quarta-feira, janeiro 23, 2008

Programa eleitoral de futuro Presidente da Rússia


As eleições presidenciais na Rússia, marcadas para 02 de Março, perderam qualquer tipo de intriga, porque todos já sabem que o candidato do Kremlin, Dmitri Medvedev, vencerá à primeira volta. Além disso, o candidato da oposição liberal, Mikhail Kassianov, deverá ser afastado da corrida eleitoral pela Comissão Eleitoral Central.
A contenda poderá ganhar algum interesse se se concretizar o boato de que Guennadi Ziuganov, dirigente do Partido Comunista, desistir da corrida eleitoral por ser discriminado nos órgãos de informação e por outras regularidades. Se ele desistir o delfim de Putin terá de competir com o nacional-palhaço Vladimir Jirinovski e com Andrei Bogdanov, político marginal que, entre outras coisas, afirma fazer parte da Maçonaria Russa.
Mas não acredito que Ziuganov tenha coragem para fazer isso, pois tem sido obediente ao Kremlin, independentemente do czar que lá esteja: Ieltsin, Putin.
Por isso, vale a pena estar ao corrente do programa eleitoral do vencedor.
Dmitri Medvedev, candidato a Presidente da Rússia apoiado por Vladimir Putin e Rússia Unida, revelou o seu programa eleitoral numa assembleia do Forum Cívico.
O delfim designado pelo Presidente Putin propõe “um desenvolvimento calmo e estável” da Rússia, de que ela “esteve privada no séc. XX”. “O essencial para o país é a continuação de um desenvolvimento calmo e estável” – declarou Dmitro Medvedev, primeiro vice-primeiro-ministro do Governo russo e favorito das presidenciais de 02 de Março.
“Necessitamos de décadas de um desenvolvimento estável, de que o país esteve privado no séc. XX, décadas de uma vida normal” – sublinhou. Medvedev considerou que os anos 90 do século passado ficaram marcados por “grandes provas”.
“Cometemos muitos erros, mas não destruímos o país. É um mérito real do poder da época e da sociedade civil. Mas não se pode esquecer o preço que foi preciso pagar para sair da crise política, económica e social” – sublinhou, enumerando a “pauperização em massa”, a crise demográfica, a perda de valores e as vítimas do terrorismo.
“Estou de acordo com o nosso Presidente: a Rússia esgotou o seu crédito de revoluções e conflitos civis” – frisou. O candidato do Kremlin considera que as instituições democráticas russas estão solidamente afirmadas no país.
“As instituições democráticas que criámos demonstraram a sua consistência não obstante alguns problemas que persistem” – considerou.
Entre os valores democráticos fundamentais que regem o Estado russo, Medvedev salientou a responsabilidade civil face ao indivíduo, a liberdade e os direitos do homem, a dignidade civil do indivíduo, tratando-se de valores que as autoridades tentem há anos conciliar com as particularidades nacionais russas.
“Hoje, estamos mais próximos do que nunca do nosso objectivo: por um lado, nós regressámos às nossas tradições e valores espirituais; por outro lado, temos a nossa própria experiência, por vezes controversa, em matéria de democracia” - continuou.
No campo da política externa, Dmitri Medvedev prometeu que a Rússia se desenvolverá como um país aberto ao diálogo.
“Que não haja dúvidas a este respeito: a Rússia continuará a desenvolver-se como um país aberto ao diálogo e à cooperação com a comunidade mundial” – frisou.
Segundo o delfim do Kremlin, a participação da Rússia nos assuntos internacionais basear-se-á nos princípios e normas do Direito Internacional.
“É nosso dever não romper as relações com os Estados que provocam, por vezes, emoções desagradáveis na comunidade mundial. A solução menos produtiva seria passar aos bombardeamentos em tapete” – concluiu.
Um estudo publicado pelo centro sociológico VTSIOM, 82 por cento os russos pretendem participar nas eleições presidenciais de 02 de Março e maisde 60 por cento dizem pretender votar em Medvedev, o que lhe dá a vitória à primeira volta. O dirigente do Partido Liberal Democrático, Vladimir Jirinovski poderá conquistar 7,5 por cento e Guennadi Ziuganov, líder do Partido Comunista, aparece em terceiro lugar com 3,1 por cento.

6 comentários:

PL disse...

Caro José Milhazes,

Mas será que os russos (e a Oposição) não aprenderam nada nas últimas eleições presidenciais? Mas será que alguém ainda acredita que possam existir umas eleições democráticas neste já Império?

