quinta-feira, junho 05, 2008

Loucura nas Forças Armadas da Rússia


Mais de um terço recrutas dispensados das Forças Armadas da Rússia sofrem de doenças do foro psiquiátrico e 35 por cento são “deficientes mentais”, disse hoje a chefe dos serviços psiquiátricos russos, Tatiana Dmitreva.

Em comparação com os anos 90 do séc. XIX, o número de pacientes das clínicas psiquiátricas na Rússia quase duplicou e a juventude é a camada etária cada vez mais afectada por este tipo de doenças.

“Quase 40 por cento dos mancebos recrutados estão incapacitados de prestar serviço militar. Trinta por cento dos recrutas dispensados das Forças Armadas sofrem de problemas do foro psiquiátrico e 35 por cento deles são deficientes mentais”, afirmou Tatiana Dmitreva, numa entrevista ao diário Novie Izvestia.

Os especialistas chamam a atenção para o facto de as comissões médicas terem dado todos esses jovens como “aptos”. Se se tiver em conta que, anualmente, as Forças Armadas russas recrutam entre 132 e 133 mil mancebos, o número de afectados por doenças psiquiátricas é, na sua opinião, “muito preocupante”.

“O problema consiste em que o número de jovens com problemas psíquicos aumenta de ano para ano. Isso deve-se fundamentalmente a factores externos, por exemplo, a traumatismos cranianos. Depois deles podem surgir psicoses traumáticas, alterações orgânicas no cérebro que conduzem a mudanças de personalidade”, considerou o presidente da Associação Psiquiátrica da Rússia, Iuri Savenko.

“Tem também importância o enorme número de toxicodependentes e alcoólicos entre os adolescentes”, acrescentou.

O Comité das Mães dos Soldados, organização não governamental que defende os direitos dos recrutas, concordou com o diagnóstico de Tatiana Dmitreva.

“Ou seja, um terço de todos os diagnósticos 'psiquiátricos' que levam ao afastamento dos soldados das Forças Armadas é feito durante o serviço militar. Frequentemente vêm ter connosco jovens que fogem dos quartéis. Chegam num estado tal que podem saltar de uma janela a qualquer momento. Só nos resta chamar o pronto-socorro psiquiátrico”, declarou Valentina Melnikova, dirigente da organização.

O problema só poderá se resolvido quando nas Forças Armadas “forem criadas condições normais para a prestação do serviço militar”, disse.

“Mas o que indigna mais é que as Forças Armadas recrutam jovens doentes. As comissões de recrutamento simplesmente não pedem informações aos dispensários psiquiátricos”, acrescentou Dmitreva.

O Ministério da Defesa russo reconheceu a existência do problema, mas culpou as juntas médicas junto das comissões de recrutamento.

“Delas fazem parte especialistas civis que nada têm a ver connosco. Nós cumprimos o plano de recrutamento, por isso as juntas médicas não ganham nada em aumentar o número de recrutas mobilizados. Talvez o problema se deva à falta de qualificação entre os médicos”, considerou o centro de imprensa do Ministério da Defesa.

Isto pode explicar que o suicídio seja uma das principais causas de morte entre os soldados russos.

“No ano passado, o suicídio levou à morte de quase um batalhão de militares: 341 homens”, declarou o Procurador Militar Principal da Rússia, Serguei Fridinski.

“Este ano, o número de suicídios desceu 14 por cento em comparação a igual período do ano passado, mas, na estrutura das perdas que não ocorrem em combate, continua a subir e constitui mais de metade”, acrescentou.

7 comentários:

Mendonca Joao disse...

Aquilo que acontece nas forcas armadas russas reflecte muito bem a relacao dos cidadaos russos para com as suas instituicoes, numa socidade cheia de habitos militares.
A reforma das forcas armadas resolveria uma serie de problemas de fundo. A comecar pelo problema demografico. A quem apetece andar a criar filhos para os entregar de mao beijada as forcas armadas, de onde voltam estropiados ou com traumas psicologicos?
A forma como sao recrutados e arrepiante. Muitos jovens sao pura e simplesmente capturados. Foi o caso de um estudante meu, cidadao moldavo, que acabara de conseguir a cidadania russa ao concluir o curso. Num belo dia do mes de dezembro, ia ele para o trabalho, quando dois ou tres comissarios das forcas armadas lhe pediram os documentos, no metro. Naquele dia por azar trazia no bolso o passaporte russo, em vez do moldavo. Foi levado de imediato para um quartel, na regiao de Moscovo, e alistado nos contingentes.
E la ficou durante dois meses e meio. So se conseguiu livrar da tropa mediante um penoso processo burocratico, o pagamento (pela empresa em que estava empregado) de um resgate , por estar matriculado num doutoramento, e por razoes de saude.
Tive oportunidade de ir ao quartel visita-lo. Poucos eram os jovens no seu juizo perfeito que la estavam por opcao propria.
O movimento das Maes de Soldados esta a ganhar peso politico. Oxala contribuam para que em breve os contingentes sejam preenchidos por pessoas aptas, que sirvam por contrato, para que se acabe de uma vez por todas com as chacinas que sabemos.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro João, obrigado por este contributo.

Anónimo disse...

Caro José Milhazes, quero só dizer-lhe que sou um leitor assíduo do seu blogue. Esta peça lembrou-me, mais uma vez, a riqueza de conteúdo que caracteriza as suas observações sobre o seu país anfitrião.
Nunca receie!A sua objectividade elucida milhares de pessoas...
Cumprimentos!

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro José, obrigado

Mendonca Joao disse...

De nada, caro Jose.

Era capaz de ter interesse o testemunho do proprio estudante. Aquilo que tem para contar vai muito alem do anedotico.

Um abraco

lourrain disse...

È chocante esta realidade tão brutal! Embora não seja uma novidade, pensei que as forças armadas russas já tivessem tomado medidas para minimizar este problema. Mas pelo que vejo, este problema está muito longe de ser resolvido. A esperança reside no movimento das Mães de Soldados para uma mudança de mentalidades e consciência dos direitos humanos.

Anónimo disse...

precisa mudar dentro das forças armadas da russia porque é muito chocante e alarmante