segunda-feira, outubro 23, 2006

Acredite quem quiser


Saparmurat Niazov, Presidente vitalício da Turcoménia (na foto), sofre muito com o culto da personalidade de que é alvo no seu país. Já várias vezes pediu aos seus filhos, pois um dos títulos que ostenta é de "Pai de todos os turcomenos", para deixarem de o elogiar, mas em vão, pois os corações da numerosa prole estão "repletos de amor pelo grande chefe".
Rádios, televisões, jornais e revistas do Estado (porque na Turcoménia não há imprensa privada, nem independente) não se cansam de elogiar, diariamente, a sabedoria e os feitos do genial dirigente, escritor, poeta, etc., etc.
Saparmurat Niazov, conhecido pela sua "modéstia", indignou-se uma vez mais e veio à televisão declarar. "Peço aos trabalhadores intelectuais que não exagerem nos elogios, não me elevem. Sinto grande dificuldade em aguentar tudo isso. Se tivesse aqui ao lado um buraco, cairia dentro dele para fugir aos vossos elogios".
"Ajudai-me para que eu possa viver em paz. Se não me elogiarem, isso será uma grande ajuda para mim" - suplicou o pai aos filhos.
Em 2001, Saparmurat Niazov queixou-se do mesmo e prometeu que "a situação será em breve emendada e as insuficiências no trabalho eliminadas", mas apenas se registou mais um aumento da onda de culto da personalidade.
Em 2003, Turkmenbachi, que na língua local significa "pai de todos os turcomenos", anunciou um concurso entre jornalistas de televisão com o tema "Aquele que menos elogia Turkmenbachi", sublinhando o baixo trabalho dos profissionais do ecrã que "em vez de concorrerem entre eles, copiam-se uns aos outros". No ano seguinte, Saparmurat Niazov apelou aos membros do Governo turcomeno para que não criassem o culto da personalidade. "Vocês gabam-me demais. Fico muito triste quando vejo que todos os êxitos da época da independência da Turcoménia são ligados ao meu nome. Na realidade, trata-se de um mérito de todo o povo turcomeno" - afirmou o dirigente de uma das mais cruéis ditaduras na Ásia, acrescentando: "Estou pronto a desaparecer pela terra abaixo quando ouço odes elogiosas. Não há canção que não seja dedicada a mim. Nem sei para onde desviar o olhar de vergonha".
Tudo em vão, a onda de "amor" e "carinho" pelo grande dirigente transborda para além das fronteiras do país. Talvez dessa forma o povo turcomeno tente fazer com que o seu Niazov cumpra a sua promessa e desapareça por um "buraco" ou "pela terra abaixo".

2 comentários:

Pipapakigrafo disse...

Esse adiantou-se ao nosso caro Alberto Joao Jardim..... E para lá caminha já há muito no "nosso queridísso" José Saramago...

Salucombo_Jr. disse...

Será tanta simplicidade ou inteligencia a mais?

Gosto de ler-te.