sexta-feira, setembro 29, 2006

Crise de espiões leva Moscovo a retirar embaixador da Geórgia




A detenção de treze militares russos enfureceu o Kremlin, já indignado com a aproximação de Tbilissi aos EUA e à NATO

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia chamou ontem para consultas o seu embaixador em Tbilissi devido a um conflito diplomático desencadeado pela detenção, pela polícia georgiana, de treze militares russos, acusados de "espionagem". O Kremlin ordenou também a "retirada parcial do pessoal da missão diplomática e dos membros das suas famílias" e "recomenda aos cidadãos russos que se abstenham de viajar para a Geórgia devido à situação criada".
Esta crise grave nas relações entre os dois países, depois de Tblissi ter começado a dar passos de aproximação em relação aos EUA e à NATO, começou na quarta-feira, quando as autoridades georgianas anunciaram a detenção de seis agentes do Serviço de Informação Militar (GRU) da Rússia "por espionagem". Foram também detidos cerca de uma dezena de cidadãos georgianos."Durante meses os oficiais russos participaram em actividades de espionagem e preparavam provocações, pelo que decidimos actuar com diligência para os neutralizar", justificou Vano Merabichvili, ministro do Interior de Tbilissi. O grupo recolhia informação "sobre o programa de cooperação da Geórgia com a NATO, a situação da segurança energética, os partidos da oposição, a importação de armamento e as comunicações ferroviárias e navais", acrescentou.
A polícia georgiana montou ainda um cordão de segurança em torno do quartel-general das tropas na Transcaucásia, em Tbilissi, e exigiu a entrega de mais um oficial russo, também presumivelmente implicado em espionagem e que se encontra refugiado naquele edifício.

Relações tensas

Ontem à tarde, a polícia georgiana deteve mais sete militares russos, agravando o contencioso entre dois países que mantêm tensas relações desde a chegada ao poder do actual Presidente, Mikhail Saakachvili, que não esconde a intenção de aderir à NATO e à União Europeia.Na recente 61.ª Assembleia Geral da ONU, a Geórgia acusou o Kremlin de querer anexar as regiões separatistas da Abkházia e da Ossétia do Sul através da concessão "à socapa" da cidadania russa à sua população. Acusou igualmente Moscovo de pretender impedir "o desenvolvimento democrático da Geórgia".
Serguei Ivanov, ministro russo da Defesa, exigiu a libertação imediata dos militares, considerou os casos de espionagem "inventados" e "ilícita" a detenção dos seus militares. "Isto faz-me lembrar as repressões estalinistas dos anos (19)30. Não ficarei admirado se a Geórgia acusar os militares russos de tentar sequestrar o sol e o céu georgianos", acrescentou Ivanov. As autoridades russas, sublinhou, tomarão "medidas adequadas à provocação" discutirão este assunto na reunião do Conselho Rússia-NATO, que começa hoje na Eslovénia.
Serguei Baburin, vice-presidente da Duma (câmara baixa do Parlamento) em Moscovo, nacionalista, aconselhou as autoridades russas a deter o mesmo número de militares georgianos como medida de represália. Dmitri Rogozin, outro deputado nacionalista, incitou o Kremlin a repetir a experiência israelita no Líbano: "Defendemos (...) que o Presidente use as forças armadas para libertar os militares sequestrados pela Geórgia." O Presidente Putin sabe que a experiência israelita falhou.

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