segunda-feira, dezembro 11, 2006

Contributos para a História - Angola



Há uns meses atrás, quando comecei a escrever este blog, falei de um livro que tinha sido acabado de publicar em Moscovo: "Tropas especiais russas em África", do veterano de guerra Serguei Kolomnin.
Li o livro de uma ponta à outra, de lápis na mão, e encontrei alguns trechos e dados curiosos. Aqui ficam, para historiadores e curiosos em geral.
"Para onde nos levou, amigo,
Uma causa, talvez, grande e necessária?
E responderam-nos: "Vós não pudesteis ter lá estado,
E o sangue russiano não tingiu a terra de Angola..."
Trata-se dos versos de um poema que, mais tarde, foi transformado na canção "Vós não pudesteis ter lá estado", por Alexandre Polivin, tradutor militar soviético. durante os combates na "Estalinegrado angolana": cidade de Quito-Quanavale. Em 1978 e 1979, os seus arredores foram transformados num campo de batalha cruel entre as tropas angolano-cubanos e as sul-africanas, com a participação de centenas de tanques e carros blindados, dezenas de aviões de combate e helicópteros. Nos jornais soviéticos nunca se escreveu que combateram e morreram militares nossos nas batalhas em Quiro-Quanavale. Mais, em 1989, o Ministério dos Negócios Estrangeiros soviético, respondendo às acusações crescentes da comunidade ocidental de que militares soviéticos participavam em acções militares em África, Ásia e América Latina, anunciou oficialmente que "os conselheiros militares soviéticos não participam em operações militares no estrangeiro".
Então, deram claramente a entender aos nossos militares que estavam nas trincheiras angolanas que a situação política mudára. Chegára a perestroika e o "novo pensamento", que pressupunham outras abordagens na solução de conflitos regionais. Mas, por alguma razão, "esqueceram-se" de prevenir disso os guerrilheiros do grupo-antigovernamental da UNITA e estes continuavam a disparar com todas as armas.
Quando, em Fevereiro de 1990, as tropas governamentais angolanas, com a participação dos nossos conselheiros, realizaram uma operação para derrotar o agrupamento da UNITA e tomar a sua praça força: Mavinga, a Luanda chegou uma comissão da ONU para realizar uma inspecção. Na véspera, todos os nossos conselheiros e tradutores militares que se encontravam em Quito-Quanavale foram urgentemente evacuados, no avião do general P. Gussev, conselheiro militar principal em Angola, para Menong e a nossa missão militar foi encerrada. Quando o comissão terminou o seu trabalho, convencida de que não havia um soviético na região dos combates, todos os militares soviéticos, por ordem do conselheiro militar principal, voltaram para lá... para o lugar onde eles oficialmente não deviam encontrar-se".

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