Artigo escrito por mim, a 21 de Junho, para a Agência Lusa sobre a visita do Presidente da Ucrânia, Victor Iuschenko, a Portugal:
"O Presidente da Ucrânia, Victor Iuchtchenko, visita Portugal tendo como objectivo ganhar o apoio de Portugal para a futura adesão do seu país à Aliança Atlântica, para os confrontos com a Rússia e para reforçar a sua posição no plano interno.
“O Presidente Iuchtchenko tem como um dos principais objectivos da sua política externa, senão o principal, a adesão da Ucrânia ao Plano de Acções da NATO, programa que visa preparar o país para a entrada na Aliança Atlântica”, declarou por telefone à Lusa Vladimir Dolin, jornalista do canal televisivo ucraniano Inter.
Os dirigentes ucranianos, tais como os georgianos, esperavam que o convite para aderir ao Plano de Acções da NATO fosse feito na Cimeira dessa organização, realizada em Bucareste no passado mês de Abril, mas a decisão foi adiada para Dezembro, devido à oposição de países como a Alemanha.
Berlim não quer irritar a Rússia, que está decididamente contra o alargamento da NATO à Ucrânia e Geórgia, e alega também que a maioria da população ucraniana está contra esse passo.
“Victor Iuchtchenko poderá pedir também o apoio de Portugal, enquanto membro da União Europeia e da NATO, num momento em que a retórica anti-ucraniana aumenta fortemente na Rússia”, considera Vladimir Dolin.
Segundo este jornalista, “as ameaças da parte da Rússia em relação à Ucrânia aumentam e irão subir de tom se Kiev não desistir da ideia da adesão à NATO. Moscovo volta a pôr em causa a integridade territorial da Ucrânia, ameaça com o espantalho da desintegração do país”.
O Presidente ucraniano tem dado publicamente garantias de que no seu país não serão instaladas bases ou armas nucleares se ele aderir à Aliança Atlântica, de que este passo não visa prejudicar os interesses da Rússia, mas Moscovo tem vindo a aumentar o tom das ameaças.
Iúri Lujkov, presidente da Câmara de Moscovo, defendeu recentemente a devolução da cidade de Sebastopol à Rússia, alegando que ela foi ilegalmente entregue pelo dirigente comunista Nikita Khrutchov (de origem ucraniana) à Ucrânia em 1954.
É nessa cidade que se encontra precisamente instalada a maior base naval da frota militar russa no Mar Negro. Iuchtchenko ordenou ao Governo ucraniano que preparasse as bases juídicas da retirada dos navios russos até 2017, data em que termina o acordo russo-ucraniano sobre a presença da marinha militar russa na Crimeia.
Mas Moscovo pretende o prolongamento do acordo, não pondo de lado o sonho de, até 2017, conseguir que em Kiev surja um Governo ucraniano mais maleável e obediente.
Serguei Ivanov, vice-ministro russo, ameaçou também que, caso a Ucrânia adira à NATO, Moscovo cortará os laços de cooperação com a Ucrânia na indústria militar.
É de assinalar que o complexo militar-industrial ucraniano tem fortes ligações com o russo, herdadas do período soviético, e que, com a sua ruptura, Moscovo pretende criar novas complicações à economia do país vizinho.
Essa cooperação é fortemente importante no campo da construção de aviões militares e mísseis.
A decisão da Gazprom, a maior empresa pública russa de extracção e exportação de gás natural, de aumentar fortemente o preço desse hidrocarboneto exportado para a Ucrânia vem também no seguimento da política russa de travar a aproximação da Ucrânia à NATO.
É verdade que o Governo de Kiev já respondeu, prometendo também aumentar significativamente o preço do transporte do gás e petróleo russos para a Europa através das condutas que passam pelo seu território.
A visita de Victor Iuchtchenko a Portugal poderá servir também para aumentar o seu prestígio e popularidade a nível interno.
