sexta-feira, julho 25, 2008

Moscovo diz-se insultado por Bush comparar nazismo germânico a comunismo soviético




O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia considera que George Bush, Presidente dos Estados Unidos, ao colocar um sinal de igualdade entre o nazismo germânico e o comunismo soviético insulta os veteranos russos e da coligação anti-hitleriana na Segunda Guerra Mundial, incluindo os americanos.
“Na semana passada – lê-se numa nota da diplomacia russa hoje publicada -, o Presidente dos Estados Unidos, George Bush, assinou mais uma proclamação sobre o tema dos “povos oprimidos”, que apresenta todos os anos com base numa lei aprovada ainda na época da “guerra fria””.
“Em geral, tudo como sempre, mas, desta vez, apareceu uma “novidade”: coloca-se de forma completamente clara um sinal de igualdade entre o nazismo germânico e o comunismo soviético, que agora são interpretados como “um mal único” do séc.XX” – acrescenta o MNE da Rússia.
Segundo a diplomacia russa, “avaliações desse tipo apenas alimentam os esforços dos que, com objectivos políticos, mesquinhos, tentam falsificar os factos e reescrever a história”.
“Tudo isso é feito tendo como fundo uma tolerância surpreendente revelada pelos Estados Unidos para com os que, numa série de países europeus, tentam branquear os “seus” lacaios dos nazis” – escreve-se no comunicado.
A nota do MNE da Rússia não cita países concretos, mas tem-se em vista a Estónia, Letónia, Lituânia e Ucrânia.
“É triste que, nas novas realidades do séc. XXI, a velha “guerra fria” pelas cabeças das pessoas continue, tanto mais com o empregue de métodos duvidosos. Isso é um caminho incorrecto” – acrescenta o MNE da Rússia.
Moscovo considera que semelhantes pararelos são inconsistentes tanto do ponto de vida histórico, como do ponto de vista universal.
“Condenando os abusos do poder e a dureza injustificada da política interna do regime soviético, nós, não obstante, não podemos ficar indiferentes às tentativas de igualar o comunismo e o nazismo, nem concordar que eles tinham forças motoras, intenções e objectivos iguais” – afirma-se no comunicado.
“Os factos históricos testemunham induvitavelmente que foi precisamente a URSS que deu o contributo decisivo para a vitória sobre o fascismo germânico. Foi precisamente graças à União Soviética, ao feito heróico militar e laboral dos soviéticos que a Europa foi salva da ocupação e escrabidão nazis. A memória disso deve ser eternamente conservada nos corações dos descendentes agradecidos” – conclui a diplomacia russa.
P.S. Independemente do que se possa dizer de George Bush, gostaria de chamar a atenção para o seguinte: trata-se de um acto inédito da diplomacia russa vir defender o comunismo. Parece que assistimos a mais um passo para reabilitar o passado estalinista.
Ninguém duvida que a URSS deu um contributo decisivo para derrotar o fascismo alemão, mas essa vitória deve-se ao heroísmo dos soldados, oficiais soviéticos, do povo em geral, e não a Estaline ou ao Partido Comunista da União Soviética.
Na era comunista escrevia-se que a vitória na Segunda Guerra Mundial se deveu ao papel dirigente do Partido Comunista e do seu chefe José Estaline, mas gostaria de chamar a atenção para o facto de as tropas e o povo russos terem derrotado Napoleão em 1812, sem que nessa altura existisse partido comunista. Os erros cometidos por José Estaline e pela direcção soviética antes e durante a guerra foram emendados à custa de um grande número de vítimas humanas.
É curioso assinalar que a defesa do comunismo pelo MNE da Rússia ocorre na mesma altura em que a Igreja Ortodoxa Russa exige que o poder político condene o regime ateísta e ditadorial que governou a Rússia entre 1917 e 1991.
Se nalguns países europeus há tentativas de reabilitar o nazismo, isso não deve ser motivo para justificar o comunismo.
O nazismo e o comunismo são dois regimes totalitários do séc.XX. O primeiro foi condenado em Nuremberga, mas o segundo nem sequer ainda foi alvo de um sério estudo histórico. Os arquivos soviéticos começaram-se a abrir no início dos anos 90 do século passado, mas hoje voltam a fechar-se, a tornar-se inacessíveis aos estudiosos. Se alguém quer esconder o passado, é porque não se sente seguro dele.
Não nos devemos esquecer, por exemplo, que a ditadura comunista começou antes da chegada do nazismo ao poder na Alemanha e que foram os comunistas soviéticos que pela primeira vez criaram campos de concentração para presos políticos.
O sangue provocado pelos cascarros dos dois regimes é igual.
Os crimes, independentemente de por quem sejam cometidos, devem ser condenados e castigados.

18 comentários:

Anónimo disse...

