A cimeira entre Portugal e Rússia, que vai decorrer em Moscovo entre 27 e 29 de Maio, surge como um dos pontos mais altos nas relações diplomáticas entre os dois países, marcadas ao longo dos séculos por altos e baixos relacionados sobretudo com a conjuntura internacional.
Considera-se que as relações diplomáticas entre Portugal e a Rússia foram estabelecidas em 1779, quando a Imperatriz Catarina II e a Rainha D. Maria II trocaram embaixadores.
Porém, os contactos entre os dois países, embora esporádicos, são muito anteriores a esse ano. O primeiro documento russo onde se refere o nome de Portugal data do início do séc. XV. O grande poeta português Luís de Camões, no canto onde descreve o assassinato de Inês de Castro, põe na boca da amada de D.Pedro I as palavras dirigidas ao rei Afonso IV: "Mas, se to assim merece esta inocência/Põe-me em perpétuo e mísero desterro/ Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente/Onde em lágrimas viva eternamente". A "Cítia fria" era o nome lendário da Sibéria.
As viagens do czar Pedro I (1672-1725) a vários países europeus, em 1697, vieram alargar fortemente os horizontes e os interesses da diplomacia russa, dando início à política de abertura da "janela para Europa". A saída para o Mar Báltico, conquistada pela força das armas russas, vai constituir a "janela" que dá acesso ao Atlântico e depois ao Mediterrâneo.
Pedro I, o Grande, certamente conhecia Portugal, pois tinha perto de si dois judeus portugueses que ocuparam importantes cargos na sua corte: António Vieira (em russo Devier), primeiro chefe da polícia de São Petersburgo, nova capital da Rússia que ele ajudou a construir, e João da Costa, culto bobo do czar russo. Na corte imperial teve também grande influência o médico português Ribeiro Sanches a quem é creditado o mérito de muito ter contribuído para a formação dos seus colegas russos.
Pedro revela interesse concreto por Portugal apenas no fim do seu reinado, em 1722, quando decide que "também é preciso para Portugal um cônsul".
Esta decisão não teve continuidade e tentativas de estabelecimento de relações comerciais e diplomáticas entre a Rússia e Portugal, voltam a ser empreendidas pela czarina Elizabete, filha de Pedro I, em meados do séc. XVIII.
Mas esse processo só tem êxito no reinado de Catarina Grande, quando a Rússia passa a ter interesses estratégicos no Mediterrâneo e Lisboa transforma-se numa base de apoio aos seus navios comerciais e militares. Além disso, os dois países procuram novos mercados para os seus produtos.
À medida que as relações diplomáticas e comerciais se intensificam entre os dois países, aumentam também os contactos a outros níveis, nomeadamente no campo do intercâmbio de ideias. Por exemplo, as camadas cultas da sociedade russa seguem atentamente as revoltas liberais em Portugal e Espanha no séc. XIX.
"Para além dos Pirenéus/ a liberdade dirige os destinos do povo/ E apenas o Norte continua coberto pelo despotismo", escrevia o poeta russo Alexandre Puschkin. Pavel Pestel, dirigente da revolução liberal russa falhada de Dezembro de 1825, dizia, nos interrogatórios a que foi sujeito pela polícia: "Os acontecimentos em Nápoles, Espanha e Portugal... reforçaram em mim os sentimentos republicanos e revolucionários".
As relações entre Portugal e a Rússia vão sofrendo altos e baixos, dependendo fortemente da conjuntura internacional. No início do século XX, durante a guerra russo-japonesa, Portugal declarou a sua neutralidade e recusou-se a fornecer carvão e mantimentos à esquadra russa que passaria por Lisboa na viagem do Báltico para o Extremo Oriente. Lisboa temia represálias dos japoneses contra Macau.
Por altura da implantação da república em Portugal em 1910, a corte russa reconhece o novo regime após algumas hesitações, mas a diplomacia portuguesa não fez o mesmo face à revolução comunista de 1917, dando início a uma ruptura de relações que terminou apenas após o 25 de Abril de 1974.
Portugal vê-se então envolvido na guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, sendo de assinalar que a sensatez e precaução da política externa soviética contribuíram, segundo vários analistas regionais, para evitar um banho de sangue em Portugal em 1975. Moscovo, revelam os documentos dos arquivos soviéticos, não apoiou a intenção da direcção do Partido Comunista Português de, copiando as teses de Lenine, passar da fase da "revolução democrático-burguesa" para a "revolução socialista".
