domingo, maio 25, 2008

Festival da Eurovisão: o "último refúgio dos canalhas!"


Não obstante o Festival da Eurovisão se ter transformado num espectáculo intragável, no Sábado à noite, perdi umas boas horas a assistir a uma competição que já nada tem de musical ou artística, mas se transformou numa guerra política.
Recordo-me que, quando era criança, não deixava passar uma final, mesmo quando não tinha televisor em casa e tinha de ir a casa de algum vizinho ou parente. Talvez jamais me esqueça de nomes como Tonicha, Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Carlos do Carmo, Cliff Richard, Abba, etc., mas com dificuldade posso recordar quem venceu o festival do ano passado. Eram outros tempos, outros intérpretes, outras canções.
Acredito que nem tudo fosse limpo e transparente nas votações, mas o que se passa actualmente é vergonhoso, vai além de todas as medidas.
Venceu Dima Bilan, representante da Rússia que já está a ser elevado a herói nacional. Vai ter o seu nome eternizado na terra natal, uma cidade de Karatchaevo-Tcherkéssia, república russa do Cáucaso do Norte, e vai ser nomeado "Artista do Povo de Karatchaevo-Tcherkéssia". Mais um precioso contributo para a campanha de "renascimento do orgulho russo", realizada pelos dirigentes da Rússia.
E não se olha a meios. Segundo o diário Komsomolskaia Pravda, a ida de Bilan a Belgrado custou mais de um milhão de euros, uma gota de água do mar de petro-euros e petro-dólares que banha actualmente a Rússia.
São poucas as vozes que destoam no coro de aleluias à vitória de Bilan. Apenas os chatos da oposição chamam a atenção para o facto de a votação ter sido realizada de forma estranha. A Rússia teve as maiores votações na Estónia, Lituânia, Letónia, Ucrânia, Bielorrússia, Israel e Arménia, ou seja, em países onde existem fortes comunidades russas. Qualquer pessoa minimamente informada sabe que os estónios, lituanos, letãos e ucranianos não iriam gastar dinheiro em telefone para votar na Rússia...
Foi um fenómeno semelhante ao que aconteceu à "votação portuguesa", que, se não me engano, deu o primeiro lugar à Ucrânia; ou à votação suíça em Portugal. Ou seja, não se elege a qualidade, mas o patriotismo mais serôdio.
Como afirmou Artiom Troitski, conhecido crítico musical russo, a vitória de Bilan teria sido mais estrondosa se ele, além do patinador e do violinista, tivesse levado consigo Arina Kabaeva, campeã do mundo de ginástica que, segundo um tablóide russo, tem um romance com Vladimir Putin.
No meio desta vergonha, gostaria de felicitar a intérprete portuguesa e todos os outros intérpretes que cantaram nas suas línguas natais, não se renderam ao "latim da globalização".
Neste sentido, é ridículo apresentar a canção de Dima Bilan como uma "vitória da música russa". Mas o que há aí de russo? Letra? Música? Nada!
O Festival da Eurovisão transforma-se cada vez mais numa arena de combates políticos baixos. E a onda alastra cada vez mais a áreas como o desporto, cultura, etc. Por isso, estas cenas de "patriotismo" vão repetir-se no Campeonato da Europa de Futebol e nos Jogos Olímpicos de Moscovo.
Foi sobre este patriotismo que o clássico da literatura russa Leão Tolstoi escreveu que "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas"



33 comentários:

Anónimo disse...

Realmente, o festival a Eurovisão bateu o limite do ridículo ontem. Os países davam pontos, com base na maior comunidade imigrante instalada nesse país! O que leva a pensar que só mesmo os imigrantes vêm este festival e se dignam a votar.

Vejamos:
Na Alemanha, o país mais votado foi a Turquia!
Na Ucrânia, a Rússia!
Em Portugal, a Ucrânia!
Em França, a Espanha!
...

Mas não deixa de ser um bom indicador de qual a maior comunidade imigrante europeia em cada país.

Anónimo disse...

Prezado José,
os vencedores são Circassian ?
Agora gosto deles ...
No 21. de Maio foi o dia de luto deste povo.
o link: "Circassian Genocide" (YouTube)via meu nome/homepage.
Parabéns !
:)
Ralf

Fomá_Fomitch disse...

