sábado, junho 28, 2008

Rússia e UE procuram vias de entendimento futuro


O Presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, e os representantes da União Europeia: Durão Barroso, Javier Solana e Janez Jance, apontaram uma sérias de vias de desenvolvimento das relações entre a Rússia e a UE, na cimeira que terminou hoje em Khanta-Mansisk.
Na conferência de imprensa realizada após as conversações, Medeved considerou que o novo acordo de cooperação entre Moscovo e Bruxelas se deve tornar “na base da mais longa parceria estratégica”.
“Quero assinalar desde já que um dos temas mais importantes que mais activamente se discutiu nos últimos tempos foi a questão da assinatura do novo acordo básico da Rússia/UE e, hoje, anunciamos oficialmente o início de conversações completas com vista à elaboração desse documento” – declarou o dirigente russo.
“Claro que tendo em conta a necessidade de a União Europeia terminar toda uma série de processos internos” – precisou.
Segundo ele, “o futuro acordo é um instrumento de aproximação real da Rússia e da UE. Ele deve basear-se nos princípios da igualdade, do pragmatismo, do respeito pelos interesses das partes e, claro, na comunhão de abordagens dos problemas fulcrais da segurança”.
“Assinalo que o acordo visa tornar-se a base da parceria estratégica entre a Rússia e a UE durante muito tempo” – frisou.
Medvedev reafirmou que as conversações terão início a 04 de Julho em Bruxelas, avançado a sua opinião sobre a forma do novo documento.
“As nossas posições, acordadas em Sotchi em Maio de 2006, continuam inalteráveis. O novo acordo deve ser bastante curto, ser um documento-quadro, sem detalhes exagerados. Irá sublinhar-se nele o carácter estratégico das nossas relações. Além disso, o documento deve ser completado por um sistema dos chamados acordos sectoriais” – precisou o dirigente russo.
Janez Jance, primeiro-ministro da Eslovénia, país que preside à UE, confirmou a existência de boas perspectivas para a assinatura de um novo acordo de cooperação com a Rússia.
“Confirmamos as excelentes perspectivas de assinatura do novo acordo, Mas é necessário realizar conversações para atingir a harmonia” – declarou ele, na conferência de imprensa.
Segundo o primeiro-ministro esloveno, antes da assinatura do acordo é necessário realizar um diálogo aberto sobre as questões da energia para garantir a segurança dos fornecimentos de recursos energéticos.
No campo da energia, Medvedev prometeu levar até ao fim todos os projectos a fim de garantir a segurança energética dos países da Europa.
“Todos esses projectos, devido ao seu carácter absolutamente concreto, à importância para a manutenção do equilíbrio energético da Europa, serão levados até ao fim. Tenho em vista a “Corrente do Norte” e a “Corrente do Sul”. Mais, eles desenvolvem-se com êxito, não obstante ser necessária a autorização de outros Estados para a realização de projectos de tal envergadura”.
O dirigente do Kremlin reconheceu que as questões da energia tiveram um lugar central na cimeira.
Janez Jance sublinhou também o desenvolvimentro activo da cooperação comercial e económica entre a Rússia e os países da UE. Por exemplo, entre 2003 e 2007, as trocas comerciais triplicaram e superaram o valor de 230 mil milhões de euros.
O dirigente esloveno anunciou que, durante a cimeira, foi abordada a questão dos conflitos regionais, sublinhando que “todas as partes se devem abster do emprego da força para não romper o diálogo”.
“Durante as conversações, trocámos opiniões sobre temas internacionais actuais, nomeadamente sobre a problemática da segurança europeia, sobre os chamados “conflitos congelados”. A Rússia e a UE estão unânimes nas suas abordagens básicas das questões da segurança. Apoiamo-nos no nosso apego ao Direito Internacional, aos métodos não violentos, políticos, de solução dos conflitos, ao reforço da multilateralidade e dos princípios colectivos na política mundial” – defendeu Medvedev.
Ele sublinhou que a Rússia e a União Europeia possuem uma rica experiência de interacção no campo internacional e estão prontas a dar passos práticos para o reforço da estabilidade e da segurança na Europa e no mundo.
Javier Solana, Comissário para a Defesa e Política Externa da UE, declarou, por sua parte, que a União Europeia tenciona participar activamente na resolução dos conflitos entre a Geórgia e a Abkházia, entre a Moldávia e a Transdnestria.
“Falámos da Geórgia e da Moldávia. Iremos colaborar nesta questão” – afirmou Solana.
Ele disse também que os dirigentes da Rússia e da União Europeia abordaram a situação no Médio Oriente.
“O encontro sobre a regularização no Médio Oriente irá realizar-se em Moscovo” – anunciou Solana, acrescentando que tinha ficado muito satisfeito com as conversações.
