursos de alguns delegados que criticaram a política do partido. É verdade que os resultados do congresso obrigaram a máquina propagandística a reconhecer que a crise no partido não se instalou.
A existência de oposição no PCP é um problema real. Alguns dos seus representantes tentam basear-se na nossa perestroika, contrapor a nossa glasnost, os nossos métodos democráticos de trabalho dentro do partido aos métodos de trabalho no Partido Comunista Português. Semelhante táctica cria certas dificuldades à direcção do PCP. Não se pode simplesmente fechar os olhos a ela. Apoiando e concordando completamente com a nossa perestroika, o que foi dito em voz alta no relatório do CC do PCP, nos documentos aprovados pelo congresso, a direcção do partido, ao mesmo tempo, tem dificuldade em convencer os oponentes de que a situação em Portugal é completamente diferente hoje. Tanto mais que, no plano de desenvolvimento da democracia no interior do PCP, existem problemas reais, herdados, como já foi assinalado, das condições da sua luta no período anterior.

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