terça-feira, setembro 19, 2006

Rússia coloca os Estados Unidos e NATO “à frente” dos terroristas



O diário russo “Gazeta” revelou hoje o projecto da nova doutrina militar da Rússia, que deverá ser analisado pelo Governo do país até 1 de Outubro.
Não obstante o documento ter sido discutido no maior dos secretismos, o jornal teve acesso aos princípios fundamentais que irão orientar os militares russos.
“Se a nova doutrina militar for aprovada, a Rússia poderá ingerir-se em conflitos perto das suas fronteiras, fechar os olhos à difusão das armas nucleares e combater contra os adversários prováveis: Estados Unidos, Aliança Atlântica e terrorismo internacional” – escreve o diário “Gazeta”.
A actual doutrina militar russa foi aprovada em 1993, mas, em Abril de 2000, o Presidente Putin introduziu algumas alterações.
A principal diferença entre a nova doutrina militar e o documento aprovado em 2000 consiste na alteração do próprio carácter do documento. A anterior concepção era temporária: “A doutrina militar é um documento do período de transição, do período de formação de um Estado democrático, de uma economia mista, de uma reforma da organização castrense do Estado, de uma transformação dinâmica do sistema de relações internacionais”.
A actual, porém, já é permanente: “A doutrina militar é um documento do Estado democrático, da economia mista...”
Tanto no primeiro como no segundo documento se afirma que “a doutrina militar é defensiva”, mas também aqui há alterações. Foi acrescentado o seguinte parágrafo no capítulo “Bases do emprego das Forças Armadas da Federação da Rússia”: “A Rússia pode recorrer à força para defender os interesses dos seus cidadãos no estrangeiro, se a sua vida for posta em perigo”.
A segunda particularidade fundamental consiste em que, segundo o novo documento, a Rússia poderá participar em conflitos armados junto das suas fronteiras se tiver lugar “a violação de princípios do Direito Internacional que entre na definição de agressão contra os seus cidadãos”.
Esta alteração permitirá a intervenção militar na Abkhásia e Ossétia, regiões separatistas da Geórgia, onde a esmagadora maioria da população já tem cidadania russa.
A terceira diferença encontra-se no capítulo “Garantia da segurança militar”. Por exemplo, se antes a Rússia realizava uma “política militar conjunta” apenas com a Bielorrússia, hoje propõe-se fazer com “os países da Comunidade de Estados Independentes”.
Mas o principal, neste capítulos, é que a Rússia “manifesta-se pela não difusão de armas nucleares e de meios do seu transporte”. Na redacção anterior, estava escrito que o país se manifestava “pelo carácter universal da não difusão de armas nucleares”. Segundo uma fonte militar citado pelo Gazeta, “a renúncia ao “carácter universal” é uma prevenção para o caso de o Irão vir a possuir armas nucleares”.
Entre os princípios que não sofreram alterações está o rol de prováveis adversários da Rússia, que os autores do novo documento e numeram na seguinte ordem: Estados Unidos, NATO, terrorismo internacional.
“O facto de a NATO e os Estados Unidos continuarem a ser apresentados como adversários prováveis é um resquício da doutrina militar soviética. E acho que inadequado. Claro que devemos estar prontos para enfrentar qualquer adversário, mas precisamos do desenvolvimento das Forças Armadas nos conflitos locais” – declarou Serguei Markov, politólogo próximo do Kremlin e director do Instituto de Estudos Políticos.

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