quarta-feira, julho 09, 2008

Cuidado com as beldades virtuais!


Há muito que andava para escrever esta postagem, mas a falta de tempo é a única explicação para a sua publicação só hoje.

Não, desculpem, não é a única explicação, há uma outra. Ontem à noite, estava eu a jantar com uns amigos em Moscovo, e veio à conversa o tema dos "romances virtuais", em que continuam a cair compatriotas meus.

Apenas um exemplo, mas muito sintomático. Um português de meia idade conhece uma jovem siberiana (excusado será dizer que alta, com um corpo escultural, loira, culta, declama poemas de poetas russos e estrangeiros, etc.) através da Internet. Conversa para aqui, conversa para ali (tudo em língua inglesa), o nosso compatriota acaba por reconhecer que está apaixonado, que já não pode viver sem ela, que está pronto a dar a volta ao mundo para se encontrar com ela.

A resposta da jovem loira não é imediata, mas, a pouco e pouco, vai dando cada vez mais esperanças ao amante luso, que acaba por cair nas malhas dessa eslava Vénus.

Normalmente, a jovem convida o "macho latino" a ir visitá-la, porque não tem dinheiro para fazer tão longa viagem entre a Sibéria e Portugal. Mas também há casos em que ela pede que lhe enviem dinheiro para que ela possa superar a distância entre os amantes.

Neste caso, o amante luso, qual Luís de Camões numa das mais delirantes fases de amor, divorcia-se da esposa, abandona a casa e filhos (recordo que se trata de um homem de meia idade), despede-se do emprego, pega nas suas economias e lá vai ao encontro da sua virtual amada que o espera em Novossivirsk, capital da Sibéria.

No aeroporto de Novossivirsk, a Dulcineia siberiana espera o seu amado, aquele que não deu ouvidos ao Velho de Belém e foi procurar a sua felicidade para além da Traporbana.

O Zé dos Amores desce do avião, passa o controlo fronteiriço e rapidamente distingue no meio da multidão a sua amada. Dirige-se para ela, mas nota com estupefacção que a jovem está acompanhada por vários machos de porte atlético, ou, como se diz mais vulgarmente, de gorilas.

Nem sequer deram tempo ao português tempo para dar o beijo há tanto treinado e esperado, arrastaram-no para um automóvel e levaram-no para fora da cidade.

Ao ver que caíra numa cilada, a primeira reacção foi destruir o passaporte português, para que a máfia russa não o pudesse utilizar, mas o que interessava à beldade e seus guardas eram as economias que o luso transportava consigo.

Este D. Quixote viu-se a muitos milhares de quilómetros da pátria sovado e sem um tostão no bolso e, então, lembrou-se que em Moscovo existe uma Embaixada de Portugal, que, depois de longos tramites burocráticos, conseguiu repatriar esse nosso patrício.

P.S. Não sei se já contei esta história no meu blog, mas, se já contei, também não há problema, nunca é demais recordar, porque este caso está muito longe de ser o único. Como diz o nosso povo, nem tudo o que reluz é ouro, e isto também diz respeito aos amores on-line.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não percebo o que faz um homem divorciar-se da sua mulher e separar-se dos seus filhos para viver um romance supostamente tórrido com uma pessoa que nunca viu na Vida (presencialmente). Desculpe perguntar mas o seu amigo é normal?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor, ele não é meu amigo, mas apenas um dos muitos casos que me chegaram ao conhecimento. Eu acho anormal, mas conheço muitos casos destes. Um ou outro, dá resultado positivo, mas muito raramente.