sexta-feira, setembro 29, 2006

A czarina regressou a São Petersburgo reconciliando a Rússia com o seu passado



Imperatriz Maria Fiodorovna foi sepultada em São Petersburgo, após viagem póstuma a partir da Dinamarca

A imperatriz Maria Fiodorovna (1847-1928) foi ontem sepultada no templo da Fortaleza de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo, ao lado do seu marido, o czar Alexandre III (1845-1894). A cerimónia fúnebre, descrita como a reconciliação da Rússia com o seu passado, foi celebrada por Alexei II, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, na presença de representantes de várias casas reais da Europa e de milhares de anónimos.
No fim da semana passada, a que foi princesa Maria Sofia Frederica Dagmar da Dinamarca iniciou a sua viagem póstuma a partir da Catedral de Roskilde, onde repousava ao lado dos restos mortais dos reis e rainhas dinamarqueses - era filha do rei Cristiano IX - para o reencontro com o seu marido na antiga capital do Império Russo. Esta união ocorre 112 anos depois da morte do czar e 78 depois da sua própria.
No seu testamento, a imperatriz exprimiu a vontade de ser sepultada, logo que possível, junto do czar e, em Julho de 2001, a Casa Real da Dinamarca autorizou a transladação dos restos mortais de Roskilde para São Petersburgo. "O coração da imperatriz permaneceu sempre na Rússia. Durante os últimos anos de vida em Copenhaga, sentiu-se sempre como emigrante", comentou Margarida II da Dinamarca.
A cerimónia, em que as autoridades locais gastaram cerca um milhão de euros, começou de manhã no sumptuoso Palácio de Peterhoff. O cortejo fúnebre passou depois pela residência de Verão dos czares em Tsarskoe Selo. Seguidamente, o féretro foi transladado para a Basílica de Santo Isaac, conhecido como templo dos Romanov, onde o patriarca ortodoxo celebrou um serviço religioso.
A princesa Dagmar mal tinha feito 17 anos quando o herdeiro da coroa russa, o czarevitch Nicolau, visitou a Dinamarca. Apaixonaram-se e combinaram que o encontro seguinte seria no dia do casamento. Nada fazia crer que Nicolau, aparentemente forte e saudável, morresse de tuberculose pulmonar. A jovem casou com o irmão mais novo, o futuro czar Alexandre III. Para isso, ela teve de se converter antes à fé ortodoxa e optar por um nome eslavo: Maria Fiodorovna.
Na Rússia, a sua vida teve dias felizes e ocasiões dramáticas. Maria Fiodorovna deu seis filhos a Alexandre: duas filhas e quatro rapazes, entre eles Nicolau II, o último czar russo, fuzilado pelos bolcheviques. Maria Fiodorovna, tal como o marido, esteve contra o casamento do seu primogénito e herdeiro do trono, Nicolau, com a princesa Alix de Hesse, que tomou o nome eslavo de Alexandra Fiodorovna e manteve uma forte inimizade com ela durante toda a vida. Estas más relações levaram-na a abandonar São Petersburgo e a instalar-se em Kiev, onde assistiu à revolução comunista de 1917. De Kiev fugiu para a Crimeia e, daí, foi levada para Inglaterra num barco enviado pela sua irmã Alexandra, viúva de Eduardo VII.
Até à sua morte, em 1928 em Copenhaga, recusou-se a acreditar que o seu filho e netos tinham sido fuzilados. Pensava que, para se salvarem, tiveram de fugir e não dar sinais de vida por razões de segurança.

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