Sem duvida, um espectáculo intragável. Só vi mesmo a os minutos finais com os "artistas" Russos em palco a serem ovacionados enquanto cantavam, gritavam tocavam, faziam que tocavam, dançavam e abanavam-se. O que me chamou mais atenção foram as bailarinas Russas mesmo muito bonitas, deve ser uma maravilha passear em Moscovo. Quanto ao nacionalismo e ao patriotismo presente neste evento não vem só da politica, mas também dos responsáveis pacóvios da eurovisão em cada país (em Portugal o Eládio Clímaco) que a cada minuto que passa dizem (na RTP1): não se esqueça que se esta a viver fora de Portugal pode votar em Portugal; relembro mais uma vez às comunidades Portuguesas espalhadas pela Europa que podem votar na canção Portuguesa. Isto é ridículo! Este evento perdeu todo o crédito, há 2 anos (penso eu) quando foi ganho por uma banda finlandesa de heavy metal pensei que tinha sido a ultima facada, mas não, ainda vai apodrecer durante mais uns anos!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Só ouvi meia dúzia de canções, mas dessas a russa era indiscutivelmente superior. Só ouvidos muito surdos e olhos muito toldados pelo preconceito político é que o poderiam negar. O ódio é mau conselheiro.

Em França, cinco países têm mais imigrantes do que Espanha, entre os quais Itália e Portugal. Portanto, a vossa teoria é apenas uma suposição mal fundada. E como explicam o voto dos finlandeses na canção russa? Anda lá a mãozinha do KGB, não?

Pois não sabia que Tolstoi tinha conhecido o fenómeno futebol de massas e o Festival da Eurovisão. O homem era mesmo visionário...

O Festival da Eurovisão há 40 anos também puxava pelo patriotismo dos portugueses, ou não? Era sempre a feijões?

Pois, o patriotismo só cheira mal quando é russo.

Anónimo disse...

Devo avisar que em França, o segundo país mais votado foi... Portugal! Como seria de esperar.

Os finlandeses votaram mais nos russos, porque a Finlândia também deve ter muitos imigrantes russos. Não estivesse a Finlândia ao lado da Rússia, com uma enorme fronteira entre os dois países.

Anónimo disse...

Bom, eu sou português e votei na Ucrânia... e com muito gosto! E voltarei a fazê-lo sempre que isso que me apetecer. E teria votado na Rússia, se tivesse gostado da canção.

O Festival da Eurovisão é o que é... sempre foi! Mas agora que ganham os concorrentes "errados" é que se questiona a sua organização?

Bons, estes são os efeitos da transformação da Europa pós Guerra Fria. Esperavam o quê, que depois de tudo ter mudado (politica e geograficamente na Europa), tudo ficasse na mesma?

Já o que se passa internamente na Rússia, infelizmente, é problema deles... e talvez um dia, se tivermos azar, seja nosso, também. Humilharam a Rússia quando tiveram oportunidade, após a desintegração da URSS, e agora espantam-se que ela se sinta ofendida e procure a "glória" perdida?! Mas será que não aprenderam nada nestes últimos 20 anos?! Nós ainda sonhamos com o D. Sebastião e já se passaram quase 450 anos!

Mercados Emergentes disse...

Hoje em dia nada nos fica na memória. Sinto o mesmo em relação aos livros. Publicam-se livros de forma arbitrária com escritores de meia tijela. São cantores fabricados consoante o lado para o qual sopra o vento. o festial foi o festival da vergonha mundial.

Unknown disse...

Caro Milhazes,
Me desculpe a sinceridade, mas não concordo com quase nada do que vc disse. Na minha opinião, o formato do festival favorece a densidade demográfica e, a Rússia, como país com maior presença nas ex-repúblicas soviéticas, ganhou naturalmente. Tivesse a Alemanha (ou outro país) tantos expatriados espalhados pela Europa, então ela triunfaria. A conclusão só pode ser uma: O regulamento do festival precisa ser reformado para contemplar o talento artístico e não a nacionalidade do artista. Uma sugestão seria que cada país participante enviasse um representante ao júri, que poderia votar em qualquer participante, menos o seu compatriota.
Quanto ao talento dos cantores russos, não tenho opinião formada. Acho que esse é só um festival de música, não devemos levar a sério esse tipo de diversão. Da mesma forma que você nem lembra o nome do vencedor do ano passado, a dupla russa será ignorada pela audiência européia caso não confirme o seu talento musical. Simples assim!

Anónimo disse...

Se o argumento da demografia, da imigração e da representação nos países da antiga URSS fosse válido, então a Rússia ganharia sempre. O que não é o caso. O Festival da canção não é, nem nunca foi, para ser levado seriamente.

O resurgimento do nacionalismo russo - agravado pelo sentimento de perda do estatuto de potência mundial - e ao facto de que a democracia na Rússia o não ser, nem pouco mais ou menos... é aflitivo, sim.

Anónimo disse...

Penso que a teoria dos (e)imigrantes é falaciosa, mas verdadeira. Obviamente representarão uma significativa percentagem de votos em consequecia do patriotismo. No entanto, torna-se altamente falaciosa. Reparem já ganhou uma banda da Finlandia, mas a Escandinavia nao tem uma populaçao por ai alem. Também ganhou a Grecia e Turquia há poucos anos. Que "afinidades" têm com outros paises? A Russia este ano apresentou uma música mais global (cantada em ingles, produzida por Timbaland), um pouco pop, e colocou um cenário "imaginariamente" russo (um patinador no gelo e um violinista). É verdade que muitos votam em países vizinhos, mas isso deve-se obviamente também a afinidades sonoras e linguisticas. O vencedor nunca será encontrado pelos "vizinhos" ou "e/imigrantes". A música terá sempre muito mais de sensorial que geo-racional. Eu pessoalmente "considerei" uma música "lamechas". Os portugueses discutem muito a vitória dos outros, e pouco se focalizam em como ganhar. Portugal tem que ter um estilo próprio com alguma universalidade. Para mim a receita será um pop-mix de Quim Barreiros com sonoridades maritimas e guitarras portuguesas:)

Anónimo disse...

"Qualquer pessoa minimamente informada sabe que os estónios, lituanos, letãos e ucranianos não iriam gastar dinheiro em telefone para votar na Rússia..."

É a prova que a música não é racional...

p.s. O comentário anterior foi meu

Anónimo disse...

É extremamente curioso, mas passei o serão do festival precisamente a comentar com a família que a Rússia só venceu porque tem as maiores comunidades russas nos países limítrofes (e eles são muitos!). Vi esta ideia inesperadamente repetida pelo José Milhazes e outros leitores, o que prova que deve ter alguma coisa de verdadeiro. Em Portugal, mesmo antes da nossa votação ser anunciada, já sabíamos que iriam dar muitos pontos à Ucrânia ou não existisse aqui uma enorme colónia de ucranianos. Parece que, se uma parte dos votantes escolhe a canção pelo mérito ou pelo gosto pessoal, uma outra parte ainda maior, os imigrantes, votam por patriotismo, tal como eu faria se vivesse na Suiça ou em França.
Por isso mesmo, o sistema de votação do festival é profundamente injusto e não permite escolher a verdadeiramente melhor canção. É PRECISO MUDÁ-LO!
Cristina

Anónimo disse...

Desde que me encontro a viver no estrangeiro, mais concretamente na Polónia, tornei-me leitor assíduo deste blog. É sempre com grande interesse que leio as estórias que ligam o nosso belo país à beira-mar plantado com este frio dos lestes.

Apesar de não ser muito de comentários, acho que neste caso não o poderia deixar de fazer. O que se passou no último Festival da Eurovisão foi sem dúvida... um sinal dos tempos modernos! Para além do que já foi aqui referido por mta gente sobre as comunidades votantes, achei extremamente interessante o facto de a Rússia ter ganho com um tema produzido imagine-se, por um dos mais conceituados produtores de hip-hop dos EUA (Timbaland). Os moldes em que é feito este concurso são pura e simplesmente ridículos. Tal atitude por parte da representação russa só pode significar um 'ganhar a todo o custo'. E sendo este um concurso feito de massas para massas, é como se diz em bom português 'são favas contadas..'

lourrain disse...

