quarta-feira, junho 25, 2008

Medvedev estreia-se em cimeiras Rússia/UE


A União Europeia espera que o Presidente da Rússia dê um “novo impulso positivo” às relações entre a Rússia e os 27, declarou Janes Leonarcic, secretário de Estado da Eslovénia, país que preside à UE até 30 de Junho.

“Devemos estar prontos para utilizar na totalidade o impulso positivo que o Presidente (russo, Dmitri) Medeved poderá dar às relações entre a UE e a Rússia”, afirmou e acrescentou que “a presidência eslovena espera que a Cimeira UE/Rússia, a realizar em Khanta-Mansisk em 26 e 27 de Junho, constitua uma grande oportunidade para que a União Europeia e a Rússia possam abrir uma nova página nas relações bilaterais”.

A Cimeira de Khanta-Mansisk será a primeira em que Dmitri Medvedev participará como Presidente da Rússia.

Não obstante as relações económicas e comerciais entre os países da UE e a Rússia se desenvolverem rapidamente, tendo, no ano passado, atingido cerca de 252 mil milhões de euros, as relações políticas ficam marcadas por fortes divergências, sendo a fundamental em torno da proclamação unilateral da independência do Kosovo.

A Sérvia, apoiada pela Rússia, opôs-se a esse passo, bem como à transferência de poderes da missão das Nações Unidas no Kosovo para uma missão da União Europeia.

“Nós não somos contra se a União Europeia chamar a si parte da responsabilidade pelo que se passa no Kosovo, nós não estaremos contra a formação de uma missão civil da UE no Kosovo, mas na condição de essa missão ser organizada em conformidade com o Direito Internacional”, precisou Vladimir Tchijov, embaixador russo junto da Comunidade Europeia.

O diplomata russo voltou a sublinhar que para que essa decisão seja aceite pela Rússia deverá ter o apoio da Sérvia e fixar fixada numa resolução do Conselho de Segurança da ONU.

Vladimir Tchijov não exclui também a possibilidade de na cimeira de Khanta-Mansiski ser abordada a questão da instalação de elementos do sistema antimíssil norte-americano na República Checa e Polónia.

Os Estados Unidos planeiam instalar dez mísseis interceptores na Polónia e um radar de defesa anti-aérea na República a pretexto da defesa de um possível ataque do Irão, mas Moscovo considera que esses elementos prejudicam a sua segurança.

“A Polónia e a República Checa não são apenas países da NATO, mas também da União Europeia. Esses dois países da UE realizam conversações, assinam acordos com um terceiro país que não é membro da UE, mais precisamente, com os Estados Unidos, sobre uma questão tão sensível, sem qualquer discussão no quadro da União Europeia. Pergunta-se: o que está por detrás da tão apregoada política europeia no campo da defesa e da segurança? Não excluo que iremos fazer esta pergunta na cimeira”, declarou o diplomata russo.

“Neste momento, tendo em conta a derrota do Tratado de Lisboa no referendo da Irlanda, a Rússia vai sentar-se à mesa das conversações com uma União Europeia desunida e mais fraca. E deverá utilizar esse argumento”, disse à Agência Lusa uma fonte diplomática em Moscovo.

“Isto é tanto mais verdade se tivermos em conta que os dirigentes russos se sentem cada vez mais fortes. A Rússia de Putin/Medvedev não é mais a Rússia de Ieltsin e Bruxelas tem de interiorizar isso se quiser ter êxito no diálogo com o Kremlin”, acrescentou a mesma fonte.

Isto é válido também para as conversações sobre a elaboração de um novo Acordo Estratégico de Cooperação entre a União Europeia e a Rússia.

“Os nossos parceiros confirmaram estar prontos para dar início político ao processo de conversações na Cimeira de Khanta-Mansisk. Já foi acordada a data da primeira etapa das conversações: 04 de Julho de 2008”, anunciou Vladimir Tchijov.

O Acordo Estratégico devia ter expirado no passado dia 31 de Dezembro, mas como as partes não conseguiram elaborar um novo, porque, primeiramente a Polónia, e, depois, a Lituânia, vetaram o início do diálogo, a vigência desse documento foi prolongada até à elaboração de um novo. No entanto, nem Bruxelas, nem Moscovo esperam um diálogo fácil visto que as questões que se colocam são de difícil resolução.

Muito irá depender se o novo documento irá ser longo e pormenorizado ou se se limitará a definir princípios vagos.

“Segundo a Rússia, o documento deve ser curto e ponderado do ponto de vista político, mas que venha a ser juridicamente obrigatório, e isso foi dito pelo primeiro-ministro Vladimir Putin, quando esteve em Paris”, afirmou Stanislas de Laboule, embaixador em Moscovo da França, país que irá presidir à UE a partir de 01 de Julho.

“Neste caso - continuou o embaixador - para completar esse documento serão feitos outros acordos sobre várias áreas: tratado de comércio, tratado energético, acordo de transportes, etc.”.

“Mas a Comissão Europeia, por seu lado, quer assinar um grande acordo, que inclua todos os aspectos possíveis das relações. Porquê? Porque cada país tem os seus interesses nesta ou naquela questão. A França não toma decisões unilateralmente”, de acordo com Stanislas de Laboule.

Na via da assinatura deste acordo, o problema mais difícil a superar diz respeito à Carta Energética, que a Rússia assinou com a UE, mas não ratificou. Bruxelas pretende que Moscovo separe os processos de extracção, transporte e exportação de hidrocarbonetos, dando assim início a um processo de abertura e liberalização do sector, enquanto que os dirigentes russos pretendem continuar a controlar esses sectores vitais da economia nacional e, a aceitarem cedências, exigem, por exemplo, que a Gazprom, a maior empresa russa de extracção e exportação de gás natural tenha acesso ao mercado retalhista desse hidrocarboneto no seio da União Europeia.

