segunda-feira, março 19, 2007

Contributos para História de Portugal


Durante a minha longa actividade como jornalista e historiador na Rússia, deparei e continuo a deparar com casos curiosos de contactos entre Portugal e a Rússia ao longo dos séculos. Um deles é a influência do pensamento e da actividade de António de Oliveira Salazar no actual pensamento político russo.
Este tema sofreu um forte impulso depois da chegada ao Kremlin do Presidente Putin, em 2000, quando na Rússia se começa a discutir o rumo a tomar pelo país.
Vou limitar-me a publicar textos escritos sobre o tema, sem qualquer tipo de comentário, porque as conclusões são tiradas pelos meus leitores. Publicarei também os dados sobre as obras de onde foram retirados textos e citações para puderem ser utilizados por estudiosos que se interessam por esta matéria.
Estas notas ajudarão também a compreender que tipo de imagem de Portugal chega à Rússia.

"Cravos Vermelhos para António Salazar".

Dan Medovnikov. In revista "Ekspert" Nº 22 (282) de 11 de Junho de 2001

“...Chegado ao poder em 1932, o professor de economia António Salazar coloca perante si a tarefa de renascimento do Grande Portugal. Na base do Estado Novo são colocados vários axiomas simples: a unidade da nação, a organização corporativa do Estado, o apoio no mercado interno e o catolicismo extremo. Por estranho que pareça, no país começou um crescimento económico nunca visto. Desenvolveram-se as indústrias ligeira e pesada, a moeda nacional reforçou-se, Lisboa transformou-se num grande estaleiro, foi construída a famosa ponta no rio Tejo e apreceram novas praças e bairros, que continuam a definir em grande parte o rosto da capital portuguesa. Salazar, não obstante a sua simpatia para com Mussolini, conseguiu conservar a neutralidade na Segunda Guerra Mundial e conceder atempadamente as ilhas dos Açores como base naval da Armada da Grã-Bretanha.

A tentativa de modernização de Portugal terminou em 1974 com a revolução dos “cravos vermelhos” e com a chegada da esquerda ao poder. A economia nacional começa novamente a degradar-se e os sonhos de aproximação ao primeiro mundo mostram ser cada vez mais ilusórios. Portugal transforma-se num dos país europeus mais pobres. Em parte, a salvação está nos subsíduos da UE (em 1986, Portugal ingressou nessa organização), mas, em geral, a saúde económica do país deixa muito a desejar: as docas, que se estendem ao longo do cais lisboeta, estão paradas; o país, situado numa faixa climatérica favorável, tem de importar carne e trigo. E não só trigo! A falta de peixe no mercado interno é compensada por fornecimentos da Islandia, Noruega e Rússia. O parque automóvel de Portugal está fortemente estragado e nos velhos bairros da cidade não há canalização. Tentem subir pelas ruelas sinuosas de Lisboa até ao castelo principal da cidade (que sobreviveu ao terramoto): Sao Jorge Castle (sic)! O turista distraído, durante todo o caminho, arrisca-se a pisar excrementos humanos.

Porém, agora, as prostitutas lisboetas de segmento médio e alto satisfazem as suas “ambições coloniais” de forma bastante original. Uma das herdeiras do Grande Portugal que prefere trabalhar com estrangeiros abastados, respondeu-me sinceramente sobre os motivos que a levaram a escolher essa profissão: “Compreendes, eu trabalho o ano inteiro e, depois, vou passar um mês a gozar na nossa antiga colônia: Brasil. Aí sinto-me como uma senhora de respeito e, imagina, as prostitutas locais são bem mais baratas”.

Henry Kissinger, recentemente, declarou que a Rússia de Putin será semelhante a Portugal da era da ditadura de António Salazar. Mesmo se não entrarmos em pormenores da politilogia comparativa, compreendemos que o antigo Secretário de Estado dos EUA nos queria ofender. O vosso correspondente (o autor do texto) já tinha ficado indignado na prática, mas, no mês passado, teve a oportunidade de visitar Lisboa e conhecer Portugal mais pormenorizadamente. Afinal, não há motivos para ficar indignado”.




Sem comentários: