quarta-feira, julho 09, 2008

Igreja Ortodoxa Russa exige condenação do regime comunista


A Igreja Ortodoxa Russa propõe a condenação do regime comunista, que governou a Rússia entre 1917 e 1991, e a retirada dos símbolos comunistas das cidades russas.
“Chegou a hora em que na sociedade se deve realizar uma discussão mais pormenorizada sobre a herança soviética e sobre os crimes do poder soviético” – declarou o sacerdote Gueorgui Riabikh, secretário da Secção de Relações Internacionais do Patriarcado de Moscovo da Igreja Ortodoxa Russa.
Gueorgui Riabikh declarou que a condenação do comunismo na Rússia teve início no início dos anos 90, mas não foi levada até ao fim.
“É preciso continuar isso, venerar as vitímas das repressões e a sua firmeza cívica, criar complexos memoriais, devolver os nomes das cidades e ruas roubadas pelo poder comunismo, libertar os edifícios públicos dos símbolos comunistas, retirar os monumentos aos dirigentes sangrentos das cidades e praças centrais da Rússia e o cemitério das paredes do Kremlin” - sublinhou.
O centro de numerosas cidades russas continua a ser enfeitado por monumentos a Vladimir Lénine e a outros dirigentes do regime comunista. Na Praça Vermelha, no centro de Moscovo, encontra-se um cemitério onde se encontram sepultados, além de Lénine, personalidades tenebrosas do período soviético como o ditador José Estaline ou Felix Dzerjinski, fundador do KGB (polícia política soviética).
“Não apelo à destruição desses monumentos, isso seria uma barbaridade e vandalismo, mas eles não devem ocupar os lugares centrais nas nossas sociedades” – acrescentou.
Gueorgui Riabikh frisou, porém, que a condenação do comunismo não deve abranger “os memoriais da Grande Guerra Pátria (Segunda Guerra Mundial), os monumentos aos êxitos culturais e científicos do povo, conseguido no período soviético”.
Segundo ele, a Igreja Ortodoxa Russa “não embarca nos extremismos que observamos em alguns países da Europa Oriental, onde tentam equiparar o comunismo ao fascismo”.
“A Rússia deve ter a sua avaliação da ideologia comunista, é injusto colocar o comunismo e o fascismo ao mesmo nível, pois trata-se de fenómenos com raízes em experiências históricas diferentes” – defendeu ele.
Riabikh assinalou que a reavaliação do passado soviético é particularmente importante na véspera do 90º aniversário do fusilamento da família do último czar russo, Nicolau II, executado pelos comunistas em 1918.
“Hoje, por alguma razão, temem fazer uma avaliação moral clara dessa maldade. Mas essa avaliação é necessária e deve manifestar-se em acções e declarações públicas. A condenação do crime e o reconhecimento nacional do feito heróico da famila czarista evitaria a repetição das disposições revolucionárias na consciência nacional” – considerou.
“Seria errado não utilizar isso para a educação da nova geração dos russos” – concluiu o sacerdote.
“A iniciativa da Igreja Ortodoxa Russa de condenar o regime comunista é provocadora e extremamente perigosa” – reagiu Guennadi Ziuganov, dirigente do Partido Comunista da Federação da Rússia.
O líder comunista ficou particularmente indignado com o apelo de retirar da Praça Vermelha as tumbas que aí se encontram.
“Ele não tem o direito de levantar a mão contra a necrópole na Praça Vermelha, onde estão sepultados 32 marechais e comandantes de frentes de combate. Propôr isso significa avançar pela via dos fascistas, tentando dividir o país” – acrescentou Ziuganov.
“O padre não deve provocar, mas pregar o bem, a justiça e a verdade, e, então, no país haverá país e amor” – concluiu ele.
Valeria Novodvorskaia, dirigente da União Democrática, considera que a Igreja Ortodoxa avançou com essa iniciativa para se “tornar o único culto”.
“Isso não se deve à intenção de fazer bem, libertar o povo de dogmas. Eles querem ser a secção ideológica da Rússia Unida, e já o são” – acrescentou.
“Que se realize o que ele (Gueorgui Riabikh) quer, mas é pena que isso venha de quem vêm” – concluiu esta antiga dissidente soviética.