Por isso, é difícil prever quando é que o Acordo de Cooperação Estratégica estará pronto para a assinatura.

“Gostaríamos que problemas técnicos não dificultassem este processo, que fiquem definidos o mais rapidamente possível os princípios de edificação das relações estratégicas entre a Rússia e a UE e que, na Cimeira de Nice, a 14 de Novembro, tenhamos, pelo menos, uma declaração”, afirmou o embaixador russo.

“Não sei como iremos avançar e se o acordo irá ser assinado durante a presidência francesa da UE. Isso seria maravilhoso, mas não posso prometer nada”, concluiu.

Além destes temas, na Cimeira de Khanta-Mansisk deverão ser discutidos problemas internacionais como a situação no Médio Oriente, a questão nuclear do Irão e o alargamento da NATO à Ucrânia e Geórgia.

4 comentários:

Klubnika disse...

Já não seria mau se os incompetentes que nos governam (a que agora se juntaram os revanchistas da Polónia e dos países bálticos) resolvessem uma questão que se arrasta há anos só por culpa deles: a questão da facilitação dos vistos ou, melhor ainda, da sua abolição, como pretendia o Presidente Putin. Mas esta gente está convencida de que isto é o paraíso e que os russos vinham todos a correr para cá.
Ou me engano muito ou, quem por cá andar daqui por 100 anos (ou talvez menos, depende do tempo que os Russos demorarem a acabar com a corrupção) ainda vai assistir à candidatura da UE a fazer parte da Federação Russa. Mesmo no caixão, ainda me hei-de rir um bocado.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Klubnika, quanto à questão dos vistos, estou plenamente de acordo consigo, podem ser abolidos. É um atavismo. No entanto, não convém esquecer, e a Rússia reconhece o problema, a permeabilidade da sua fronteira meridional à droga e imigração clandestina.
Quanto à adesão da UE à Federação da Rússia, acho que nem os seus, nem os meus ossos resistirão para se puderem rir um bocado, porque colocou um parâmetro impossível: o fim da corrupção na Rússia. Trata-se de um país rico e, por isso, ainda há muito para roubar. No nosso país há menos corrupção, porque não há muito por onde pegar, mas se tivessemos petróleo ou gás, ou diamantes e ouro?

lourrain disse...

Sr. Milhazes, desculpe mas não concordo consigo. A corrupção não está no grau da riqueza de um país. Está sim, na educação e na mentalidade cultural dos povos. Vejam-se os casos da europa do norte. A Noruega é um dos países mais ricos do mundo com um desenvolvimento social invejável, e que eu saiba é um país onde a corrupção é inexistente. O mesmo se pode dizer de muitos outros, como a Dinamarca, Finlandia ou Suécia. A questão é esta, o civismo e o bem estar de todos faz parte de cada um dos cidadãos destes países. Em Portugal, se bem que não tenha dados para afirmar o seguinte, pois afirmo-o numa percepção do quotidiano, deve de ser um dos países mais corruptos da europa a 27 , à excepção talvez da Roménia e Bulgária. Pelo que se observa, o problema da corrupção está para ficar, pois parece-me que de certa forma é apoiado institucionalmente (o caso do Vale e Azevedo está na ordem do dia), onde os tribunais não decidem judicialmente e quando o fazem, fazem-no mal. A corrupção conhecida pelo do "colarinho branco", confirma as suspeitas. Quanto mais dinheiro houver e poder, mais dificil se torna fazer justiça e mais a corrupção aumenta impune. Neste momento em Portugal já ninguem acredita na justiça. São muitos os casos em que as conclusões são anedóticas e com desfechos impensáveis. Mas isto, para os "ricos" pois para os pobres a justiça parece actuar de forma rápida e eficaz. Lembro um caso que se passou já algum tempo atrás em que uma senhora de idade furtou um shampoo numa superficie comercial e que presente a tribunal foi condenada ao pagamento de uma coima. Creio que a corrupção na Rússia não deve ser muito diferente da portuguesa, embora com nuances um pouco diferentes. Pelo conhecimento que tenho, há fortunas a crescer de dia para dia na Rússia sem se saber ao certo quais os motivos para tanta riqueza. Em Portugal embora em menor escala, igualmente essas fortunas aparecem, não se sabe de onde, mas também não há preocupação em sabê-lo. É o safe-se quem puder ou então, em terra de cegos quem tem olho é rei. Ditados populares curiosos que dizem tanto de um povo de uma maneira tão inocente!

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Lourrain, estou plenamente de acordo consigo. Penso que se a corrupção não existe em tão alto grau nos países do Norte da Europa é porque, além de existirem tribunais que funcionam, os corruptos são condenados ao ostracismo social, são mal vistos na sociedade. Ora, tanto na Rússia, como em Portugal, bem como em muitos outros países, os corruptos são, por vezes, apresentados como "Chicos espertos", que se souberam desenrascar melhor do que os outros, ou até mesmo como heróis.
Os processos sobre corrupção começam com grande barulho, mas depois as penas são irrisórias. Das duas uma, ou a polícia investiga muito mal, ou os tribunais não funcionam da melhor forma.
Uma pessoa que comece a ver a forma como o Sr. Vale Azevedo aparece nos órgãos de comunicação até pode acreditar que esse Sr. é vitíma de uma grande injustiça dos tribunais portugueses. Até parece que passou injustamente alguns anos na prisão. Quando sai dela, transforma-se num senhor de respeito.
No caso da Rússia, as coisas são mais gritantes porque as riquezas em jogo são incomparavelmente maiores do que em Portugal.