Não tenho dúvidas de que este tipo de concursos apenas servem para alimentar a auto estima das comunidades estrangeiras a viverem em outros países. Servem os exemplos aqui referidos no blog. Uma coisa que me chamou a atenção, foi o facto de alguns países apresentarem as suas canções em lingua inglesa, para além de serem dignas de um festival de circo com coreografias ridiculas e melodias de mau gosto. Sem querer cair num nacionalismo primário, não evito em enaltecer a participação portuguesa, não só por ter cantado em portugues mas também por me parecer que a canção ser muito boa e musicalmente ter uma vertente épica. A canção da Rússia nem foi das piores comparado-a com outras, lamento apenas que não tivesse sido cantada em russo, mas se assim fosse, provavelmente não chegaria ao primeiro lugar.

Anónimo disse...

Bom, agora sabemos qual é a maior comunidade estrangeira em Portugal: Ucrania! Os nº são mais fidedignos que a Sef.

Anónimo disse...

Caro Milhazes,
Sempre acompanhei o Eurofestival, por considerar ser um espectáculo diferente dos demais, com músicas em linguas diferentes, com meninas jeitosas pra "lavar os olhos" e algum glamour à mistura. Eu como "emigrante" português, no Reino Unido, nao votei em nenhuma canção, pois nao tenho TV, assisti no tvtuga, a emissao da RTP Internacional, e achei ridiculo o facto da aperesentadora, não ter colocado os números de telefone para votar na música portuguesa, por parte de quem estava no estrangeiro e não estava a seguir a emissão nos canais nacionais, pois nos dias de hoje já começa a haver mais gente a ver estas emissões pelo computador, nas emissões dos seus países, e sendo assim não sabemos qual é o número a ligar pra votar na música preferida. Apostei 10 libras, na casa de apostas "Ladbrokes", na canção da Grécia, apontada como favorita, e realmente depois da vergonhosa votação que se seguiu, constatei, que quem não tem apoios regionais, nos moldes actuais do festival nunca vencerá! Prevejo nos próximos anos muitas vitórias para o bloco ex-soviético, ou ex-jugoslavo. o Reino Unido é um dos principais patrocinadores do evento, juntamente com a ALemanha, a França e a Espanha, e todos eles terminaram nos últimos lugares. Porquê? Porque não têm aliados! A Itália (porque os Italianos são muito espertos por natureza) deixou de patrocinar o evento, e retirou-se da competição. Ano passado dizia-se aqui, acerca da vitória da Sérvia e pelo facto de ter recebido sempre 12 pontos de todos os vizinhos "Há dez anos atrás andavam a matarem-se uns aos outros, e hoje oferecem 12 pontos, entre eles". Espero q estes paises deixem de patrocinar este "festival" porque o que assisti sábado foi uma vergonha. Agora sim, e daqui pra frente, posso dizer que já só vejo o concurso por causa das meninas, esssas sim, lindas e charmosas, que passaram a ser o único ponto de interesse neste "festival".

Anónimo disse...