Caro José Milhazes,

Mais uma vez, as razões são óbvias: a sobrevivência dos siloviki no poder está baseada na congregação da população em torno de um ideal comum, e o candidato mais óbvio é a promoção da fantasia de um passado glorioso, obtido graças a um líder vigoroso e determinado, "contra tudo e todos". Equiparar o nazismo ao comunismo complica um bocadinho os planos, pois lá se vai a glória e a integridade dos governantes por água abaixo.

Ainda que tal já tenha sido convenientemente branqueado lá por esses lados, convém também nunca esquecer que foi de facto Estaline que deu carta branca a Hitler para avançar com a invasão da Polónia, através da assinatura do pacto Molotov-Ribbentropp. Na operação de divisão da Polónia entre nazis e soviéticos, o NKVD colaborou activamente com a Gestapo na repressão de resistentes e na captura dos oficiais que seriam mais tarde assassinados à queima-roupa pelos primeiros. Até Junho de 1941, a União Soviética foi um parceiro extremamente importante da Alemanha nazi no fornecimento de recursos para o esforço de guerra alemão. O proprio Estaline chegou a afirmar, por essa altura, que Hitler era "uma das maiores personalidades vivas". Tudo isto só mudou com a operação Barbarossa, quando amigalhaços se tornaram inimigos mortais da noite para o dia.

Há estudiosos que afirmam, com base no número de mortos e na pura devastação ao longo dos setenta anos que durou, que o regime soviético foi muito mais nefasto, em termos absolutos, do que o nazismo, tanto mais que os bolcheviques e, em especial, Estaline, travavam uma guerra permanente contra o seu próprio povo.

António Campos

Anónimo disse...

Eu considero o regime soviético mais "brutal" que o regime nazi. Mas isso também se deve ao facto do comunismo soviético ter mais tempo de poder...

Unknown disse...

Estimado José Milhazes

Escrevo apenas para deixar mais uma nota de agradecimento. Neste entusiasmo, agradeço também ao comentador antónio, pelo que sabe cada vez melhor vir a esta casa.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro António Campos, a sua achega é muito importante, obrigado. É precisamente este esclarecimento que deve ser feito, com dados concretos.
Mais alguns exemplos, foi a União Soviética que treinou militares alemães, nomeadamente pilotos de aviões, no início dos anos 30 do séc. XX, porque a Alemanha não podia fazer isso devido ao Tratado de Versalhes, que pôs fim à 1ª guerra Mundial.
Outro exemplo gritante é o facto de Estaline não ter dado ouvidos aos seus próprios agentes secretos sobre o dia X da invazão nazi.
Quanto à questão de saber qual dos regimes foi o mais brutal, talvez não tenha muito sentido, pois não se trata de um campeonato. Além disso, o nazismo teve "filiais" e seguidores noutros países, não ficou só pela Alemanha.

Anónimo disse...

Já agora, só mais uma pequena achega à nossa pequena análise histórica comparativa: na Alemanha, negar ou pôr em causa o holocausto constitui um crime punível com uma pena máxima de cinco anos de prisão e multa.

Na Rússia, assiste-se a iniciativas de canonozação dum dos maiores monstros da hstória da humanidade, com a total passividade (e talvez até encorajamento subliminar) do governo, tendo sido preciso esperar até Outubro de 2007 para que Putin se juntasse a uma comemoração pública em memória das vítimas da repressão estalinista.

António Campos

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro António Campos, isso acontece por uma razão. Os dirigentes e criminosos do Terceiro Reich foram julgados pelos adversários que os derrotaram na guerra.
Na Rússia, o comunismo não foi alvo de uma condenação nem sequer moral ou política, porque os comunistas nunca abandonaram o poder. Neste país, não se deu uma renovação da élite política, como aconteceu noutros países do Leste da Europa.
Nos anos 90, os ex-comunistas tinham vergonha do seu passado, os agentes dos serviços secretos soviéticos escreviam livros de memórias para se justificarem ou atirarem as culpas para cima dos outros. Hoje, volta a ser prestigiante ter pertencido a determinadas instituições soviéticas.
Victor Tcherkessov, antigo agente do KGB e, hoje, um dos homens mais próximos de Vladimir Putin, defende abertamente que os "tchekistas" (antigos e actuais serviços secretos) são uma espécie de "nova nobreza".

Anónimo disse...

Caro José, a atitude alemã relativamente ao período nazi não se deve unicamente ao efeito da "justiça de vencedores". De facto, o pós-guerra foi um período intenso de auto-análise e autocrítica na própria Alemanha, no qual a humilhação da derrota não constituiu nunca um entrave ao estudo profundo e aberto do sucedido nos anos 30 e 40, coisa que, como sabe, nunca foi levada a sério na Rússia até agora. E não é de surpreender que muitos dos mais importantes e prestigiados historiadores do período sejam alemães. Veja-se por exemplo o caso de Joachim Fest, um dos mais conceituados biógrafos de Hitler.