9 comentários:

carlos silva disse...

a igreja ortodoxa já exijiu desculpas ao czarismo? e não venera os seus czares? e porque é que os jornalistas se mantêm numa posição isenta de direita? ou a memória pesa? ou os ex-stalinistas querem mostrar hoje o seu perfil social-democrata?
aí, na ex-união soviética fui anti-PCUS, abertamente... mas continuo komuna, solidário com os meus camaradas trabalhadores, a lutar por ideais e utopias e o resto que se lixe amigo...
um abraço

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor 25, não entendo o que significa "posição isenta de direita". Eu transmitei a posição da Igreja Ortoxa, e não a minha. Mas, se quer saber qual é, não escondo: considero que é necessário estudar profundamente a história do comunismo para que nunca mais se volte a repetir experiências semelhantes. E não me convença que só sendo comunista é possível lutar por ideais e utopias, não acredito

Anónimo disse...

Ao amigo "25", o que lhe deve pesar na memória são os milhões de mortos pela fome, campos de concentração, guerras, que o regime comunista soviético criou. Isso é que é uma memória "pesada".

Quanto à Igreja Ortodoxa, apenas "luta" contra uma ideologia contrária à sua existência, tentando promover o actual panorama ideologico russo, muito favorável aos seus interesses.

Anónimo disse...

Até que enfim que alguém ataca o passado comunista.
Os comunas foram uma desgraça para a Rússia e para o mundo.
Em Portugal ainda não se desmascarou convenientemente o comunismo.O Povo Português só será verdadeiramente livre quando correr com essa gente dos sindicatos, onde eles se acoitam para enganar os incautos com palavrinhas mansas.

José Leite disse...

O que é a verdade histórica?!

Costuma ser a voz da oligarquia dominante no momento. O fascismo (o verdadeiro) e o comunismo, têm similitudes. Todos os atentados aos direitos humanos, quer perpetrados pela Direita quer pela Esquerda (por mais nobres que fossem os ideais propugnados) são dignos de censura.

Ainda fui dos que foram insultados por estar a ler o livro do «Chico da CUF», «26 anos na União soviética», logo após o 25 de Abril!...

No PREC, mesmo as pessoas de pensamento progressista, eram enxovalhadas se não alinhassem cegamente pelo diapasão dominante.

Anónimo disse...

Con franqueza, não entendo a veneração do passado por um regime que que dar uma imagem de democracia.

Claro que é só imagem, ou não haveria veneração.

Anónimo disse...

Acho louvável que a Igreja Ortodoxa Russa condene o Comunismo por todas as décadas de repressão dos cristãos e de assassinatos.
Mas não nos devemos esquecer que a própria Igreja Russa, depois de 1927, colaborou com o poder soviético, louvou os seus líderes durante anos e muitos dos seus hierarcas trabalharam para o KGB. O mero instinto de sobrevivência não pode ser justificação para colaborar com poderes ateístas e trair os valores em que se acredita, os valores cristãos. A Igreja Russa perdeu uma boa oportunidade nos anos 90 de julgar (e também de se redimir ela própria)os erros do passado, mas não o fez. Mais do que isso, continuou a colaborar estreitamente com Putin, que disse várias vezes que o fim da União Soviética foi a maior tragédia do povo russo. Mesmo assim, ainda bem que finalmente a Igreja dá este passo. Mais vale tarde do que nunca.
Cristina Mestre

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Cara Cristina Mestre, muito obrigado pela sua achega, com a qual estou plenamente de acordo.

Anónimo disse...

Alguém conhece uma salvação? Alguma viável? O comunismo no ímpeto de realizar o melhor mundo possível fez tudo o que fez, é certo. Mas ao que me parece, aos seus críticos, vivemos hoje no melhor dos mundos.Este nosso mundo "liberal" "democrático", solidário, nada hipócrita.
Cegueira?! Que tal escrevermos uma História ampla que mostre todos os fascínoras, se é que isso vale para alguma coisa, sem excessão,isto é de qualquier de qualquer ideologia, partido, igreja, clube, blog, editorial... Sem excessão e com verdadeira imparcialidade.
Será que não é hora de calar e procurar enxergar algo que seja verdadeiramente "bom", sem excessões.
A impressão que tenho é que sempre alguém camufla algo...
Haverá guilhotina para todos e o ultimo se auto executará?