sábado, setembro 30, 2006

Geórgia mantém em prisão preventiva oficiais russos


Ameaças de Moscovo a Tbilissi sobem de tom. Aliança Atlântica pede moderação aos dois países cujos laços se deterioraram

O Tribunal de Tbilissi decidiu ontem manter em prisão preventiva, durante 60 dias, quatro oficiais russos e dez cidadãos georgianos. Os primeiros são acusados de espionagem e os segundos de "traição à pátria".
Estas decisões irão provocar novas reacções e sanções da parte do Kremlin, que exige a "libertação imediata" dos seus militares e considera estar a ser alvo de uma "grave provocação". O ministro georgiano do Interior, Vano Merabichvili, acusou Moscovo de "concentrar tropas junto da fronteira com a Geórgia e de preparar manobras militares de grande envergadura na região".
Segundo as autoridades de Tbilissi, os militares russos são agentes do Serviço de Informação Militar (GRU) e recolhiam, com a ajuda de cidadãos georgianos, informações "sobre o programa de cooperação da Geórgia, a situação da segurança energética, os partidos da oposição, a importação de armamento e as comunicações férreas e marítimas".
A justiça georgiana libertou um quinto militar russo detido, por se tratar de um soldado profissional que trabalhava como condutor dos oficiais russos.
A Rússia apelou às organizações internacionais para que travem a Geórgia e lançou novas ameaças. Moscovo apresentou no Conselho de Segurança das Nacões Unidas um documento em que acusa o Governo de Tbilissi de violar as resoluções da ONU e os acordos sobre as regiões separatistas da Abkházia e Ossétia do Sul.
Moscovo chamou também o seu embaixador em Tbilissi, Viatcheslav Kovalenko, e retirou, em dois aviões, 84 familiares de diplomatas e militares russos que trabalham na Geórgia. Kovalenko declarou, antes da partida, que só regressará depois da libertação dos oficiais russos.

Fora dos prazos

O general Andrei Popov, comandante das tropas russas estacionadas na Transcaucásia (Geórgia, Arménia e Azerbaijão), declarou que a detenção dos seus oficiais "torna problemática a retirada das tropas russas estacionadas na Geórgia nos prazos estabelecidos", ou seja, até finais de 2007.
Numa conferência de imprensa depois da cimeira NATO-Rússia, que ontem terminou na Eslovénia, Serguei Ivanov, ministro russo da Defesa, acusou os "novos países da NATO" de venda ilegal de armas à Geórgia. "Não os enumerarei em público, mas na NATO são conhecidos como o grupo de "novos países"", declarou Ivanov numa alusão clara à Estónia, Letónia, Lituânia, Bulgária, Roménia, Eslováquia e Eslovénia, que ingressaram na Aliança em 2004.
Ivanov acrescentou que aqueles países "violam as leis internacionais" e "desacreditam os certificados de venda de armas", assegurando também que os ministros da Defesa dos países "sérios" da NATO estão plenamente de acordo neste ponto.

Direito soberano

Este mês, a Aliança Atlântica decidiu dar início a um "diálogo intenso" com a Geórgia, um passo importante para uma eventual futura integração. O ministro russo comentou que "é um direito soberano da Geórgia decidir se quer ser ou não membro da NATO", mas acrescentou: "Se a Geórgia aderir à NATO, enviaremos duas divisões para a fronteira com esse país para garantir a nossa segurança."
O secretário-geral da NATO, Jaap de Hoop Scheffer, não respondeu publicamente às acusações de Ivanov, mas apelou à "moderação" de ambas as partes do conflito, por enquanto verbal.
Embora tenha assinalado que o conflito "é um assunto bilateral entre a Rússia e a Geórgia em que a NATO não participa", o secretário-geral declarou que um membro da sua equipa conversou com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Geórgia.
O apelo da Aliança não deverá, porém, ter reflexos imediatos e, depois da decisão do Tribunal de Tbilissi, espera-se que o Kremlin aprove novas sanções contra a Geórgia, que podem ir desde o aumento do bloqueio económico até à prisão e expulsão de trabalhadores georgianos, cerca de 500 mil, do território russo.

1 comentário:

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor, todas as partes do conflito deviam lembrar-se disso.