A cimeira Rússia-União Europeia, que se realizará nos próximos dias 17 e 18 na cidade russa de Samara, terá como objectivo tirar as relações bilaterais do impasse. Os problemas são muitos e o Kremlin junta “argumentos” para o diálogo com a UE.
Segundo fontes diplomáticas na capital russa, a delegação europeia, que será dirigida pela chanceler alemã Angela Merkel, irá abordar com os dirigentes do Kremlin questões como a instalação de sistemas de defesa anti-míssil norte-americanos na Polónia e na República Checa, o fornecimento de combustíveis, a segurança nuclear e resíduos nucleares, o estatuto do Kosovo, direitos humanos na Rússia, a prolongação do Acordo de Cooperação da Rússia com a União Europeia e a situação em torno da transferência do monumento ao Soldado Soviético do centro de Tallinn para um cemitério militar nos arredores da capital estónia.
A prioridade vai para o problema das fontes de energia. Moscovo fornece 25% do gás e do petróleo consumidos pelos países da UE e a política russa no campo da exportação de hidrocarbonetos para o Velho Continente provoca apreensões cada vez maiores no seio da UE. Ainda não foram esquecidos os cortes de gás à Ucrânia no início de 2006 e o Kremlin suspende, no mês corrente, o transporte de petróleo através do território da Estónia e monopoliza a exportação de gás natural da Turcoménia através de acordo com esse país e o Cazaquistão com vista à construção de um novo gasoduto pelo território desses países da Ásia Central.
A agência de informação russa RIA-Novosti, citando uma fonte anónima no Kremlin, escreve que o gasoduto planeado “dá à Rússia novos argumentos no diálogo com a UE”.
No campo da segurança nuclear, a UE pediu à Rússia para desligar os reactores nucleares da primeira geração, visto que a sua modernização, em conformidade com as exigências da segurança internacional, é demasiadamente despendiosa.
Moscovo, porém, prolonga o funcionamento de reactores do tipo dos que provocaram a catástrofe de Tchernobil em centrais que se encontram perto das fronteiras da UE. O último encontro do grupo de trabalho Rússia-UE para a segurança nuclear teve lugar em 2002 e, em 2005, a Rússia declarou não estar interessada em novos encontros.
Causa igualmente preocupação a Bruxelas o estado de conservação dos resíduos nucleares russos. Segundo o jornal electrónico newsru.com, a Armada do Mar do Norte da Rússia “tem atracados 110 submarinos nucleares velhos. Nesses vasos estão instalados mais de 200 reactores atómicos, bem como 20 mil elementos de combustível utilizado de submarinos e quebra-gelos que estão conservados em condições não satisfatórias”.
Será difícil o diálogo em torno do estatuto do Kosovo. A Rússia ameaça empregar o seu direito ao veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas caso seja posta à votação o plano de “Mart Ahtisaari”, apoiado pela UE e os Estados Unidos e que conduz à independência do Kosovo em relação à Sérvia.
Também não deverá ser pacífica a abordagem da situação dos direitos e liberdades do homem na Rússia. A UE tem manifestado preocupação com a “redução do pluralismo nos órgãos de informação” e com os “ataques impunes contra os jornalistas”.
Além disso, o Kremlin proibiu a realização de uma “Marcha dos Discordantes”, que a oposição ao Presidente Putin convocou para Samara para os dias da cimeira, não obstante Bruxelas ter apelado às autoridades russas para autorizarem essa manifestação.
Por fim, as partes terão também de impulsionar as conversações sobre a assinatura de um novo acordo de cooperação, documento que norteia as relações entre a Rússia e a União Europeia.
Actualmente, as conversações são bloquedas pela Polónia, que exige o fim do embargo russo à sua carne. Além disso, a Lituânia ameaça também bloqueá-las se a Rússia não restabelecer os fornecimentos de petróleo à refinaria lituânia de Mazeikiai. Moscovo fala de problemas técnicos, mas Vilnius inclina-se para ver nisso razões políticas.
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