segunda-feira, maio 14, 2007

Cimeira Rússia/União Europeia em tempo de crise


A poucos dias do início da Cimeira de Samara, alguns politólogos russos consideram que as relações entre a Rússia e a União Europeia atravessam a maior crise depois da queda do Muro de Berlim, em 1989.

O arrefecimento das relações entre as partes começou a manifestar-se no início de 2006, quando a Rússia, desejando pressionar as autoridades ucranianas, cortou o fornecimento de gás pelos tubos que atravessam o território da Ucrânia, prejudicando assim alguns clientes na União Europeia.

Na mesma altura, Moscovo proibiu a importação de carne da Polónia, alegando “razões sanitárias”, mas Varsóvia considera isso castigo pelo apoio dado pelos polacos à “revolução laranja” na Ucrânia e ao movimento democrático na vizinha Bielorrússia.

O Governo da Polónia respondeu com o bloqueio das conversações entre a Rússia e a União Europeia sobre a assinatura de um novo acordo de cooperação. A vigência do actual documento que norteia as relações entre Moscovo e Bruxelas termina no fim do ano corrente.

Em Junho de 2006, a pretexto de uma avaria no oleoduto “Drujba”, a Rússia suspendeu o fornecimento de petróleo à refinaria lituana de Mazeikiai, a única existente nos países do Báltico.

As obras de reparação no tubo não começaram até hoje e Vilnius considera que a razão da suspensão do fornecimento de petróleo é puramente “política” e deve-se ao facto de o Governo lituano ter preferido vender a refinaria de Mazeikiai a uma empresa polaca e não a uma russa.

No Domingo, o Presidente da Lituâna, Valdas Adamkus, ameaçou bloquear também as conversações entre a UE e a Rússia se o fornecimento de petróleo não for restabelecido.

A decisão dos Estados Unidos de instalar sistemas de defesa anti-míssil no território da Polónia e da República Checa veio azedar ainda mais as relações entre Moscovo e Bruxelas. O Presidente Putin respondeu, em Abril passado, com a suspensão do cumprimento do Tratado sobre as Forças Convencionais na Europa por parte do seu país.

A situação deteriorou-se ainda mais quando o Governo da Estónia decidiu, nos finais de Abril, retirar o monumento ao Soldado soviético do centro de Tallinn para um cemitério militar nos arredores da capital estónia. A posição moderada tomada por Bruxelas não aplacou a ira do Kremlin, que promete levar a discussão desse conflito para a Cimeira de Samara.

Não se trata de atritos ou conflitos pontuais, mas tudo isso é consequência da adesão dos países da Europa Central e Oriental à União Europeia, principalmente dos países do Báltico: Estónia, Letónia e Lituânia. Por muito que a Rússia afirme ter aceitado essa realidade, o Kremlin continua a orientar-se pela doutrina brejneviana da “democracia limitada”, que justificava a ingerência soviética nos assuntos dos países vizinhos.
Por outro lado, os países da chamada “Nova Europa” levaram para dentro da UE as suas suspeitas e receios face a Moscovo, mas, considerando não ter em Bruxelas toda a protecção necessária ( o pacto Molotov-Ribbentrop que dividiu a Europa do Leste entre Hitler e Estaline continua a ser um fantasma), aproximam-se muito dos Estados Unidos, o que irrita ainda mais os dirigentes do Kremlin.

Vladimir Putin, além do mais, pode contar cada vez menos com os seus “amigos” na União Europeia. Substituído por Angela Merkel no cargo de chanceler, Herhard Schroder aceitou continuar a sua carreira na empresa russa Gazprom. Nicolas Sarkozy vai suceder a Jacques Chirac na presidência francesa. Políticos pragmáticos, os dirigentes alemão e francês compreendem o papel da Rússia na Europa e no mundo, mas são menos vulneráveis ao “charme” do Presidente da Rússia.

As previsões dos politólogos russos não são muito optimistas quanto aos resultados da Cimeira de Samara, por isso, Portugal arrisca-se a herdar todos estes problemas na sua presidencia da União Europeia.

1 comentário:

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

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