Sr Jose Milhazes agradeço o seu artigo. É bom conhecer a realidade de outros locais, com uma outra HISTÓRIA, logo e consequentemente, de CULTURAS a todos os niveis diferentes. Mas tenho que lhe dizer abertamente você deu variadíssimos "tiros nos pés". Remeter e redundar a música a uma questão meramente política e histórica não é inteligente. Embora a politica seja a base da cidadania. Por isso compreendo o que quer dizer, e que isso represente, lá está, no final, uma percentagem dos votos. No entanto repare. A música russa era "Universal". Era "pop". Quem consome este tipo de música? Os "putos" (parecem bandos de pardais à solta). Quem ouve heavy-metal (finlandeses Lordi)? Os "putos". A música é globalizante. Conhece Enigma? Autor francês, mas a sonoridade é de outros "mundos". E eu gosto muito de Enigma. Os últimos vencedores tem todos apresentados música na mesma linha (pop, etc). Quem gosta? "Os putos". E repare que isso corresponde a uma geração que vai até aos 30 aproximadamente. E quem tem as novas tecnologias sempre à mão prontas para o sms ou chamada impulsiva? Os "putos". Por isso volto repetir. Por muito que as comunidades de e/imigrantes tenham alguma percentagem na decisão final, a vitória tem sido atribuida maioritariamente "pelas "novas tecnologias" que vão globalizando o nosso "mundo" e pelos maiores usufruidores delas: "os putos". E é óbvio, a globalização é um conceito de organização política, ou será mesmo de todos nós? Eu não gosto da democracia, gosto mais da diplomacia, mas da diplomacia "comunista" e não "socialista". Se alguma coisa se pode concluir, é o de que são cada vez mais os "putos" que emigram. Seja pelo liberalismo economico, seja pelo liberalismo proprio. Como diz o nosso PR "os putos" andam afastados da politica. Porque será? Como vi ontem escrito: o PS e PSD são alternativas para o mesmo.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Marinini Bianco, estou parcialmente de acordo consigo no que diz respeito aos putos. Eu tenho filhos e compreendo porque é que a juventude olha para a política da forma como olha.
Mas não estou de acordo consigo quando escreve que são eles que ouvem a Eurovisão e dão a vitória a este ou aquele.
Vou-lhe dar um exemplo da "fidelidade" e "precisão" das votações por telefone. Recentemente, na Ucrânia, terminou o concurso televisivo "Dez mais famosos ucranianos". Foi batido o recorde do número de chamadas para concursos do género, mais de quatro milhões. Tudo apontava para a vitória do nacionalista ucraniano Stepan Bandera, mas, para grande surpresa de alguns, venceu um príncipe do século XII, Iaroslav, o Sábio.
Sabe o que aconteceu? Segundo a imprensa ucraniana, o Partido das Regiões gastou mais de 100 mil dólares em chamadas telefónicas para mudar o rumo da votação.
Não terá sido esta a razão que levou à vitória de Salazar e Cunhal em Portugal?
Numa palavra, não seria melhor ter um júri competente para tirar as dúvidas sobre a limpeza das votações?

Anónimo disse...

Penso que estaria a refir-se para mim. É com gosto que estou neste debate saudável. O facto de ter que escrever leva a fazer redundancias também. No fundo o que quero concluir é: todas as hipoteses aqui dispostas são completamente válidas. Como foi dito por alguem a Russia jogou para ganhar. E há que dar os parabéns. Conseguiu-o democraticamente. Eu tenho consciencia que todos os factos apresentados (e/imigração, "afinidades", etc) reflectem-se no resultado final. Mas acho que de todas as intenções de votos, a maior parte percentual foi aquela em que diz "votei porque gostei mais da música da Rússia". Sendo a música russa um pouco pop isso reflectirá uma faixa etária predominante mais juvenil ou juvenil-adulta.

A questão que coloca dos 10 grandes ucranianos já é diferente. Ai sim, existem muitas questões politicas. No decorrer da votação em Portugal foi muitas vezes feito o apelo ao voto útil, ou seja, ao voto naquele que as pessoas realmente gostavam. Porque? Porque existia a consciencia de que iria existir uma "guerra" Cunhal-Salazar. Muitos iriam votar em Cunhal para combater Salazar e vice-versa. Ou seja era o voto do contra e não do que as pessoas realmente gostavam. E porque não se abstiveram? Porque tinham consciencia que são inegavelmente duas figuras "recentes" e tremendamente marcantes, para o bem e para o mal, e que são figuras com o apoio de muitos portugueses. Cunhal tinha a "esquerda" toda do seu lado. E o PS e PSD, onde ficavam? Certamente iriam dividir os votos pelos restantes, pois não estava lá ninguem marcante e "ideologicamente" dos seus partidos. Repare apresentavam uma sintese de 10 grandes alemaes, estava la Hitler, muitas pessoas iriam escolher outra para não dar o voto a Hitler. Resumindo a reflexão que retiro é: a vitória de Salzar é o reflexo do descontentamento/contra o governo actual, representando o voto uma "manif", e também do "ódio"/oposição aos comunistas. Como pode ganhar Salazar quando PS teve maioria absoluta? As pessoas só podem estar descontentes. O voto em Cunhal acho que foi mais genuino, ou seja aquele em que houve realmente uma maior intenção de voto útil, porque a "esquerda" (a verdadeira) estava unida em torno de Cunhal. Obviamente os militantes "socialistas" e "social democratas" apelaram e muito ao voto útil para não haver a "surpresa" que se veio a verificar. Em Portugal tenho a certeza: houve tranparencia, as intençoes de voto é que foram diferentes. Na Ucrania desconheço a razão, alias como desconheço qualquer grande nome desse país. Mas o senhor também sabe como são os midia, nem sempre, melhor quase sempre não são fidedignos.

