As autoridades policiais russas anunciaram que o Mausoléu de Vladimir Lénine (1870-1924), primeiro dirigente da União Soviética, irá encerrar entre 10 de Novembro e 26 de Dezembro deste ano. "O Comando do Kremlin de Moscovo comunica que, devido a um pedido do Centro de Investigação de Tecnologias Biomédicas "Vilar", entre 10 de Novembro e 26 de Dezembro estará encerrado o Mausoléu de V.I.Lénine para a realização de trabalhos regulares de manutenção" - lê-se num comunicado do Serviço Federal de Protecção da Rússia, órgão policial que responde pela segurança do Kremlin e arredores.
O cadáver de V.I.Lénine será retirado da rodoma de vidro e emerso em soluções líquidas especiais para que os tecidos não se deteriorem. O último tratamento foi realizado na Primavera do ano passado e, segundo Iúri Denissov-Nikolskii, director desse Instituto, tudo decorreu "sem surpresas". O cientista garante que, se os tratamentos forem realizados atentadamente, o cadáver ainda poderá ser conservado no Mausoléu nos próximos 100 anos. Quanto ao fato do dirigente comunista, ele foi substituído pela última vez em 2003.
O monumento da polémica
A ideia de embalsamamento do cadáver de Lénine e da sua exibição num mausoléu pertence a Felix Dzerjinski, primeiro chefe da polícia política soviética NKVD-KGB, depois da morte do "dirigente do proletariado mundial". O primeiro mausoléu soviético, construído em madeira, foi aberto ao público em 27 de Janeiro de 1924 na Praça Vermelha de Moscovo, logo após a morte de Lénine.
O monumento funerário que chegou até aos nossos dias foi construído entre Julho de 1929 e Outubro de 1930. Além do cadáver de Lénine, existiam outras actracções ligadas a essa construção: a guarda de honra, que era constituída por agentes dos serviços secretos soviéticos e que se "manteve em sentido" entre 26 de Janeiro de 1924, dia da morte do dirigente comunista, e 6 de Outubro de 1993, bem como os jazigos de uma série de revolucionários, dirigentes, cientistas e astronautas soviéticos. Além disso, junto do mausoléu estão sepultados comunistas estrangeiros, o mais conhecido dos quais é o escritor norte-americano John Reed, autor da obra "Os dez dias que abalaram o mundo".
O mausoléu funcionava, ao mesmo tempo, como tribuna, onde os dirigentes comunistas máximos pronunciavam discursos em ocasições solenes ou assistiam a manifestações de apoio ao regime.
A presença do cadáver de Lénine no mausoléu da Praça Vermelha tem despertado bastante polémica depois do fim do regime comunista. A Igreja Ortodoxa Russa, por exemplo, defende que os restos mortais do dirigente comunista devem ser transladados para o jazigo da família, que se encontra em São Petersburgo. Segundo uma sondagem do Centro Analítico de Iúri Levada, realizada em Abril passado, 51% dos russos apoiam essa posição dos ortoxos, enquanto que 40% consideram que tanto o cadáver como o mausoléu devem ser mantidos na Praça Vermelha. Entre os apoiantes desta posição estão os comunistas russos e pessoas idosas, que viram a sua vida ligada à União Soviética.
Vladimir Putin, Presidente da Rússia, considera que esta não é a melhor altura para resolver definitivamente o problema, pois receia que a retirada do cadáver de Lénine da Praça Vermelha poderá provocar manifestações de protesto. Por isso, deixa a solução do caso para o futuro, quando a descida à terra de Lénine for recebida com a maior das naturalidades na sociedade russa.
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