Aflige-me ver que o estado da política na Rússia não evoluiu um centímetro que seja nos últimos anos. Gostaria que alguém me explicasse quem será o número um russo, se continuará Putin como um Presidente encapotado ou se Medvedev tomará as rédeas do país..

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor, ninguém acredita, mas ainda muitos fazem de conta que acreditam.
Quanto à segunda pergunta por si colocada, acho que esse irá ser o mais importante dilema depois das relações presidenciais. A luta no interior do Kremlin vai animar, disso não tenho dúvidas.

Anónimo disse...

Essa história de instaurar à pressão a democracia de tipo ocidental num país que nunca teve nenhuma espécie de democracia é de rir. Claro que tem de haver uma transição prolongada, que é o que Putin está a fazer e bem, depois do descalabro do Yeltsin, que quase entregou o país ao estrangeiro. E tem todo o apoio popular para o fazer. O povo russo não é um bando de cretinos. Só falsos distraídos podem presumir que a "democracia" se poderia enraizar de outro modo. Como? Com o Bush e as multinacionais a mandar em Moscovo através de oligarks judeus tipo Berezovsky? Ora adeus!

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Sapka, se tudo fosse assim tão simples. Quanto aos oligarcas judeus, não são os culpados de tudo o que você os acusa, tanto mais que alguns deles (Abramovitch, Deripaska, Fridman, etc., etc.)vivem bem na forma como Putin "enraíza" a democracia na Rússia.

Anónimo disse...

Putin foi eleito e reeleito por uma claríssima maioria, o que não é mau sinal para a democracia. Putin é um líder muito popular, muito mais do que Bush na América. Será mau para a democracia russa? Claro que, como ele é patriota, defende os interesses nacionais da Rússia e quer voltar a fazer do seu país uma grande potência mundial, os tipos do bloco USA-UK têm tendência a considerar que as eleições russas não são limpas. Como sempre fazem onde quer que se realizem eleições cujo resultado eles não controlam. A América não me dá lições em matéria de democracia. Viu o Roosevelt, o Truman, o Eisenhower, o Kennedy, o Johnson, o Nixon, o Kissinger, etc., etc., algum dia duvidar da limpeza das eleições portuguesas para a Assembleia Nacional? Não, pois não? Mas viu o Kissinger a tecer planos de intervenção militar em Portugal em 1975 e a recomendar uma eliminação rápida dos opositores ao democrático general Pinochet no Chile em 1976, não viu?
A Rússia ainda não é democrática pelo modelo americano. A China também não, longe disso. Nem a própria Índia. Algum dia serão? Esses países, estou convencido, chegarão à democracia sem passar por aquilo que é hoje essa coisa a que Bush chama Democracy. Como chegaram mais tarde, podem saltar etapas e aprender com os erros dos outros. Uma coisa é certa: chineses e russos não são hoje odiados por metade do planeta como os americanos são. Uma democracia que só produz guerras e global warming não deve estar a funcionar muito bem.

Anónimo disse...

Putin foi eleito e reeleito por uma claríssima maioria, o que não é mau sinal para a democracia. Putin é um líder muito popular, muito mais do que Bush na América. Será mau para a democracia russa? Claro que, como ele é patriota, defende os interesses nacionais da Rússia e quer voltar a fazer do seu país uma grande potência mundial, os tipos do bloco USA-UK têm tendência a considerar que as eleições russas não são limpas. Como sempre fazem onde quer que se realizem eleições cujo resultado eles não controlam. A América não me dá lições em matéria de democracia. Viu o Roosevelt, o Truman, o Eisenhower, o Kennedy, o Johnson, o Nixon, o Kissinger, etc., etc., algum dia duvidar da limpeza das eleições portuguesas para a Assembleia Nacional? Não, pois não? Mas viu o Kissinger a tecer planos de intervenção militar em Portugal em 1975 e a recomendar uma eliminação rápida dos opositores ao democrático general Pinochet no Chile em 1976, não viu?
A Rússia ainda não é democrática pelo modelo americano. A China também não, longe disso. Nem a própria Índia. Algum dia serão? Esses países, estou convencido, chegarão à democracia sem passar por aquilo que é hoje essa coisa a que Bush chama Democracy. Como chegaram mais tarde, podem saltar etapas e aprender com os erros dos outros. Uma coisa é certa: chineses e russos não são hoje odiados por metade do planeta como os americanos são. Uma democracia que só produz guerras e global warming não deve estar a funcionar muito bem.