Anónimo disse...

Peço desculpa e acabei por não responder à sua pergunta. Olhe este exemplo, exagerado: a Russia tem milhoes de habitantes eles votavam 200 milhoes na musica ucrania, 10 pessoas na sueca, 8 na grega, 7na portuguesa por ai fora. Na Alemanha exactamente o mesmo. 70milhoes na ucraniana, 10 pessoas na Islandia etc. Depois mais nenhum cidadao votava na Ucrania. Ou seja obtia 24 pontos. Resumindo: o país vencedor pode nem ser aquele que teve mais votos dos cidadaos pois essas percentagens de voto das populaçoes são transformadas em pontos de 1 a 12. É perfeitamente plausivel o vencedor ser um pais que reuniu menos votos mas que na transformaçao em pontos acabe por ganhar. Darão os juizes mais transparencia? Lá está: a música terá sempre muito de sensorial e pouco de racional. Querem lá as pessoas saber se a pauta e as claves de sol estão "crediveis" "ou perfeitas" ou outro adjectivo qualquer.

Entao como resolver estes problemas? Com retirar poder ao povo e criar rigor e transparencia? Sinceramente, entre o pseudo rigor e as sensaçoes, prefiro deixar as pessoas curtir a musica...

Espero que a Eurovisão continue por muitos e longos anos. Vou deixar uma provocação sr Jose Milhazes: está "cota" (estou a brincar). Não se preocupe tenho 26 anos e sei que um dia também vou ouvir música que não é para os meus ouvidos. Aliás os meus pais gostam muito dos artistas portugueses de outros tempos que mencionou. Eu também gosto de música de intervençaõ, mas actualmente já não existe Zeca Afonoso e outros, agora a musica de intervençao é em forma de Rap ou Madonna.

Com todo o respeito. Um enorme bem haja e continue a contar histórias da Rússia, que nós cá estaremos para as ler.

Anónimo disse...

Lembrei-me também agora de uma coisa em relação às chamadas telefónicas no decorrer dos 10 Grandes Portugueses. Em Portugal só poderia existir uma única chamada por telefone. As pessoas não podiam votar as vezes que queriam no mesmo candidato através do mesmo número de telefone. Será que alguém conseguiu contornar isso? Sinceramente acho que não. E aliás a RTP teve um comportamento por demais "estatal". Não incluiu Salazar inicialmente. Pode-se legitimamente criticar Salazar, mas também estavam lá mutos reis que foram autenticos "barbaros" por muitas conquistas que tivessem feito. Depois a postura do apelo ao voto útil foi ridicula. Se era um concurso, tem que se aceitar a competição e não censurar explicitamente como aconteceu com Salzar (numa 1ª fase), ou implicitamente com esse apelo ao voto útil. Voltando aos "putos" fique a saber que nos 100 grandes tugas estavam lá actores dos Morangos com Açucar e Cristianos Ronaldos. E voltando outra vez à postura da RTP. Foi referido no programa que após a eleição iria haver um programa extra para análise à votação e resultado final. Sabe quando foi realizado esse program de análise? NUNCA. Isso é continuar a cultivar preconceitos, ódios ideológicos, intolerância e incompreensão. Por isso coloco agora a si esta pergunta caro Milhazes: o que pensa da postura da RTP? Sabe estou farto de contribuir para uma estação que não presta serviço público (ou se faz, faz tanto ou menos que as outras estações) e ainda por cima não é a eleita DEMOCRATICAMENTE pelA MAIORIA dos portugueses, que dão share a outras estaçoes. Por isso afirmo: a censura anda à solta em pelno séc XXI. Porque Utopia é a palavra adequada para as mentes mentirosas.

Anónimo disse...

O senhor vive na Russia, mas sempre esta contra os sucessos russos. Este concurso nao e a primeira vez que esta a se realizar mas, a Russia sempre tinha russos a viver nos paises que o senhor mencionou, mas porque que estes nao votaram para a Russia ganhar? O Dima Bilan tinha a melhor exibicao de todos por isso ganhou porque mereceu esta victoria!