Segundo Solana, “devemos cooperar na solução dos problemas da segurança. É impossível resolver isso sem a Rússia e a União Europeia. As questões da energia, da luta contra o terrorismo, contra a difusão de armas de extermínio massivo estão profundamente na esfera dos interesses da Rússia e da UE”.
Medvedev voltou a afirmar que nenhuma das actuais organizações existentes na Europa é capaz de resolver o problema da segurança europeia.
“Nenhuma destas organizações: OSCE, UE e NATO, está em condições de resolver completamente esses problemas” – frisou, acrescentando que “é evidente que a segurança europeia é inseparável. Ela não pode separar-se em blocos e uniões, nem ser garantida por alguns Estados, visto que se trata da segurança do continente europeu”.
O Presidente russo condenou mais uma vez a intenção norte-americana de instalar elementos de um sistema de defesa anti-míssil na República Checa e Polónia, considerando que a segurança da Europa não deve ser entregue aos vizinhos.
“A Europa é a nossa casa comum e nós Estados que somos donos dessa casa comum. Como donos, devemos recordar os nossos deveres na manutenção da casa comum. É impossível atirar esses deveres para cima dos vizinhos. Trata-se de uma tarefa nossa, por isso é impossível entregar a manutenção da casa, mesmo que a um dono muito bastado” – declarou.
O Presidente Medvedev utilizou a conferência de imprensa para defender a necessidade de definir prazos e dar paços concretos com vista a anular o sistema de visto existente entre a Rússia e a UE.
“Considero que, presentemente, para nós o mais importante é definir prazos possíveis e passos concretos que nos façam aproximar do objectivo final: a possibilidade de os cidadãos da Rússia e da UE viajarem sem vistos” – frisou.
O dirigente russo ressaltou os processos conseguidos na criação de um espaço económico único, acrescentando que “graças à sua realização se começaram a desenvolver relações sectoriais entre ministérios russos e as respectivas comissões da UE”.
Dmitri Medvedev voltou a considerar inaceitável a revisão da história que, segundo Moscovo, tem lugar em países como Estónia, Letónia, Lituânia, Ucrânia e Polónia, acrescentando haver “completa compreensão mútua entre a Rússia e a UE neste campo”.
“Hoje, discutimos abertamente as arestas complicadas nas nossas relações. Do nosso ponto de vista, tornou-se uma tendência preocupante a transformação da chamada solidariedade europeia num instrumento de solução de problemas bilarterais de alguns países membros” – acrescentou.
“Continuamos preocupados com a situação dos direitos dos nossos concidadãos na Letónia e Estónia, é inaceitável a relação mole face às tentativas de heroização dos colaboradores com o nazismo, o desejo de rescrever algumas páginas da História da Europa do séc. XX” – concluiu o chefe de Estado russo.
Ao abordar esta questão na conferência de imprensa, Durão Barroso assinalou que a União Europeia é contra todas as formas de totalitarismo.
“por isso, quando rechaçamos o totalitarismo, incluindo o soviético, isso não significa que estamos contra a Rússia. Trata-se de uma declaração a favor da democracia”.
Segundo o presidente da Comissão Europeia, Bruxelas espera continuar um diálogo construtivo com a Rússia no que diz respeito aos direitos humanos.
“Suponho que o Presidente, que aposta num maior respeito pela lei, vai ajudar-nos a estabelecer um diálogo mais construtivo sobre as questões dos direitos humanos, sobre a questão da liberdade de imprensa” – sublinhou Durão Barroso.
Durão Barroso considerou a Cimeira de Khanta-Massinsk “muito produtiva, que decorreu num atmosfera sincera e aberta, que contribui para a solução dos problemas existentes entre a Rússia e a UE.

P.S. Gostaria de fazer apenas duas considerações pessoais, que acho de extrema importância. Primeira, por enquanto, não existem razões, nem motivos para esperar que a política externa da Rússia vá sofrer alterações com a chegada de Dmitri Medvedev ao Kremlin, o tom do discurso é decalcado do seu antecessor.

Segundo, as conversações sobre o novo acordo estratégico entre a Rússia e a UE irão ser morosas e difíceis, porque entre as partes não há unanimidade quanto à forma e o conteúdo desse documento. Tendo em conta que, após a assinatura do documento, ele terá de ser ratificado pelos parlamentos da Rússia e dos 27 países da União, alguns políticos em Moscovo calculam que ele possa começar a vigorar dentro de dois anos.

Terceiro, não obstante todas essas dificuldades, as relações comerciais e outras desenvolvem-se a bom ritmo.

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