terça-feira, maio 13, 2008

Nova crise política aproxima-se da Ucrânia



O Presidente da Ucrânia, Victor Iuschenko, foi impedido, na terça-feira, de discursar perante a Rada Suprema (Parlamento) pelo grupo parlamentar Bloco Iúlia Timochenko, dirigido pela primeira-ministra Iúlia Timochenko e que, com o bloco pró-presidencial Nossa Ucrânia, constitui a coligação governamental.
Este incidente é mais um sinal claro de que a coligação governamental pró-ocidental deixou de existir e que a queda do Governo e a realização de eleições antecipadas poderão ocorrer ainda este ano.
Victor Iuschenko deveria pronunciar um discurso sobre o estado da nação, mas os deputados do Bloco Iúlia Timochenko bloquearam os acessos à tribuna do Parlamento para exigir que na ordem de trabalhos da sessão parlamentar fossem incluídas as questões da chefia do Fundo de Propriedade Pública e do combate à inflação.
No passado dia 06 de Fevereiro, o Conselho de Ministros da Ucrânia demitiu Valentina Semeniuk da direcção do Fundo de Propriedade Pública, acusando-a de envolvimento em casos de corrupção, mas, no dia seguinte, Iuschenko reconduziu-a ao cargo.
Além disso, o Bloco Iúlia Timochenko acusa o Presidente Iuschenko de travar a aprovação pela Rada de um pacote de medidas anti-inflacionárias. Nos quatro primeiros meses deste ano, a inflação na Ucrânia atingiu os 13,1 por cento.
Iuschenko acusa o Governo de Timochenko de ser o responsável por essa subida, enquanto que a primeira-ministra diz que a subida da inflação é um fenómeno mundial e promete travar o aumento dos preços em alguns meses.
Impedido de discursar da tribuna, Iuschenko optou por dar uma conferência de imprensa.
“A força que não vela pela estabilização política no país é a força que se manifesta contra os interesses nacionais” – começou ele, sem citar o nome da primeira-ministra ou do seu bloco, embora todos tenham entendido para onde eram dirigidas as farpas.
Porém, Iuschenko sublinhou que não pretende convocar eleições antecipadas, nem rever o formato da coligação governamental existente. “Não embarcarei em quaisquer aventuras relativamente à reformatação da coligação e não reconheço quaisquer apelos a eleições parlamentares antecipadas” – frisou.
Nos últimos meses, as relações entre Iuschenko e Timochenko, bem como entre as forças políticas que dirigem: Nossa Ucrânia-Autodefesa Popular e Bloco Iúlia Timochenko respectivamente, têm-se deteriorado seriamente e alguns analistas consideram que a ruptura total poderá ocorrer no Outono.
“A ruptura ainda não se deu porque Iuschenko não tem praticamente base de apoio político para concorrer com a cada vez mais popular primeira-ministra. A realização de eleições antecipadas, nos tempos mais próximos, será um verdadeiro desastre para o Presidente” – declarou por telefone à Lusa Vladimir Dolin, jornalista do canal televisivo ucraniano Inter.
Após o termo da conferência de imprensa de Iuschenko, Iúlia Timochenko veio prometer responder com decisão às tentativas de dificultar o trabalho do seu Executivo.
“Há quatro meses que se observa o bloqueamento total do trabalho do Governo, que se desprezam totalmente as medidas para combater a inflação que foram apresentadas na Rada. Eu vou começar a agir de forma bem dura” – preveniu.
Timochenko acusa a Admistração de Iuschenko de estar a sabotar as actividades dos seus ministros. “Todos os dias, o trabalho do secretariado do Presidente visa mostrar que é impossível controlar a situação” – declarou.
A primeira-ministra ucraniana veio reafirmar hoje também que não deu início à campanha para as eleições presidenciais, marcadas para 2009. “Hoje, não me estou a preparar para as eleições seguintes” – frisou ela.
“Claro que ela irá ser um dos sérios concorrentes de Iuschenko nas presidenciais, daí esta luta cada vez mais aberta. No fundo, trata-se de uma luta com vista a neutralizar um dos mais sérios adversários” – considera Vladimir Dolin.
Actualmente, as sondagens mostram que Iúlia Timochenko é um dos políticos ucranianos mais populares.
O processo de revisão constitucional é mais um motivo de confronto entre Iuschenko e Timochenko. O Presidente da Ucrânia pretende que o novo projecto da Constituição da Ucrânia seja elaborado pelo Conselho Constitucional Nacional, órgão criado e dirigido por ele. Esse órgão foi formado em Fevereiro passado e pretende fazer alterações à Constituição da Ucrânia com vista ao reforço dos poderes presidenciais.
O Bloco Iúlia Timochenko, bem como os partidos da oposição ao Presidente Iuschenko, defendem a criação de uma Comissão Constitucional Parlamentar, mas o dirigente ucraniano considera inconstitucional a criação desse órgão.
“Em jogo está a futuro estrutura do poder na Ucrânia. Iuschenko pretende, com a revisão constitucional, reforçar as suas prerrogativas, fazendo do país uma república presidencial-parlamentar, enquanto que as restantes forças políticas defendem o reforço do Parlamento e do Governo, ou seja, pretende que o país se transforme numa república parlamentar-presidencial” – acrescenta Vladimir Dolin.
“Hoje, somos testemunhas de mais uma agudização da crise política no país” – constatou Arseni Itzeniuk, dirigente da Rada Suprema, depois das declarações feitas hoje pelo Presidente e a primeira-ministra.
É importante assinalar que esta crise tem lugar num momento em que dirigentes russos voltam a pôr em causa a integridade territorial. Iúri Lujkov, Presidente da Câmara de Moscovo e marido da mulher mais rica da Rússia, considera que a entrega da cidade de Sebastopol, importante porto militar no Mar Negro, à Ucrânia é ilegitima e exige a revisão das fronteiras estabelecidas após a queda da Uniao Soviética.
Neste momento, segundo os analistas ucranianos, não há razões para temer a desintegração do país, mas as coisas poderão alterar-se se a crise política se aprofundar.

1 comentário:

Anónimo disse...

As democracias pouco maduras têm destas coisas. Qualquer pequena deriva pode degenerar no autoritarismo, e a fraca autoridade das instituições não tem força para se dar ao respeito. Tais reacções por parte de membros do parlamento seriam dignas de dissolução imediata do mesmo. Não são admissiveis. Decididamente este senhores não sabem nem querem jogar à democracia. A única coisa que conhecem e acreditam é no autoritarismo, de um só ou das massas.