sexta-feira, dezembro 29, 2006

Contributos para a História (Angola)


Encontrei um artigo curioso sobre a História de Angola no semanário “Pogranitchnik Severo-Vostoka” (Guarda-Fronteiriço do Nordeste, Nº31 de 9-15 de Agosto de 2006) da Direcção de Fronteiras da Guarda Costeira do Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia.
A jornalista Tatiana Chevliakova relata memórias do coronel na reserva Victor Negru, que prestou serviço militar nos fuzileiros navais, tendo combatido no Vietname e Angola: “Recebemos dos nossos agentes de reconhecimento que estava em curso um atentado contra o dirigente do MPLA. Estava planeado raptar Agostinho Neto durante uma viagem sua pelo país. O atentado deveria ocorrer na cidade do Bié. Claro que Agostinho tinha a sua própria guarda. Porém, os dados dos serviços de reconhecimento diziam que as forças que se preparavam para o rapto eram bem mais sérias do que as que garantiam a segurança do presidente. Foram enviados urgentemente para o Bié destacamentos especiais soviéticos.
O combate entre os guardas de Agostinho e os raptores foi difícil. Era preciso defrontar um adversário sério, muito bem preparado. A luta por Agostinho Neto não se limitou a um tiroteio. Rapidamente ao fogo de armas se seguiu o combate corpo a corpo. As baixas de ambos os lados foram significativas. A segurança do dirigente do MPLA perdeu metade dos homens. Então, a União Soviética pagou com a vida de sete oficiais a vida do presidente”.
Neste artigo, escreve-se também: “Considera-se que, no período até 1991, em África morreram em combate ou devido a ferimentos e doenças 2454 cidadãos soviéticos, nomeadamente 250 oficiais, 565 cabos, 1300 praças, os restantes eram civis, e cerca de sete mil foram feridos. Porém, estes dados estão longe de corresponder à intensidade das acções militares e ao nível de envolvimento das tropas soviéticas nelas. Por isso, existem fundamentos para considerar que as suas baixas foram bem mais altas”.
A União dos Veteranos de Angola (emblema, na foto), organização que reúne antigos cidadãos soviéticos que combateram ao lado do MPLA, não concorda com o que foi relatado no citado artigo.
“A segurança dos dirigentes do MPLA e dos presidentes da República de Angola, A.Neto e J.E.Santos, era garantida apenas por angolanos e cubanos, tropas especiais soviéticas nunca foram chamadas para semelhantes tarefas. Não obstante a participação das nossas tropas especiais nesses acontecimentos continuar a ser um tema bastante delicado, os membros da nossa organização, antigos funcionários dos destacamentos especiais “Kaskad”, “Omega” e “Vimpel” do KGB da URSS, que trabalharam em África em várias épocas, não confirmam os factos expostos no artigo. Nomeadamente, em Angola, contra a UNITA e as tropas especiais da África do Sul nunca actuaram destacamentos especiais, constituídos por militares soviéticos. Os nossos militares estiveram lá como conselheiros e peritos” – lê-se num comunicado publicado pela União de Veteranos de Angola.
Esta organização põe também em causa o número de baixas publicado.
“Até 1991, em Angola, morreram em combate e faleceram 54 cidadãos soviéticos, nomeadamente 54 oficiais, 5 cabos, 2 soldados, dois funcionários civis, e 10 ficaram feridos. Um militar foi feito prisioneiro” – estes são dados oficiais do Ministério da Defesa da União Soviética.
Os veteranos da guerra de Angola consideram que “existem razões para considerar que as perdas soviéticas em Angola foram maiores (do que os dados oficiais), mas não as citadas no artigo”.

P.S. Eu sei que há angolanos e estudiosos da História de Angola entre os leitores do blog, e talvez alguns até tenham participado em acontecimentos por mim abordados. Por isso, não seria mau se acrescentassem elementos novos a estas memórias. Talvez ajudassem a esclarecer muitas das dúvidas e a refutar numerosas mentiras e mitos sobre os conflitos em Angola.

2 comentários:

Anónimo disse...

Talvez ainda seja cedo. Ou talvez não interesse desvendar a verdade.
Mas também gostava de saber.
Abraços.

JMPP disse...

O Bié não é uma cidade.
É uma província.
Estaria a referir-se ao Kuito (capital do Bié)?