Valentin Ivanov, o árbitro russo que expulsou quatro jogadores na partida que opôs Portugal à Holanda no Mundial de futebol, não consegue explicar o que aconteceu na partida, mas admite que poderia ter sido mais rigoroso
Valentin Ivanov, árbitro russo que apitou o jogo Portugal-Holanda, não é muito dado a falar com os jornalistas, mas foi na sua casa de campo, nos arredores de Moscovo, que abriu a excepção ao PÚBLICO. Não se furtou a nenhuma pergunta, mas, no fim da entrevista, mostrou, ou melhor, ofereceu um cartão vermelho.
PÚBLICO - Quando foi nomeado para o jogo Portugal-Holanda, preparou-se especialmente para o jogo, estudou os adversários?
VALENTN IVANOV - Não posso dizer que estudei. Simplesmente vi essas e outras equipas a jogar no Mundial. Fica-se com uma ideia sobre o jogo delas. Também já me tinha encontrado muitas vezes antes com jogadores desse nível. Daí já ter uma ideia.
P. - Foram-lhe atribuídas numerosas declarações depois do jogo entre Portugal e a Holanda.
V.I. - Qual a sua avaliação, do ponto de vista disciplinar, desse jogo. O que aconteceu na realidade?Tenho dificuldade em explicar o que aconteceu. Há jogos difíceis como aquele, em que os jogadores reagiram daquela forma. Raramente acontece, mas acontece. Foi um jogo dificílimo. Fiz o que achava que devia fazer. Quanto às expulsões, considero que não houve nenhuma injusta, o mesmo em relação aos cartões amarelos. Outro árbitro, na mesma situação, poderia ter feito melhor. Pode-se falar muito disso, mas já não tem sentido.
P. - Se arbitrasse novamente esse jogo, as suas decisões seriam as mesmas?
V.I. - Em geral, penso que sim. Claro que podia ter mostrado o cartão vermelho directo, em vez do amarelo. Mas isso é outra questão. Eu podia ter sido mais rigoroso.
P. - Quando da primeira falta dura sobre Cristiano Ronaldo, alguns analistas consideram que devia ter expulso o jogador holandês...
V.I. - Eu mostrei o primeiro cartão amarelo no 2.º ou 3.º minuto. Mas claramente não eram faltas para vermelho. Depois, deu-se esse momento, vi o jogador holandês avançar bruscamente para Ronaldo, vi que foi falta, mas um jogador estava a cortar-me a visão, por isso não consegui ver com precisão a falta. Talvez devesse mostrar o vermelho, mas, depois disso, eles começariam à pancada? Em princípio, se tivermos em conta a quantidade de faltas, ela não foi acima da norma, os jogadores não passaram o tempo a atacar-se. Tanto do lado da Holanda, como da parte de Portugal. Eu declarei que os holandeses começaram, porque lhes mostrei os dois primeiros cartões, mas, Portugal, depois, tomou a iniciativa e avançou...
P. - Depois do jogo, Blatter criticou-o, mas, depois, pediu-lhe desculpa?
V.I. - Ele não me telefonou para casa, nem enviou nenhuma carta, nem conversei com ele depois disso.
P. - Depois de semelhantes críticas os árbitros são castigados. Foram ou serão empregues sanções contra si?
V.I. - Sinceramente, não entendo que sanções possam ser essas. Desde então não arbitrei mais... Pergunte a quem anuncia as sanções. Eu não me castigo a mim próprio. Eu não excluo que se não fosse esse jogo ainda poderia ter arbitrado mais algum outro. Mas ninguém me disse que isso foi por castigo.
P. - Quando decidiram qual o melhor jogador jovem do Mundial, Ronaldo não o recebeu por ter sido "fiteiro"...
V.I. - Sinceramente não sei. Sobre as simulações, a única coisa que posso dizer é que vi o Portugal-França e, nesse jogo, houve muitos elementos de simulação da parte de Ronaldo e de outros jogadores portugueses. Quanto a outros jogos, não me recordo que ele tenha simulado.
P. - O que sentiu depois do apito final no Portugal-Holanda?
V.I. - Senti-me terrivelmente cansado. Meu Deus, como consegui levar o jogo até ao fim! Dei o apito final, mas ninguém começou a andar à pancada. Os vencedores festejaram, os vencidos estavam tristes. Mas ninguém pediu explicações.
P. - Ninguém gritou consigo?
V.I. - Até me ofereceram as tradicionais recordações do país... O representante da equipa da Holanda veio dizer obrigado, que o jogo tinha sido difícil... Mas os portugueses ofereceram-me uma camisola da selecção.
P. - Qual foi o mais difícil jogo na sua carreira?
V.I. - Quer que diga que foi o Portugal-Holanda?! É verdade! Não sei quantos quilos de peso perdi, mas foram muitos.
1 comentário:
Obrigado pela publicação da entrevista.
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