sábado, março 17, 2007

Um exemplo a seguir

Os empresários portugueses são conhecidos por terem muito receio de arriscar em mercados emergentes, como é o caso do russo. Mas começa a ser maior o número dos homens de negócios lusos que se conseguem impôr na Rússia. Deles irei falar sempre que surjam novidades.
O texto abaixo publicado constitui uma conversa que tive, enquanto correspondente da Agência Lusa, com Carlos Torres, Presidente do Conselho de Administração da RESUL, em Moscovo.


A RESUL, Equipamentos de Energia S.A., é a única empresa portuguesa presente na Feira Internacional de Material Eléctrico de Moscovo e pretende ser um exemplo para os empresários portugueses no mercado russo.

“A nossa empresa está no mercado russo há apenas dois anos, mas as perspectivas, depois desta feira, são muito boas” – declarou à Lusa Carlos Torres, Presidente do Conselho de Administração da empresa que fabrica e exporta acessórios e equipamentos para redes exteriores de distribuição de energia.

Carlos Torres avançou alguns números para sublinhar o êxito deste empresa no mercado russo: “No ano passado, vendemos material eléctrico à Rússia no valor de 1,6 milhões de euros, mas, este ano, o valor deverá subir para 2,6 milhões. Decidimos investir 3,5 milhões de euros no aumento da produção com vista ao mercado russo e fizemos isso em boa hora”.

“Chegámos à Rússia de forma curiosa – recorda Carlos Torres. – Ou melhor dizendo, foram os russos que vieram ter connosco a Portugal. Primeiro, veio uma empresa russa pedir os preços da nossa produção, depois uma segunda, terceira... o que me levou a fazer as malas e a vir a Moscovo conhecer de perto os clientes e este mercado”.

“Fiquei surpreendido com as possibilidades de negócio que aqui encontrei e só não compreendo porque é que os empresários portugueses têm medo de vir para este mercado. Na Rússia não há só um grande mercado, mas muito dinheiro!” – exclama o presidente da RESUL.

Criada em 1982, esta empresa limitou-se, inicialmente, a produzir material eléctrico para o mercado nacional, mas, hoje, já exporta para 23 países.

“Os nossos empresários dizem que o nosso mercado é pequeno, mas isso é um erro. A globalização tem pelo menos um aspecto positivo: criou um imenso mercado. Na nossa área, cheguei aqui e vi que há milhares de quilómetros para electrificar” – considera o empresário luso, e acrescenta: “Não somos um gigante industrial, mas uma PME, o que não nos impede de entrar em mercados tão grandes. Temos a vantagem de ser mais flexíveis”.

Carlos Torres contou à Lusa que, quando abriu o stand da empresa na Feira Internacional de Moscovo, foi visitado por gerentes de uma empresa ucraniana que já vende produtos da RESUL, comprados através da Rússia.

“Eu não queria acreditar. Já somos conhecidos na Ucrânia. A empresa ucraniana até já certificou os nossos produtos no seu país, e nós desconhecíamos isso” – sublinhou Carlos Torres, acrescentando que “agora, os ucranianos vieram ter connosco para fazer importações directas”.

Carlos Torres não está de acordo que o mercado russo é uma “selva”, chamando a atenção para o seguinte facto: “os nossos parceiros russos já têm uma certa logística organizada. Nós colocamos os nossos produtos num depósito que eles têm em Berlim e eles fazem chegá-los ao seu país. Há diferenças de mentalidade, mas são superáveis”.

Na Rússia, a RESUL tem forte concorrência da parte de empresas francesas e chinesas, mas Carlos Torres, pelo menos por enquanto, não se sente preocupado: “Em comparação aos franceses, propomos preços mais baixos por produtos de qualidade semelhante, que são conseguidos através da redução das margens do lucro. Em relação aos chineses, os nossos produtos são de muita maior qualidade”.

Quanto a planos futuros, o empresário português está optimista, mas prefere ser cauteloso: “Já nos perguntaram se não pretendemos construir uma fábrica na Rússia. Estamos a pensar nisso, mas vamos avançar passo a passo. Neste fase, a situação existente serve-nos na perfeição. Estamos num sector que está na moda: energético, mas a concorrência é alta”.

“Estudamos também a possibilidade de entrar nos mercados da Roménia e da Bulgária, que aderiram recentemente à União Europeia e necessitam de modernizar as suas infraestruturas. Mas temos sempre em conta que somos uma PME” – concluiu Carlos Torres.

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