Ameaças de Moscovo a Tbilissi sobem de tom. Aliança Atlântica pede moderação aos dois países cujos laços se deterioraram
O Tribunal de Tbilissi decidiu ontem manter em prisão preventiva, durante 60 dias, quatro oficiais russos e dez cidadãos georgianos. Os primeiros são acusados de espionagem e os segundos de "traição à pátria".
Estas decisões irão provocar novas reacções e sanções da parte do Kremlin, que exige a "libertação imediata" dos seus militares e considera estar a ser alvo de uma "grave provocação". O ministro georgiano do Interior, Vano Merabichvili, acusou Moscovo de "concentrar tropas junto da fronteira com a Geórgia e de preparar manobras militares de grande envergadura na região".
Segundo as autoridades de Tbilissi, os militares russos são agentes do Serviço de Informação Militar (GRU) e recolhiam, com a ajuda de cidadãos georgianos, informações "sobre o programa de cooperação da Geórgia, a situação da segurança energética, os partidos da oposição, a importação de armamento e as comunicações férreas e marítimas".
A justiça georgiana libertou um quinto militar russo detido, por se tratar de um soldado profissional que trabalhava como condutor dos oficiais russos.
A Rússia apelou às organizações internacionais para que travem a Geórgia e lançou novas ameaças. Moscovo apresentou no Conselho de Segurança das Nacões Unidas um documento em que acusa o Governo de Tbilissi de violar as resoluções da ONU e os acordos sobre as regiões separatistas da Abkházia e Ossétia do Sul.
Moscovo chamou também o seu embaixador em Tbilissi, Viatcheslav Kovalenko, e retirou, em dois aviões, 84 familiares de diplomatas e militares russos que trabalham na Geórgia. Kovalenko declarou, antes da partida, que só regressará depois da libertação dos oficiais russos.
Fora dos prazos
Numa conferência de imprensa depois da cimeira NATO-Rússia, que ontem terminou na Eslovénia, Serguei Ivanov, ministro russo da Defesa, acusou os "novos países da NATO" de venda ilegal de armas à Geórgia. "Não os enumerarei em público, mas na NATO são conhecidos como o grupo de "novos países"", declarou Ivanov numa alusão clara à Estónia, Letónia, Lituânia, Bulgária, Roménia, Eslováquia e Eslovénia, que ingressaram na Aliança em 2004.
Ivanov acrescentou que aqueles países "violam as leis internacionais" e "desacreditam os certificados de venda de armas", assegurando também que os ministros da Defesa dos países "sérios" da NATO estão plenamente de acordo neste ponto.
Direito soberano
Este mês, a Aliança Atlântica decidiu dar início a um "diálogo intenso" com a Geórgia, um passo importante para uma eventual futura integração. O ministro russo comentou que "é um direito soberano da Geórgia decidir se quer ser ou não membro da NATO", mas acrescentou: "Se a Geórgia aderir à NATO, enviaremos duas divisões para a fronteira com esse país para garantir a nossa segurança."
O secretário-geral da NATO, Jaap de Hoop Scheffer, não respondeu publicamente às acusações de Ivanov, mas apelou à "moderação" de ambas as partes do conflito, por enquanto verbal.
Embora tenha assinalado que o conflito "é um assunto bilateral entre a Rússia e a Geórgia em que a NATO não participa", o secretário-geral declarou que um membro da sua equipa conversou com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Geórgia.
O apelo da Aliança não deverá, porém, ter reflexos imediatos e, depois da decisão do Tribunal de Tbilissi, espera-se que o Kremlin aprove novas sanções contra a Geórgia, que podem ir desde o aumento do bloqueio económico até à prisão e expulsão de trabalhadores georgianos, cerca de 500 mil, do território russo.
1 comentário:
Caro leitor, todas as partes do conflito deviam lembrar-se disso.
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