“É sabido que o Presidente Iuchtchenko e Iúlia Timochenko, depois da ruptura política entre ambos, procuram apoios externos. E isso é tanto mais importante num momento em que a Ucrânia atravessa mais uma grave crise interna”, sublinha Vladimir Dolin.
“O Parlamento do país está paralisado, as leis vigentes não permitem a realização de novas eleições antecipadas, nem a dissolução do parlamento e, por conseguinte, a formação de novas coligações. O país está num impasse”, considera o jornalista.
A “coligação democrática” na Rada Suprema (Parlamento), formada pelos partidos que apoiam o Presidente Iuschenko e o primeiro-ministro Iúlia Timochenko, desintegra-se e, depois da saída de dois deputados dela, passou a ter 225 dos 450 assentos no Parlamento, o que não lhe permite aprovar leis.
Além disso, as fortes divergências entre Iuchtchenko e Timochenko face a problemas como as privatizações, reformas políticas e económicas levaram o Presidente a criar um novo partido: Centro Unido, com vista a formar uma nova aliança para afastar a primeira-ministra do cargo.
“O Centro Unido é uma força política, por enquanto, microscópica, não tem ideologia, mas tem como objectivo levar a primeiro-ministro Victor Baluga, chefe do secretariado do Presidente Iuschenko. Para isso, tenta fazer coligações com os partidos da actual oposição: Partido das Regiões e outros”, afirma Vladimir Dolin.
Por isso, os analistas políticos ucranianos não excluem a possibilidade de os ucranianos voltarem às urnas no próximo Outono e, então, o apoio internacional será importante para qualquer participante na contenda política."
“O Presidente Iuchtchenko tem como um dos principais objectivos da sua política externa, senão o principal, a adesão da Ucrânia ao Plano de Acções da NATO, programa que visa preparar o país para a entrada na Aliança Atlântica”, declarou por telefone à Lusa Vladimir Dolin, jornalista do canal televisivo ucraniano Inter.
Os dirigentes ucranianos, tais como os georgianos, esperavam que o convite para aderir ao Plano de Acções da NATO fosse feito na Cimeira dessa organização, realizada em Bucareste no passado mês de Abril, mas a decisão foi adiada para Dezembro, devido à oposição de países como a Alemanha.
Berlim não quer irritar a Rússia, que está decididamente contra o alargamento da NATO à Ucrânia e Geórgia, e alega também que a maioria da população ucraniana está contra esse passo.
“Victor Iuchtchenko poderá pedir também o apoio de Portugal, enquanto membro da União Europeia e da NATO, num momento em que a retórica anti-ucraniana aumenta fortemente na Rússia”, considera Vladimir Dolin.
Segundo este jornalista, “as ameaças da parte da Rússia em relação à Ucrânia aumentam e irão subir de tom se Kiev não desistir da ideia da adesão à NATO. Moscovo volta a pôr em causa a integridade territorial da Ucrânia, ameaça com o espantalho da desintegração do país”.
O Presidente ucraniano tem dado publicamente garantias de que no seu país não serão instaladas bases ou armas nucleares se ele aderir à Aliança Atlântica, de que este passo não visa prejudicar os interesses da Rússia, mas Moscovo tem vindo a aumentar o tom das ameaças.
Iúri Lujkov, presidente da Câmara de Moscovo, defendeu recentemente a devolução da cidade de Sebastopol à Rússia, alegando que ela foi ilegalmente entregue pelo dirigente comunista Nikita Khrutchov (de origem ucraniana) à Ucrânia em 1954.
É nessa cidade que se encontra precisamente instalada a maior base naval da frota militar russa no Mar Negro. Iuchtchenko ordenou ao Governo ucraniano que preparasse as bases juídicas da retirada dos navios russos até 2017, data em que termina o acordo russo-ucraniano sobre a presença da marinha militar russa na Crimeia.
Mas Moscovo pretende o prolongamento do acordo, não pondo de lado o sonho de, até 2017, conseguir que em Kiev surja um Governo ucraniano mais maleável e obediente.
Serguei Ivanov, vice-ministro russo, ameaçou também que, caso a Ucrânia adira à NATO, Moscovo cortará os laços de cooperação com a Ucrânia na indústria militar.
É de assinalar que o complexo militar-industrial ucraniano tem fortes ligações com o russo, herdadas do período soviético, e que, com a sua ruptura, Moscovo pretende criar novas complicações à economia do país vizinho.
Essa cooperação é fortemente importante no campo da construção de aviões militares e mísseis.
A decisão da Gazprom, a maior empresa pública russa de extracção e exportação de gás natural, de aumentar fortemente o preço desse hidrocarboneto exportado para a Ucrânia vem também no seguimento da política russa de travar a aproximação da Ucrânia à NATO.
É verdade que o Governo de Kiev já respondeu, prometendo também aumentar significativamente o preço do transporte do gás e petróleo russos para a Europa através das condutas que passam pelo seu território.
A visita de Victor Iuchtchenko a Portugal poderá servir também para aumentar o seu prestígio e popularidade a nível interno.
“É sabido que o Presidente Iuchtchenko e Iúlia Timochenko, depois da ruptura política entre ambos, procuram apoios externos. E isso é tanto mais importante num momento em que a Ucrânia atravessa mais uma grave crise interna”, sublinha Vladimir Dolin.
“O Parlamento do país está paralisado, as leis vigentes não permitem a realização de novas eleições antecipadas, nem a dissolução do parlamento e, por conseguinte, a formação de novas coligações. O país está num impasse”, considera o jornalista.
A “coligação democrática” na Rada Suprema (Parlamento), formada pelos partidos que apoiam o Presidente Iuschenko e o primeiro-ministro Iúlia Timochenko, desintegra-se e, depois da saída de dois deputados dela, passou a ter 225 dos 450 assentos no Parlamento, o que não lhe permite aprovar leis.
Além disso, as fortes divergências entre Iuchtchenko e Timochenko face a problemas como as privatizações, reformas políticas e económicas levaram o Presidente a criar um novo partido: Centro Unido, com vista a formar uma nova aliança para afastar a primeira-ministra do cargo.
“O Centro Unido é uma força política, por enquanto, microscópica, não tem ideologia, mas tem como objectivo levar a primeiro-ministro Victor Baluga, chefe do secretariado do Presidente Iuschenko. Para isso, tenta fazer coligações com os partidos da actual oposição: Partido das Regiões e outros”, afirma Vladimir Dolin.
Por isso, os analistas políticos ucranianos não excluem a possibilidade de os ucranianos voltarem às urnas no próximo Outono e, então, o apoio internacional será importante para qualquer participante na contenda política."
6 comentários:
Para os amigos as benesses e para os inimigos o rigor da lei.Francamente, um sujeito que defende os interesses alheios não pode e deve ser respeitado.Como dizia Catão.
“Delenda est Carthago”
Caro Kaprov, será que o desejo de aderir à NATO é defender os interesses alheios? Será que o desejo de aproximação da Ucrânia à UE é defender os direitos alheios? E por que razão é que o povo ucraniano não deve ter o direito a decidir? Eu até posso considerar que a NATO está fora do prazo de validade, mas se o povo ucraniano achar que não, ele é que deve ter o direito de decidir. Quanto a Moscovo, pode e deve defender os seus interesses internacionais, mas isso não significa limitar a soberania dos países vizinhos.
Ucrania é um pais que era, é , será? Já nasceu dividido... A divisão não foi provocada pelo Ocidente, U. E ou os EUA. è sabido que a parte leste, uniata é pro-ocidental e anti-rússia, e a parte oeste ortodoxa e pró-russa. Portanto, quem anda a dividirmais e provocar problemas na ucrania são os mais o russos q outra potencia ocidental
Os acordos assinados em 1997 entre Ucrânia e Rússia acordavam que nenhum país adotaria medidas que afetariam sua segurança de ambas as partes, e que consultas seriam tomadas sempre que necessário.Ora, quem quer entrar na OTAN é o presidente e não o povo ucraniano na sua maioria.Quem financiou sua ida à presidência foram os americanos e europeus.A OTAN é uma entidade política militar que já usou sua força sem o consentimento das Nações Unidas diga-se ONU.A Rússia tem recursos naturais cobiçados pelos europeus e americanos e uma Rússia fraca é o que eles querem.Mas se à Ucrânia quer seguir seu caminho digo o mesmo para à Rússia, e que vença o mais forte.
