Certamente que a direcção do jornal Correio da Manhã não ficará zangada pelo facto de eu publicar no meu blog um artigo retirado da sua edição de hoje, tanto mais que a origem e a autoria estão devidamente assinaladas.
O meu blog chama-se "Darússia", mas não posso ficar indiferente a acontecimentos que ocorrem no país e, de uma forma ou outra, estão ligados à Rússia ou países vizinhos.
Não quis acreditar quando li a notícia abaixo publicada. Enviar uma criança, que nasceu em Portugal, com pais claramente incapazes de a educar, para um país onde já existem mais de 700 mil "órfãos com pais vivos", termo burocrático russo para definir crianças maltratadas ou abandonadas pela família?
Não estaria contra o envio de Xénia para a Rússia se não soubesse o que se passa na maioria dos orfanatos russos ou como irá viver a criança se continuar com os pais.
Não me vou pôr aqui a fazer perguntas patéticas do tipo: "Mas será que o nosso país não tem pão para dar de comer a mais uma boca?", etc., etc., pois acho que esta situação é gritante demais.
Além disso, João Pinheiro e Florinda Vieira, duas boas almas de Barcelos, estão a tratar da menina russa que se chama Xénia.
Srs. João e Florinda, não vos conheço pessoalmente, mas faço, a partir de Moscovo, um apelo: façam tudo, e os portugueses devem apoiar-vos, para que essa menina fique em Portugal.
Leitores deste blog, expressem a vossa solidariedade com esta criança.
2007-06-02 - 00:00:00
Barcelos: Família de acolhimento em pânico
Menina vai para a Rússia
Filha de imigrantes de Leste, Xana nasceu há quatro anos em Portugal. Passou metade da vida à fome, sob maus tratos e a assistir à degradação da mãe prostituta e do pai alcoólico. Teve a sorte de encontrar, nos últimos dois anos, uma família de acolhimento. Mas o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) retirou-a do único lar a que teve direito e juntou-a à mãe de nacionalidade russa, detida em situação ilegal e à espera de ser repatriada.
Sérgio Freitas
José Pinheiro e Florinda Vieira temem pela vida da pequena Alexandra, nascida há quatro anos em Portugal, e que acolheram quando tinha apenas dois. Até porque a menina, cujos pais estão ilegalmente em Portugal, passava fome e ficava abandonada nas ruas de Barcelos enquanto ambos levavam vidas degradantesA história de vida de Alexandra T. – que nasceu no Hospital de S. Marcos, em Braga, e praticamente só fala português – é arrepiante. Aos dois anos descrevia vários actos sexuais da mãe, que se prostituía em casa, inclusivamente na presença do companheiro e pai biológico da criança, que se encontra em situação ilegal e em paradeiro desconhecido.
“Ninguém sabe o que vai ser feito da menina. Vão limitar-se a repatriá-la e ponto final. O que é inacreditável pois devia ser o Estado a zelar, acima de tudo, pelos direitos da criança. Depois de tudo pelo que passou não é justo que esta menina corra o risco de ter de passar novamente pelo mesmo”, lamenta José Pinheiro, que, juntamente com Florinda Vieira, aceitou acolher a criança em sua casa, em Areias de Vilar, Barcelos, assumindo-se como tutor da criança, num processo conduzido pelos serviços locais da Segurança Social.
Ao casal barcelense a menina chegou subnutrida, com escoriações na cabeça e uma concepção desconcertante sobre a vida familiar. “O primeiro pão que lhe demos agarrou nele com toda a força, com medo que lho retirassem. E nos primeiros tempos foi um problema com a comida porque até com os dedos empurrava os alimentos para baixo, para comer o máximo que podia. E ainda escondia a comida que podia. Tinha medo que não voltasse a ter mais”, relatou Florinda Vieira.
Quase dois anos depois, a pequena Xana é saudável e equilibrada. Mas de nada valeu o trabalho gratuito do casal. “Nunca recebemos nada do Estado, nem queremos, mas não conseguimos compreender como se pode entregar novamente a criança à mãe, depois de tudo o que se passou. Só queremos que as autoridades não se limitem a enviar mãe e menina para a Rússia, sem salvaguardar que haverá condições mínimas de educação e desenvolvimento da criança”, esclarece José Pinheiro, cuja última esperança é que a Segurança Social avance com uma medida cautelar para evitar a expulsão da criança, enquanto não se encontra uma situação familiar definitiva e segura.
Apesar dos esforços, ao longo do dia de ontem não foi possível obter um esclarecimento sobre o problema da parte do Departamento de Acção Social da Segurança Social em Braga, tutelado por Jorge Dantas.
MEMÓRIAS CHOCANTES
“Quando se fala tanto da Madeleine e de tantas crianças maltratadas não se compreende como se pode fazer uma barbaridade destas”, repudia Francisco Souza, comerciante brasileiro responsável por retirar a pequena Xana do ambiente em que vivia. Foi ele quem desafiou o casal Florinda e José Pinheiro a cuidar da menina.
Ainda recorda as reacções de Alexandra quando se perguntava pela mãe. “Pegava numa garrafa de água e punha-a e tirava-a da boca várias vezes”, descreveu, acrescentando que outras vezes indicava com a mão que eram três “os homens a fazerem sexo com a mãe”.
O facto de se deparar com a menina em situação de fome extrema e abandonada na rua levou-o a procurar soluções. Por isso, mostra-se revoltado com a entrega de Alexandra à mãe biológica, lembrando que Portugal assinou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito das Crianças. “Os estados são obrigados a tomar todas as medidas adequadas à protecção da criança, contra todas as formas de violência”, sublinha.
SEM FORÇA PARA VOLTAR AO SEF
Alexandra T. – que completou quatro anos a 3 de Abril – está ao encargo do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, no Porto, desde há oito dias, juntamente com a mãe. “Viver esta situação em pleno Dia Mundial da Criança é dramático”, desabafou ao CM José Pinheiro, confessando que já não tem mais forças para voltar a visitar a menina.
“Ela agarra-se à minha perna, aos berros e a chorar, a suplicar que a traga, que não a deixe ali. Eu bem lhe digo que são apenas umas férias e que não há problema nenhum, mas ela tem um pavor de morte porque sente que tudo pode voltar à miséria de vida que era antes e que quase a matou”, descreve José Pinheiro, visivelmente emocionado, tal como a esposa, Florinda, e temendo que tudo seja resolvido por um juiz que não se aperceba dos riscos para a criança.
SAIBA MAIS
40 000 Um estudo coordenado pela pediatra Maria José Fernandes, concluído em 2006, diz que todos os anos 40 mil crianças são maltratadas em Portugal.
6 A Inspecção-Geral de Saúde revela que uma média diária de seis crianças agredidas, grande parte das vezes em ambiente familiar, recebe tratamento nos hospitais.
DEVER
Qualquer pessoa pode e deve denunciar situações de crianças ou jovens abandonados, que sofram maus tratos físicos ou psicológicos e abusos sexuais.
Queixas
As queixas devem ser apresentadas às entidades policiais, autoridades judiciárias ou comissões de protecção de menores, cujos contactos estão no site www.cnpcjr.pt.
ACTUAÇÃO
As autoridades recolhem informação sobre a família. Actuam se esta aceitar apoio. Caso contrário o processo segue para o Ministério Público.
Mário Fernandes, Braga
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2 comentários:
Caro José Milhazes,
Acredito que burocracia de um estado não pode nem deve jamais tentar sobrepôr-se aos direitos humanos mais básicos. Infelizmente os pobres e infelizes não passam de números sem significado para os senhores atrás da secretária.
Os pobres e os infelizes não têm direito a centenas de horas de cobertura televisiva. Pelos pobres e os infelizes raramente vemos os "famosos" manifestarem-se. Não passam de números...
Por tudo isso aqui fica o meu mais sincero desejo de célere resolução deste caso. Esperemos apenas que o final seja feliz!
Hoje o Presidente Cavaco Silva alertou, na sessão de encerramento do Congresso das Misericórdias Portuguesas, para o grave problema da baixa taxa de natalidade no país e na UE, referindo:
“ Este fenómeno obriga-nos a pensar seriamente sobre as políticas de natalidade, de protecção das nossas crianças, de valorização dos nossos jovens e de qualificação dos activos".
Não posso deixar de concordar com as sábias palavras de S. Exa. O Presidente da República Portuguesa, e nesse contexto junto-me ao apelo para proteger as NOSSAS crianças, independentemente da sua raça, origem étnica ou social, pois se estão no NOSSO território e somos responsáveis pelo seu bem-estar.
Num Mundo em que a população aumenta a um ritmo alucinante é autista por parte do ocidente falar no envelhecimento da população e nas baixas taxas de natalidade. É verdade, é um problema, mas é um problema Europeu e norte-americano. Se o que precisamos é pessoas para continuar manter a vitalidade do Continente e se por outro lado existem no mundo milhões de crianças que necessitam de um lar, porque não juntar o útil ao agradável? Mesmo porque para se ter um filho não é preciso traze-lo ao mundo.
Espero que os pais (chamo-lhes pais porque não me lembrei de nenhuma palavra melhor para os descrever) que cuidaram dela durante dois anos tenham força para lutarem pela Xenia e apelo as autoridades, mas também aos cidadãos comuns que façam tudo que esteja ao seu alcance para que ela não passe a ser mais um número nas tristes estatísticas. Talvez possa surgir, entre os leitores desse blogue alguém com capacidade para ajudar? Algum advogado que possa ajudar a tomar passos concretos para impedir a extradição da Xenia?
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