terça-feira, maio 22, 2007

Sonho com eleições em Lisboa como fundo


Nos últimos tempos, tenho andado com insónias e, para adormecer, deito-me na cama com o computador portátil pousado na barriga e navego na net até adormecer.
Um dia destes, aconteceu que adormeci quando lia artigos sobre as eleições intercalares para a Câmara de Lisboa. E comecei a sonhar que Iúri Lujkov, que na realidade dirige a Câmara de Moscovo, vencera as eleições municipais na capital portuguesa, embora não me recordo com que apoios.
No dia a seguir à vitória esmagadora, Lisboa começou a mudar a olhos vistos. Após rápidas consultas com os municípios da margem Sul do Tejo, Lujkov decidiu prolongar o Túnel do Marquês até ao Barreiro a fim de resolver o problema do tráfico. Como se tratava de uma obra de grande envergadura, teve de recorrer ao apoio da edilidade de Oeiras, que aceitou imediatamente a proposta desde que o citado túnel viesse até Algés e aí mergulhasse nas águas do rio.
Rapidamente, a marginal do Tejo cobriu-se de luzes das numerosas casas de jogo e casinos, que se estenderam do Parque das Nações até Cascais. Junto a cada paragem de autocarro e às saídas de centros comerciais, nos adros de igreja, etc. apareceram máquinas de jogo, onde muitos dos reformados estoiravam as suas pensões logo que as recebiam nos correios.
A prostituição continuou a ser proibida por lei, mas Lujkov fazia de conta não ver as romarias de mulheres e homens da noite na Avenidade da Liberdade.
Em prol do "enobrecimento" da cidade de Lisboa, Lujkov acabou com os bairros de lata e sociais na capital e transferiu os moradores para o Sul do Tejo ou para Vila Franca de Xira, construindo belíssimas torres de aço e vidro nos lugares deixados vazios. Os estrangeiros que vinham do Aeroporto da Ota não queriam acreditar no que viam, tais eram as transformações. Notava-se claramente que as novas zonas residenciais floresciam com o dinheiro que os novos-ricos começaram a ganhar com o petróleo encontrado ao largo de Peniche e na Costa Alentejana.
A polícia municipal não queria ficar atrás na campanha pela modernização e engrandecimento da capital portuguesa. Começaram por tentar limpar a cidade de africanos, brasileiros, etc. para pôr fim à imigração ilegal, mas como se tratava de tarefa impossível, pois era preciso gente para limpar as ruas, tratar dos jardins, levantar novos prédios, os agentes da ordem começaram a extorquir dinheiro aos estrangeiros para completar o seu parco salário mensal.
A esmagadora maioria dos lisboetas, pelo menos era o que mostravam as estatísticas publicadas nos boletins municipais, estava maravilhada com a actividade de Lujkov, e principalmente os reformados. O novo dirigente de Lisboa canalizou (pelo menos era o que corria na cidade) parte dos lucros dos casinos para reforçar as pensões dos velhotes da capital, deixando os reformados de outras regiões do país cheios de inveja.
A oposição não sabia o que fazer à vida. O vereador eleito pelo Bloco Ecléctico continuava a desmascarar a promiscuidade entre Lujkov e os construtores civis, reconhecendo, em conversas com amigos, que tinha saudades dos tempos da Bragatuneis e dos dirigentes da Câmara de Lisboa dessa altura.
Maior descontentamento causou ainda neste sector político a decisão de Lujkov de proibir a realização de paradas gays na capital portuguesa, medida que foi apoiada por alguns sectores da direita e por toda a extrema-direita.
Os marxistas-leninistas-estalinistas não escondiam as suas críticas à política de desolajamento da classe operária e dos trabalhadores para os arrabaldes da cidade, mas limitavam as suas críticas, pois Lujkov tinha-os autorizado a celebrar o dia do pioneiro em plena Avenida da Liberdade. Crianças vindas de todo o país recebiam um lenço vermelho e prometiam fidelidade a Lénine e a outros chefes do movimento comunista mundial, incluindo Mao.
É de salientar que a popularidade de Lujkov subiu bruscamente quando anunciou o boicote aos produtos madeirenses para castigar assim declarações anti-continentais do governador local e foi visto várias vezes nas Canárias a defender a devolução dessas ilhas a Portugal pois tinham sido descobertas a mando de Afonso IV.
Um conhecido analista político da Televisão Continental de Lisboa, criada para acompanhar o trabalho da direcção da câmara municipal, não se cansava de dar boas notas a Lujkov, depois de mostrar os estádios, centros comerciais e edificios residenciais construídos um pouco por toda a cidade.
Além disso, nos jardins e parques da capital começaram a aparecer estátuas e outros monumentos construídos por um conhecido arquitecto, amigo do presidente da edilidade.
De súbito, o polícia municipal aproximou-se de mim e pediu o bilhete de identidade, alegando que eu era semelhante a um dos participantes na Marcha dos Dissidentes, que dias antes tinham tentado protestar em Belém, durante a cimeira UE-Rússia-China.
Coloquei a mão ao bolso e dei conta que a minha carteira tinha desaparecido. Foi a única vez que fiquei feliz por me terem roubado a carteira, pois foi a única forma de sair do pesadelo. Que alívio! Será?

3 comentários:

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Comentário enviado por mail por João Mendonça: " Nao tera havido mao do Luzhkov no planemento urbanistico da area da Expo e na decisao de deitar abaixo a casa de Almeida Garrett? Segundo os psiquiatras, esse sonho ocorre frequentemente a construtores ,empreiteiros e lideres da extrema- direita que sonham com a transformacao das marchas dos santos populares em marchas fachistas. Se o Luzhkov porventura se tornasse presidente da camara, podiamos promover um novo produto turistico, ALLFAMA, renovado por completo, com bares de karaoke onde os turistas pudessem cantar o fado, discotecas, bares de alterne, um lago artifiicial e um campo de paintball. Tudo isto promovido a preceito, com honras de cartaz em frente a Duma."

Bottled (em português, Botelho) disse...

Tenha a bondade de sonhar mais vezes, porque cada sonho é uma verdadeira pérola.

Apetece-me, até, perguntar: e será preciso ir a votos, ou enfiamos já com o tipo na CML, aproveitando os euritos gastos nas campanhas (que, neste caso, já não se iriam realizar) para amortizar as dívidas da autarquia?

Os meus sinceros parabéns pelo blog.

Tenho ficado a saber muito mais sobre a Rússia actual e não só!

Hic Hic Hurra

comandante guélas disse...

O Caso Charrua

"Cuidado com o que se diz e se escreve ou nem os ossos se aproveitam"

Quitéria Barbuda

A PIDE (Polícia de Investigação e Defesa da Esquerda) anda aí !

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