segunda-feira, julho 07, 2008

Disputa territorial entre Rússia e Japão à margem da Cimeira


A disputa territorial entre o Japão e a Rússia ficará de fora das discussões na cimeira do G8, de 07 a 09 de Julho, em Hokkaido, Japão, mas será objecto de conversações bilaterais.

“É preciso separar as reuniões gerais dos 'oito' e os encontros bilaterais que irão ter lugar à margem do G8. Visto que a questão dos territórios do norte é, pela sua natureza, bilateral, o Japão, enquanto presidente, não tenciona colocar a questão na ordem do dia da cimeira”, declarou uma fonte governamental nipónica à agência noticiosa russa Ria-Novosti.

“Por outro lado, nos encontros bilaterais, os dirigentes irão discutir todas as questões de interesse mútuo. Dado que essa questão é importante, esperamos que venha a ser abordada durante os encontros bilaterais”, acrescentou a fonte.

A cimeira do grupo dos sete mais industrializados (Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos e Japão) e a Rússia decorre de segunda-feira a quarta-feira na ilha de Hokkaido (norte).

O Japão continua a reivindicar algumas ilhas da Cordilheira das Curilhas: Kunachiri, Iturup (Etorofu), Shikotan e Habomai, conhecidas como as quatro ilhas do norte, segundo o Tratado de Comércio e Fronteiras, assinado entre Japão e Rússia em 1855, que as considerava nipónicas.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a União Soviética ocupou esses territórios, acto que o Japão não reconheceu como legítimo.

A 19 de Outubro de 1956, Moscovo e Tóquio assinaram uma declaração conjunta que pôs fim à guerra entre os dois países, mas o tratado de paz acabou por não ser assinado devido à discórdia sobre a linha de fronteiras.

Nessa declaração conjunta, que foi ratificada pelos parlamentos dos dois países, a União Soviética comprometeu-se a “analisar a questão da possibilidade da entrega ao Japão de Shikotan e Habomai depois da assinatura do tratado de paz”, mas tal não veio a acontecer devido ao avanço da guerra-fria.

Após o fim da URSS, em 1991, Moscovo mostrou-se pronta a realizar conversações com base na declaração conjunta de 1956, mas Tóquio continua a insistir na satisfação total das suas reivindicações.

A Rússia tem vindo também a propor, como fórmula para a solução gradual do problema, a exploração conjunta desses territórios, mas o Japão também coloca algumas reticências. “Claro que vale a pena estudar semelhante projecto se for possível a sua realização sem que os direitos de ambas as partes em relação aos territórios sejam prejudicados.

Mas, por enquanto, não encontrámos essa forma”, declarou a mesma fonte nipónica, citada pela Ria-Novosti.

Em Moscovo, observadores políticos e diplomatas consideraram que, actualmente, o Kremlin não está disposto a fazer maiores cedências.

“A Rússia já tem deixado várias vezes claro que não admite a revisão dos resultados da Segunda Guerra Mundial. Por isso, é muito pouco provável que aceite satisfazer por completo as reivindicações nipónicas”, declarou à agência Lusa uma fonte diplomática contactada em Moscovo.

“Isso - acrescentou a fonte - pode provocar um autêntico efeito de dominó, pois a Rússia tem outros diferendos territoriais com países vizinhos: Estónia, Letónia, Ucrânia, etc.”.

“Se Tóquio continuar a insistir no tudo ou nada, o problema continuará congelado como esteve até hoje. Tanto mais que ele não se tem reflectido no volume das trocas comerciais e da cooperação económica entre os dois países”, disse.

A mesma fonte afirmou que, "se a Rússia não cedeu nos anos 1990 quando estava bastante enfraquecida, também não vai ceder agora. Isso seria interpretado por muitos como um sinal de fraqueza".

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