sexta-feira, agosto 04, 2006

Iuschenko nomeia rival para evitar desintegração da Ucrânia



Presidente desiste de dissolver o Parlamento e designa Ianukovich, da oposição próxima de Moscovo, para a chefia do Governo em Kiev

Já era madrugada em Kiev, quando o chefe de Estado ucraniano, Victor Iuschenko, anunciou ontem que iria apresentar a candidatura a primeiro-ministro de Victor Ianukovich (na foto), seu rival nas presidenciais de 2004, renunciando à opção de dissolver a Rada Suprema (Parlamento).
A votação na assembleia nacional apenas se realizará hoje, porque Iuschenko só enviou a carta com o nome do seu adversário político depois de Ianukovich ter assinado um pacto de unidade nacional, com vista a garantir a política interna e externa definida pelo Presidente. Além do Partido das Regiões, de Ianukovich, o documento foi assinado também pelo Partido Nossa Ucrânia, de Iuschenko, o Partido Socialista e o Partido Comunista.
"Considero que esta decisão nos dá uma nova oportunidade de unir o país", justificou-se Iuschenko, aludindo às regiões ocidentais da Ucrânia, que aprovam a sua política de aproximação à Europa, e ao Leste e Sul do país, onde uma maioria pró-russa apoia o seu adversário.Depois de sublinhar que a divisão do Estado ucraniano em "dois pólos" é uma "realidade" que se manteria caso se realizassem novas eleições parlamentares, Iuschenko garantiu que o seu desejo é "unir as duas margens do Dniepre" [rio que divide o país a meio] através de um compromisso político, por mais difícil que seja a sua aceitação pelos partidários mais intransigentes do Presidente e do futuro primeiro-ministro.
Iuschenko disse ainda que a assinatura, por parte de Ianukovich e de outros dirigentes da oposição pró-russa, do pacto de unidade nacional compromete-os a respeitar determinadas metas políticas, como o ingresso do país na Organização Mundial do Comércio (OMC), na União Europeia (UE) e na NATO - o principal pomo de discórdia.
A propósito da adesão à Aliança Atlântica, Iuschenko viu-se obrigado a fazer uma cedência importante aos comunistas para que o documento fosse assinado: essa decisão só poderá ser tomada depois de conhecidos os resultados de um referendo popular.
O pacto de unidade nacional chama-se "universal", nome dado nos tempos antigos aos éditos de maior importância dos hetmans, dirigentes políticos e militares ucranianos, bem como aos decretos das primeiras assembleias legislativas do país.
"Este documento é um acto de capitulação política", denunciou Iulia Timochenko, ex-primeira ministra e antiga aliada de Iuschenko durante a Revolução Laranja de 2004, cujo bloco foi a única força política representada no Parlamento que se recusou a assinar o "universal".Timochenko, que defendia a dissolução da Rada Suprema e a convocação de eleições legislativas antecipadas, anunciou que o seu bloco passará a ser a oposição no Parlamento.
A decisão do Presidente da República altera seriamente a correlação de forças anteriormente criada no Parlamento. A maioria "laranja" será substituída por uma ampla coligação em que participarão, na distribuição de pastas e cargos no Governo e na Rada, as quatro forças políticas que assinaram o "universal". Não se pode igualmente excluir a possibilidade de cisão no partido de Iuschenko, Nossa Ucrânia, devido às divergências internas face à decisão do seu líder.

Sem comentários: