quinta-feira, novembro 22, 2007

Campanha eleitoral reduzida a um jogador e uma baliza sem guarda-redes


O Zé não é cidadão do país X e, por conseguinte, no dia das eleições parlamentares, não terá direito a voto, mas a sua ligação a esse país dá-lhe o direito, pelo menos ele assim considera, de compartilhar com os leitores a sua opinião (subjectiva) sobre a campanha eleitoral.
Evgueni Koliuchin, membro da Comissão Eleitoral Central do X, caracterizou a campanha eleitoral com o adjectivo "убогий", que para português pode ser traduzido por "deplorável", "miserável".
O Zé considera que não se pode encontrar palavras melhores para descrever a luta eleitoral, embora, talvez influenciado pelos últimos acontecimentos futebolísticos, arrisca ainda outra imagem: a campanha assemelha-se a um jogo de futebol num campo com uma baliza e onde só joga um craque. E para que nada falhe, a baliza está sem guarda-redes.
Vocês sabem tão bem como o Zé o nome do craque e qual será o resultado do jogo, mas o que
(ainda!) o espanta é a forma grosseira e descarada como as coisas são feitas (Qual Apioto Dourado!).
Será que, por exemplo, a selecção portuguesa de futebol, mesmo não estando na sua melhor forma, necessitaria de pôr em campo Cristiano Ronaldo frente à baliza deserta da selecção do Cazaquistão (com o devido respeito pela selecção do país "cantado" por Borat) para conseguir qualificar-se para a final do Euro-2008?
O craque do país X parece necessitar não só disso, mas também da ajuda de algumas pessoas que transportem a baliza ao encontro da bola para que o remate não falhe.
Ontem, estava o Zé a ver o telejornal do primeiro canal de televisão do país X e decidiu medir o tempo dispensado ao craque e ao seus opositores. Pois é, o primeiro teve direito a vinte dos trinta minutos que durou o programa informativo; os dez partidos da muita e da pouca oposição conseguiram quatro minutos, tendo os restantes seis minutos sido dedicados ao futebol, ou não fosse um dia decisivo para a selecção do país X.
O craque do país X falava perante cinco mil apoiantes vindos dos mais remotos cantos do seu território. Na organização do evento notou-se a mão de alguma agência de comunicação estrangeira, pois o comício deixou de se assemelhar a um congresso comunista para se aproximar daquelas conferências que os republicanos e democratas organizam durante as campanhas eleitorais nos Estados Unidos.
Foram revelados os nomes dos inimigos do país X, ou seja, aqueles que, nos anos 80, privaram o povo de "fósforos e sal" e acabaram por levar à queda de uma superpotência chamada CCCP, bem como os que, nos anos 90, pilharam o povo e ajudaram os oligarcas a apoderarem-se das riquezas nacionais.
As más línguas da oposição lembraram que o craque fez parte de ambas as equipas adversárias citadas, tendo ocupado posições de relevo em campeonatos passados. Muito dos actuais colegas do craque também fizeram parte das citadas equipas, mas essas declarações venenosas não chegam às televisões.
Os estudantes da opinião pública prognosticam que o craque consiga marcar 371 dos 450 golos possíveis, ficando os restantes para a obediente selecção vermelha. Porém, se as regras de jogo continuarem a ser cumpridas com tanto afinco, o craque arrisca-se a marcar os golos todos.
Poderão os leitores perguntar ao Zé: "mas isso não é feio?", "Será que não se podem fazer as coisas de forma mais inteligente?"
Se calhar, o craque não precisava de regras tão estranhas para vencer o jogo, mas, não vá o diabo tecê-las, ele não acredita nos apoiantes e, por isso, não perde também a oportunidade para se reunir com hierarquias ortodoxas e muçulmanas.
E mais uma notícia de última hora: um instituto de investigação científica de Zurique decidiu apresentar a candidatura do craque a Prémio Nobel da Paz pelo apoio dado ao desenvolvimento da nanotecnologia. Mas esta ciência não tem mais a ver com a Física?

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