O boicote das eleições parlamentares no Kosovo por parte da maioria dos sérvios da região põe em causa a legitimidade política dos órgãos de poder que vierem a ser formados, considerou Mikhail Kaminin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
“Sem dúvida que se coloca a questão de que até que ponto serão legítimos os órgãos de poder que forem formados sem a participação dos sérvios. Serão eles capazes de interagir construtivamente com a segunda comunidade étnica no Kosovo, sem a qual é impossível garantir a estabilidade e a perspectiva de desenvolvimento da região?” – questiona Kaminin.
Segundo ele, os sérvios protestaram dessa forma contra a incapacidade das estruturas internacionais que se encontram na região, que não conseguem eficazmente realizar o previsto na resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, principalmente no que respeita à defesa dos direitos dos representantes das minorias nacionais.
“Claro que o protesto vai também contra as declarações cada vez mais frequentes dos kosovares albaneses sobre a prontidão de proclamar unilateralmente, nos tempos mais próximos, a independência do Kosovo” – acrescentou o porta-voz da diplomacia russa.
Mikhail Kaminin sublinhou também que a campanha política que antecedeu às eleições passadas no Kosovo reflectiu-se de forma negativa no avanço das conversações directas entre Belgrado e Pristina.
Segundo ele, considerações eleitorais levaram os dirigentes políticos kosovares albaneses que participaram nas conversações a competir “quando ao nível de dureza na defesa da exigência da soberanização incondicional do Kosovo”.
“Desse modo, foi causado um prejuízo sensível aos esforços da comunidade internacional com vista a levar Belgrado e Pristina a uma saída mutuamente aceitável para o estatuto da região” – frisou Mikhail Kaminin.
No passado sábado, realizaram-se eleições parlamentares no Kosovo. Segundo dados prévios, na votação participaram 45% dos inscritos e a população sérvia boicotou praticamente o escrutínio.
O problema do futuro estatuto do Kosovo é, talvez, um daqueles que piores consequências poderá trazer para a Europa no início do séc. XXI.
Pode-se afirmar mil vezes que a solução deste problema não constitui precedente, mas os defensores desta tese não conseguem apresentar argumentos sérios para a validar. Se os kosovares podem tornar-se independentes, porque é que... (aqui segue-se uma longa lista de povos europeus) não têm o mesmo direito?
Na segunda metade do séc. XX, a inviolabilidade de fronteiras foi um dos principais garantes da paz no Velho Continente. Se o direito à autodeterminação dos povos imperar no caso do Kosovo, o que acontecerá na Europa? Não tenho só em vista a União Europeia, mas todo o espaço europeu.
A Rússia tenta impedir a separação do Kosovo em relação à Sérvia, mas se perder a contenda, não será a potência que sairá mais prejudicada. Pelo contrário, Moscovo, que já controla de facto territórios georgianos como a Abkházia e Ossétia do Sul, ou moldavo como a Transdnistria, fica com mais um argumento para não abandonar essas terras. Basta recordar que 80% dos habitantes da Abkházia e Ossétia do Sul são já cidadãos da Federação Rússia.
Os oponentes desta tese poderão retorquir que a Rússia tem pontos fracos nesta área, mas não nos podemos esquecer que este país não se encontra no mesmo estado em que se encontrava há 10 anos atrás. A forma como foi resolvida, por exemplo, a questão do separatismo tchetcheno tira a vontade a qualquer outro povo da Federação da Rússia de tentar experiência semelhante.
Muito vai depender do rumo que as relações internacionais vão tomar. Talvez valha a pena não precipitar uma solução unilateral do problema do Kosovo a fim de evitar o aparecimento de problemas idênticos na Europa.
A propósito, convém que a União Europeia desempenhe um papel sensato em todo este processo, porque os problemas estão também dentro dela, não tem um oceano pelo meio para a proteger de aventuras e passos errados.
“Sem dúvida que se coloca a questão de que até que ponto serão legítimos os órgãos de poder que forem formados sem a participação dos sérvios. Serão eles capazes de interagir construtivamente com a segunda comunidade étnica no Kosovo, sem a qual é impossível garantir a estabilidade e a perspectiva de desenvolvimento da região?” – questiona Kaminin.
Segundo ele, os sérvios protestaram dessa forma contra a incapacidade das estruturas internacionais que se encontram na região, que não conseguem eficazmente realizar o previsto na resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, principalmente no que respeita à defesa dos direitos dos representantes das minorias nacionais.