Era 1998, a União Soviética havia desaparecido, e a Rússia estava humilhada e destruída.
Em 1998, depois da derrota soviética e da destruição liberal da economia russa, parecia impossível que isso pudesse acontecer de novo.Mas a Rússia reconstruiu-se e de novo.Dez anos depois, entretanto, no momento da posse do seu terceiro presidente republicano, Dmitri Medvedev, o país está novamente de pé, e o “espírito russo” volta a assustar os europeus e preocupar o mundo. O jornal Financial Times publicou recentemente um caderno especial sobre a Rússia, onde afirma que “nem Bruxelas nem Washington estão sabendo como tratar com a Rússia, depois de Vladimir Putin, porque a Rússia está cada vez mais disposta a retomar sua posição no mundo, em particular nos países da antiga União Soviética”.
O PIB está prestes a superar o da França. Os salários cresceram seis vezes, em dólar. A reserva de moeda estrangeira é a terceira do mundo e trabalha-se para reduzir a dependência tecnológica
Ou seja, quinze anos depois da derrota e do colapso da União Soviética, o estado russo retomou o comando de sua economia e de sua inserção internacional.
Mas nenhum analista internacional consegue prever os caminhos futuros da nova ressurreição do “espírito russo”, até porque a Rússia sempre foi mais misteriosa e imprevisível do que a União Soviética. Há algumas semanas, Andre Klimov, líder liberal da Duma, afirmou que seria um erro grave, nesse momento, alguém pensar que possa "fazer com a Rússia o que bem entenda” . Palavras que soam como uma advertência suave, como quem quisesse relembrar, às demais potências, a mensagem final de Serguei Prokofiev, na sua grandiosa ópera Guerra e Paz: o “espírito russo é eterno” e ressurgirá sempre, e com mais força, toda vez que o seu sagrado território for invadido; ou que o povo russo for humilhado, como aconteceu várias vezes, na história, e voltou a acontecer, no final do século 20.
Caro Kaprov, quanto à entrada da Ucrânia na Nato, apenas quero reafirmar mais uma coisa. O Presidente Iuschenko prometeu que isso só será feito depois de o povo ucraniano se manifestar em referendo. Se assim for, a decisão é soberana.
Quanto ao aumento do poderio da Rússia, estou plenamente de acordo consigo, mas esse aumento não deve significar que a Rússia limite a soberania dos países vizinhos.
Estou de acordo quando se diz que a Europa e os Estados Unidos não sabem como tratar com a Rússia, e isso é realmente um grande problema, em primeiro lugar para a União Europeia. Esta precisa de falar a uma só voz com a Rússia e de igual para igual. Se é verdade que a Rússia tem petróleo e gás, também é verdade que ele só tem valor se alguém o comprar. Além disso, a Rússia necessita da União Europeia, dos Estados Unidos, Japão, China, etc. para modernizar a sua indústria, infraestruturas, economia, etc. Se Moscovo tentar cometer o mesmo erro da União Soviética de ser auto-suficiente e produzir tudo, virá a ter graves problemas. A globalização, para o bem e o mal, é um facto.
Por isso, defendo que a União Europeia deve aprofundar o diálogo com a Rússia, abrir as suas fronteiras ao capital e aos cidadãos russos, mas sempre numa base de igualdade, de respeito dos interesses mútuos.
E em relação ao alargamento da NATO, pode parecer descabido, mas considero que o problema ficaria resolvido se se convidasse a Rússia a aderir à Aliança Atlântica. Gostaria de ver a reacção dos dirigentes russos! Acha que seria uma decisão fácil para o Kremlin, pois eu acho que não.
Enviar um comentário