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor, não tenho nada contra os sucessos da Rússia, pelo contrário, saúdo-vos, mas convém compreender que há "êxitos" e "êxitos". A mim preocupa-me muito mais problemas como a pobreza, a educação, a assistência social. Eu analisei o Festival da Eurovisão à luz do que se passou lá este ano, não querendo dizer que teria de vencer "a" ou "b".
Aos russos, entre os quais vivo e trabalho há 31 anos, apenas desejo as maiores felicidades.
O leitor Bruno pergunta-me o que penso da RTP, respondo apenas que deve ser um canal diferente dos outros porque é serviço público, não deve ter por objectivo o lucro, mas estar aos serviços dos que a mantêm aberta com os seus impostos.

Anónimo disse...

Chiki Chiki......Freak Show ?

lourrain disse...

É curioso como um acontecimento tão fútil, como foi o festival da eurovisão, desencadeou tantos comentários. Comparativamente a outros temas muito mais interessantes, expressos neste blog, o da eurovisão é aquele que apresenta mais comentários sendo alguns deles bastante extensos. Porque será?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Lourrain, este número de comentários está longe de ser o maior. Claro que seria interessante se os leitores comentassem mais outras postagens, mas também gostei a discussão em torno da Eurovisão

Anónimo disse...

Sr Jose Milhazes, in Publico

"A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) divulgou segunda-feira o relatório anual de regulação, no qual afirma que os três canais violaram os limites de publicidade impostos pela Lei da Televisão, tendo o canal público sido o maior incumpridor nesta matéria, ultrapassando em 11 vezes o máximo de seis minutos por hora de publicidade."

Anónimo disse...

Sr Lourrain, a partir da música pode-se chegar a muito bom porto. E não acho que um evento que envolve milhões de pessoas seja fútil. A sociedade é feita de pessoas. Já agora o que pensa do concurso Grandes Portuguese? Fútil?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Bruno, o programa Dez Grandes Portugueses poderia ter sido interessante, não fosse a forma como foi organizada a votação,com os resultados que deram. Considera mesmo que Salazar e Cunhal sejam os dois mais ilustres portugueses? Se assim for, apenas poderei dizer: "Pobre do meu país!"

lourrain disse...

Caros amigos
O programa Dez Grandes Portugueses não passou de um programa que se queria sério e acabou por ser uma grande brincadeira por parte do público. É do conhecimento geral que o público votou em Salazar e no Cunhal com o objectivo de que o resultado fosse "chocante" e ao mesmo tempo cómico. Foi exactamente esta vertente da ganhofa que se procurou alcançar. O cómico da situação numa realidade democrática. Choveram msns préviamente combinadas para que se votasse na figura de Salazar e de Cunhal. Por isso não devemos ficar perplexos com a situação, pois tudo não passou de uma grande brincadeira que desvirtuou os objectivos iniciais do concurso. Não tenho dúvidas de que se o concurso fosse levado a sério teria ganho D. Afonso Henriques ou o Infante D. Henrique. Pelo menos seria a estes que eu daria o meu voto. Contudo, confesso que diverti-me imenso com os resultados.
Mas nada disto relaciona-se com O Festival da Eurovisão onde é levado muito a sério pelos novos países provenientes do bloco soviético. Na europa ocidental o peso da importância neste género de festivais é muito diminuto. Faz-me lembrar os Jogos sem Fronteiras, onde Portugal muitas vezes ganhou. Já agora não seria bom organizar uns Jogos sem Fronteiras? Os países de leste estariam concerteza em peso e muito motivados para ganhar, exactamente, como no Festival da canção.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Lourrain, quanto à votação da Eurovisão, não a leve muito a sério. Eu tentei votar, a partir da Rússia, mais precisamente, na canção portuguesa a fim de experimentar o sistema de votação e devo-lhe informar o seguinte. Durante os quinze minutos da votação, foi impossível telefonar a partir do telefone fixo da minha casa. O sistema estava simplesmente bloqueado. Apenas consegui telefonar do telemóvel. Como é sabido, na Rússia, o telefone fixo ainda é maioritário entre os russos. Isto para já não falar da província.
Mas tudo pode não ter passado de uma casualidade. Acontece...

Anónimo disse...

Apenas um comentário: a frase não é de Tolstoi, mas do Dr. Samuel Johnson, pensador inglês.

armando