“Claro que o protesto vai também contra as declarações cada vez mais frequentes dos kosovares albaneses sobre a prontidão de proclamar unilateralmente, nos tempos mais próximos, a independência do Kosovo” – acrescentou o porta-voz da diplomacia russa.
Mikhail Kaminin sublinhou também que a campanha política que antecedeu às eleições passadas no Kosovo reflectiu-se de forma negativa no avanço das conversações directas entre Belgrado e Pristina.
Segundo ele, considerações eleitorais levaram os dirigentes políticos kosovares albaneses que participaram nas conversações a competir “quando ao nível de dureza na defesa da exigência da soberanização incondicional do Kosovo”.
“Desse modo, foi causado um prejuízo sensível aos esforços da comunidade internacional com vista a levar Belgrado e Pristina a uma saída mutuamente aceitável para o estatuto da região” – frisou Mikhail Kaminin.
No passado sábado, realizaram-se eleições parlamentares no Kosovo. Segundo dados prévios, na votação participaram 45% dos inscritos e a população sérvia boicotou praticamente o escrutínio.
O problema do futuro estatuto do Kosovo é, talvez, um daqueles que piores consequências poderá trazer para a Europa no início do séc. XXI.
Pode-se afirmar mil vezes que a solução deste problema não constitui precedente, mas os defensores desta tese não conseguem apresentar argumentos sérios para a validar. Se os kosovares podem tornar-se independentes, porque é que... (aqui segue-se uma longa lista de povos europeus) não têm o mesmo direito?
Na segunda metade do séc. XX, a inviolabilidade de fronteiras foi um dos principais garantes da paz no Velho Continente. Se o direito à autodeterminação dos povos imperar no caso do Kosovo, o que acontecerá na Europa? Não tenho só em vista a União Europeia, mas todo o espaço europeu.
A Rússia tenta impedir a separação do Kosovo em relação à Sérvia, mas se perder a contenda, não será a potência que sairá mais prejudicada. Pelo contrário, Moscovo, que já controla de facto territórios georgianos como a Abkházia e Ossétia do Sul, ou moldavo como a Transdnistria, fica com mais um argumento para não abandonar essas terras. Basta recordar que 80% dos habitantes da Abkházia e Ossétia do Sul são já cidadãos da Federação Rússia.
Os oponentes desta tese poderão retorquir que a Rússia tem pontos fracos nesta área, mas não nos podemos esquecer que este país não se encontra no mesmo estado em que se encontrava há 10 anos atrás. A forma como foi resolvida, por exemplo, a questão do separatismo tchetcheno tira a vontade a qualquer outro povo da Federação da Rússia de tentar experiência semelhante.
Muito vai depender do rumo que as relações internacionais vão tomar. Talvez valha a pena não precipitar uma solução unilateral do problema do Kosovo a fim de evitar o aparecimento de problemas idênticos na Europa.
A propósito, convém que a União Europeia desempenhe um papel sensato em todo este processo, porque os problemas estão também dentro dela, não tem um oceano pelo meio para a proteger de aventuras e passos errados.
2 comentários:
Comentário enviado por mail pelo leitor João Moreira: "É assim: a entidade sérvia da bósnia pretende a secessão e a integração na sérvia. A federação croata-muçulmana terá pouco ou nenhum futuro (é conhecido o interesse da Croácia na Herzegovina - Herzeg-novi), o que levaria á incorporação na Croácia (Mostar). Mais, os "kosovares" reivindincam o vale de Presevo (Sérvio), mas o norte do Kosovo é maioritariamente sérvio. Há zonas da Macedónia "albanizadas", assim como, no Montenegro (por exemplo, Ulcinj). Vojvodina tenderá a fazer sentir a sua voz? E a Sérvia não tem muito mais direito a reivindincar a Krajina?...
Por outro lado, na UE há muitas e atribuladas situações em que haverá receios de separação. A mais crítica é a Bélgica. Depois a Escócia... a Catalunha...o País Basco...o Alto Adige e, porque não um estado lapão?
João Moreira"
Caro leitor, a sua longa lista,infelizmente, não é exaustiva. Basta recordar mais um exemplo. a Península da Crimeia. Ela fazia parte da Rússia e foi oferecida em 1954 por Nikita Khrutchov à Ucrânia. O povo autóctone são os tártaros da Crimeia, expulsos das suas terras por Estaline em 1944. Agora, regressam e exigem os seus direitos. O movimento dos tártaros da Crimeia radicaliza-se e aproxima-se cada vez mais do fundamentalismo muçulmano.
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