O almirante russo amigo dos portugueses
Em 2007 e 2008, celebram-se os 200 anos da luta dos portugueses contra as tropas napoleónicas que invadiram Portugal. Ao escrever a minha tese de doutoramento, deparei com a história do almirante russo Dmitri Seniavin e a sua aventura no porto de Lisboa durante as invasões francesas. Publico aqui, por capítulos, este facto curioso para dar a conhecer aos meus leitores o nome e a obra de um dos maiores almirantes russos.
"Em 3 de Novembro de 1807, a esquadra do almirante russo Dmitri Seniavin entrou na foz do Tejo para fugir a uma forte tempestade no mar, mas ficou aí retida durante quase um ano devido à tempestuosa situação internacional.
A 7 de Julho desse ano, a Rússia e a França de Napoleão tinham assinado um Tratado de Paz e Amizade em Tilzit e a Corte de São Petersburgo rompera as relações diplomáticas com Londres. A 17 de Novembro, depois da fuga da família real portuguesa para o Brasil e da ocupação do país pelas tropas francesas, a armada inglesa fechou a barra do Tejo não só aos navios franceses, mas também aos dos aliados de Paris.
O almirante Seniavin viu-se numa situação muito complicada. Por um lado, não podia deixar de cumprir as ordens do czar Alexandre I, mas, por outro lado, as suas simpatias estavam do lado dos ingleses e portugueses.
O almirante Seniavin, porém,conseguiu cumprir essa difícil tarefa. Ele compreendeu rapidamente que o general Junot, que havia ocupado Portugal, iria tentar de todas as formas cumprir a vontade de Napoleão, ou seja, provocar a guerra entre a Rússia e Inglaterra pelas mãos do comandante da esquadra russa.
Mas o facto é que, não obstante o corte de relações com Londres, o czar Alexandre não pretendia na realidade entrar em conflito aberto com os ingleses.
Dmitri Seniavin escreveu ao seu comandante supremo depois do primeiro encontro com Junot: “Consegui compreender de algumas palavras por ele ditas que o governo francês não quer perder a oportunidade que lhe dá a permanência da esquadra de Vossa Alteza aqui, para aumentar as dúvidas do governo inglês sobre as intenções de Vossa Majestade Imperial, e numerosos dos oficiais navais franceses que se encontram aqui dizem abertamente que serão nomeados para a esquadra que me foi confiada para o lugar dos oficiais de origem inglesa”.
Alexandre I tarda em enviar instruções, mas Seniavin continua a sua política de evitar o envolvimento dos seus barcos e homens no confronto anglo-francês, o que irrita fortemente o imperador gaulês.
Napoleão tenta fazer com que o almirante deixe de receber ordens de São Petersburgo e passe a cumprir ordens do conde Tolstoi, embaixador russo em Paris, que funcionaria como uma “correia de transmissão” sua.
“A esquadra do almirante Seniavin chegou a Lisboa – escrevia Napoleão a Alexandre a 7 de Dezembro de 1807 – Felizmente, as minhas tropas já se devem encontrar lá. Seria bom se Vossa Alteza incumbisse o conde Tolstoi de ter poder sobre essa esquadra e sobre as suas tropas, para que, em caso de necessidade, possam ser utilizadas sem esperar ordens directas de Petersburgo. Penso também que este poder directo do embaixador de Vossa Alteza teria boa influência no sentido em que poria fim à desconfiança que por vezes revelam os comandantes face aos sentimentos de França”.
A pressão sobre o almirante Seniavin aumenta através da instrução da Corte Russa, enviada no início de 1808, recebida por Andrei Dubatchevski, representante diplomático russo em Lisboa, e dirigida a todos os militares russos: “Em relação ao governo que irá existir em Portugal, é necessário que os vossos actos correspondam em tudo à disposição amiga actualmente existente entre a Rússia e a França”.
E, por fim, a 1 de Março do mesmo ano, Alexandre I envia uma ordem aos três comandantes de armadas russas que se encontravam no estrangeiro, entre as quais estava a comandada por Seniavin: “Reconhecendo como útil para o êxito da causa comum e para que seja feito o maior prejuízo ao inimigo colocar as nossas forças navais que se encontram fora da Rússia à disposição de Sua Alteza, o Imperador dos Franceses, ordeno-vos que, em conformidade com isso... o cumprimento indiscutivelmente mais preciso de todas as ordens que vos forem dadas por Sua Alteza, o Imperador Napoleão”.
(continua)
4 comentários:
Comentário enviado por mail pelo leitor João Moreira: "Prezado Milhazes,
Acertou na "mouche". Hoje, na minha terra, realizou-se um simulacro da tomada de um forte que veio a permitir o desembarque das forças inglesas, comandadas pelo duque de Wellington e que, posteriormente, levou à batalha do Buçaco.
João Moreira"
Caro José Milhazes
Publiquei o seu artigo no meu blog http://www.causa-monarquica.tk
Cumprimentos
Rui Monteiro
Caro Rui Monteiro, obrigado pela atenção.
Acabo de fazer o mesmo no meu blog Lagos Militar.
Parabens pelo excelente post.
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