Nos últimos anos, as relações bilaterais têm sofrido forte incremento, principalmente depois do Governo de José Socrates ter colocado a Rússia entre as prioridades da política externa portuguesa.
Considera-se que as relações diplomáticas entre Portugal e a Rússia foram estabelecidas em 1779, quando a Imperatriz Catarina II e a Rainha D. Maria II trocaram embaixadores.
Porém, os contactos entre os dois países, embora esporádicos, são muito anteriores a esse ano. O primeiro documento russo onde se refere o nome de Portugal data do início do séc. XV. O grande poeta português Luís de Camões, no canto onde descreve o assassinato de Inês de Castro, põe na boca da amada de D.Pedro I as palavras dirigidas ao rei Afonso IV: "Mas, se to assim merece esta inocência/Põe-me em perpétuo e mísero desterro/ Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente/Onde em lágrimas viva eternamente". A "Cítia fria" era o nome lendário da Sibéria.
As viagens do czar Pedro I (1672-1725) a vários países europeus, em 1697, vieram alargar fortemente os horizontes e os interesses da diplomacia russa, dando início à política de abertura da "janela para Europa". A saída para o Mar Báltico, conquistada pela força das armas russas, vai constituir a "janela" que dá acesso ao Atlântico e depois ao Mediterrâneo.
Pedro I, o Grande, certamente conhecia Portugal, pois tinha perto de si dois judeus portugueses que ocuparam importantes cargos na sua corte: António Vieira (em russo Devier), primeiro chefe da polícia de São Petersburgo, nova capital da Rússia que ele ajudou a construir, e João da Costa, culto bobo do czar russo. Na corte imperial teve também grande influência o médico português Ribeiro Sanches a quem é creditado o mérito de muito ter contribuído para a formação dos seus colegas russos.
Pedro revela interesse concreto por Portugal apenas no fim do seu reinado, em 1722, quando decide que "também é preciso para Portugal um cônsul".
Esta decisão não teve continuidade e tentativas de estabelecimento de relações comerciais e diplomáticas entre a Rússia e Portugal, voltam a ser empreendidas pela czarina Elizabete, filha de Pedro I, em meados do séc. XVIII.
Mas esse processo só tem êxito no reinado de Catarina Grande, quando a Rússia passa a ter interesses estratégicos no Mediterrâneo e Lisboa transforma-se numa base de apoio aos seus navios comerciais e militares. Além disso, os dois países procuram novos mercados para os seus produtos.
À medida que as relações diplomáticas e comerciais se intensificam entre os dois países, aumentam também os contactos a outros níveis, nomeadamente no campo do intercâmbio de ideias. Por exemplo, as camadas cultas da sociedade russa seguem atentamente as revoltas liberais em Portugal e Espanha no séc. XIX.
"Para além dos Pirenéus/ a liberdade dirige os destinos do povo/ E apenas o Norte continua coberto pelo despotismo", escrevia o poeta russo Alexandre Puschkin. Pavel Pestel, dirigente da revolução liberal russa falhada de Dezembro de 1825, dizia, nos interrogatórios a que foi sujeito pela polícia: "Os acontecimentos em Nápoles, Espanha e Portugal... reforçaram em mim os sentimentos republicanos e revolucionários".
As relações entre Portugal e a Rússia vão sofrendo altos e baixos, dependendo fortemente da conjuntura internacional. No início do século XX, durante a guerra russo-japonesa, Portugal declarou a sua neutralidade e recusou-se a fornecer carvão e mantimentos à esquadra russa que passaria por Lisboa na viagem do Báltico para o Extremo Oriente. Lisboa temia represálias dos japoneses contra Macau.
Por altura da implantação da república em Portugal em 1910, a corte russa reconhece o novo regime após algumas hesitações, mas a diplomacia portuguesa não fez o mesmo face à revolução comunista de 1917, dando início a uma ruptura de relações que terminou apenas após o 25 de Abril de 1974.
Portugal vê-se então envolvido na guerra fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, sendo de assinalar que a sensatez e precaução da política externa soviética contribuíram, segundo vários analistas regionais, para evitar um banho de sangue em Portugal em 1975. Moscovo, revelam os documentos dos arquivos soviéticos, não apoiou a intenção da direcção do Partido Comunista Português de, copiando as teses de Lenine, passar da fase da "revolução democrático-burguesa" para a "revolução socialista".
Nos últimos anos, as relações bilaterais têm sofrido forte incremento, principalmente depois do Governo de José Socrates ter colocado a Rússia entre as prioridades da política externa portuguesa.
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