sábado, julho 05, 2008

O mistério das jóias de Carmen Gonzales


“Em nome da República Socialista Federativa Soviética da Rússia, Serguei Kiriuchkin é condenado a 15 anos de prisão num estabelecimento de alta segurança, sem posterior exílio e sem confisco de bens... e Viatcheslav Chadriguin a 15 anos de prisão num estabelecimento de alta segurança, sem posterior exílio e sem confisco de bens”.
Estas pesadas penas, ditadas a 4 de Abril de 1978 pelo Tribunal Municipal de Moscovo, visavam castigar estes dois cidadãos soviéticos por vários crimes, tendo sido o principal o assassinato da cidadã portuguesa Carmen Gonzales.
Só muito recentemente se tornaram acessíveis os documentos relativos a esta investigação policial, porque, na altura, o processo foi secreto visto a vítima ser uma estrangeira parente do Embaixador de Portugal em Moscovo e um dos criminosos, no caso: Serguei Kiriuchin, ter sido um alto funcionário do KGB (polícia secreta soviética).
A polícia de Moscovo lançou os seus melhores homens para investigar o crime, porque o Comité Central do Partido Comunista da União Soviética exigia informações diárias, e rapidamente descobriram os seus autores.
Carmen Gonzales, conhecida nos círculos teatrais de Lisboa, trabalhava na redacção portuguesa da editora soviética “Progresso”, que traduzia e publicava em português revistas e jornais de propaganda política.
Foi aí que Carmen conheceu o organizador do seu próprio assassinato, Serguei Kiriuchkin, que falava português e trabalhava como redactor na Progresso. Kiriuchkin fizera uma carreira brilhante no KGB (Comité de Segurança do Estado), tendo chegado a oficial do aparelho central da omnipotente polícia soviética.
Porém, não foi mais longe devido a sérios problemas de alcoolismo. Neste caso ou quando um agente não revelava qualidades suficientes para trabalhar no KGB, o Comité arranjava-lhe um emprego onde ganharia meios para sobreviver ou se poderia emendar.
Na “Progresso”, Kiriuchkin, podia não só controlar a exactidão ideológica das traduções realizadas por especialistas portugueses, mas também acompanhar os movimentos destes.
“Na base do consumo sistemático de bebidas alcoólicas”, como reza a sentença, o antigo agente juntou-se ao desempregado Viatcheslav Chadiguin e ao deficiente mental A. Vitukhin para realizarem assaltos e roubos a fim de conseguir dinheiro para comprar vodka.
A primeira acção de Kiriuchkin foi o assalto à própria redacção portuguesa da “Progresso”, seguindo-se depois mais alguns roubos. Diz um provérbio russo que “a inveja levou o ladrão à perdição”.
“Em Julho de 1997, lê-se nos materiais de investigação, Kiriuchkin S.I. contou a Vitukhin e Chadiguin que a cidadã de Portugal, Carmen Porta Gonzales, nascida em 1922, que trabalhava com ele na mesma redacção, tinha um salário considerável e vivia sozinha”.
(continua)

1 comentário:

José Leite disse...

O vodka, esse «amor de perdição»!