Por outro lado, é interessante notar que a condenação da negação do holocausto tenha sido uma iniciativa da própria Alemanha, a qual inclusive continua a pressionar para que o acto seja reconhecido como um crime no âmbito da UE.

António Campos

Anónimo disse...

"lém disso, o nazismo teve "filiais" e seguidores noutros países, não ficou só pela Alemanha." - Jose Milhazes

Certo, mas eu falei do comunismo Soviético... Não meti ao barulho o comunismo da China, Coreia do Norte, etc... Senão aí não existem dúvidas: o comunismo foi a ideologia "em si" que mais "matou" no mundo.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro António, estou de acordo consigo, mas considero que um dos factores importantes da condenação do nazismo na Alemanha foi o afastamento dos nazis do aparelho do poder.
Claro que é de extrema importância o facto para que chama a atenção: a profunda auto-crítica e análise histórica do fenómeno.
Devo dizer-lhe que na Rússia há obras de história muito importantes nesse sentido, mas "não estão na moda". Eu recentemente coloquei uma postagem sobre o livro de História da Rússia recomendado para as escolas médias, onde se justificavam os crimes do estalinismo com a necessidade de criar uma nova indústria pesada, salvar a pátria, etc., etc., ou seja, regressa-se aos argumentos da historiografia soviética.
Caro António, vendo os seus conhecimentos sérios de história, desafio-o a escrever mais. O meu humilde blog está à sua disposição.
Quanto ao comentário do leitor anónimo, você tem razão em termos matemáticos, numéricos, mas a análise deve ser feita com argumentos mais profundos. Aqui já não se trata de saber quem matou mais, já que se fala em milhões, mas como é possível que a Humanidade origina monstruosidades desse tipo.

Anónimo disse...

Caro José Milhazes:

O termo «campeonato é muito feliz é triste estar a hierarquizar ditaduras, saber quem foi «o mais» na hecatombe, no genocíodio, na barbárie...

O «diabo que escolha», como se diz na gíria!...


www.rouxinoldebernardim.blogspot.com
Mas Bush, embora tenha algumas desculpas (World Trade Center...), também não tem as mãos totalmente limpas...

Anónimo disse...

"e que foram os comunistas soviéticos que pela primeira vez criaram campos de concentração para presos políticos."

Julgo que os primeiros gulags foram criados pelo regime czarista... Não há uma geração que volta dos gulags czaristas e acelera a revolução? Tchekov, o Bundt, os nihilistas, etc?

Com a guerra civil entre os brancos e os vermelhos, o regime comunista limita-se a manter a máquina a funcionar, utilizando o epíteto «anti-social» e «sabotador» para despachar quem quisesse para a Sibéria.

Tudo acabou por cair nas mãos do nacional-comunismo de Estaline. Não o chamavam de o paizinho dos povos? Não era o czar que usava o mesmo título?

Estou errado ou há gente que prefere recriar a história para alimentar as suas «fés»?

Anónimo disse...

Bush tem toda a razão:os povos bálticos, que sofreram o nazismo e o comunismo, até acham k os soviéticos foram piores do que os nazis. E teve a coragem de afirmar verdade histórica k o sectarismo doentio dos media ocidentais nao diz, e k as elites "culturais" negam. Bush teve o mérito de fazer os coelhos mostrarem o k são. E é uma vergonha os media teren ignorado a inacreditãvel resposta do kremlin

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor anónimo, não foi o regime czarista que criou o gulag. Você está redondamente enganado. A situação dos prisioneiros, principalmente políticos, era incomparavelmente melhor do que na era soviética. Não é por acaso que Estaline, Dzerjinski, etc. conseguiram fugir várias vezes das prisões e lugares exilados. Lénine e muitos outros revolucionários puderam casar e viver com as esposas quando estavam a cumprir penas de prisão.
No período soviético, isso era impossível.

Anónimo disse...

Invariavelmente as analises politico/sociais vindas do outro lado do Atlantico são completamente disparatadas para pessoas de bom senso, como a mensagem que Bush passou nos termos comparativos em analise, têm, na minha opinião, o objectivo de falar para o seu povo, faz sentido, e entendo.
Eu como Portugues, e Europeu, já lá vai o tempo que "aturava" a força mediatica norte americana, refiro-me às noites de NBA na TV Publica Portuguesa nos inicios dos anos 90. Cumprimentos a todos, e é bom estar de volta.

Clive da Silva disse...

Antes demais sou um democrata liberal, e sem filiação partidária, mas confundir Comunismo com Nazismo é atroz. Só quem não leu o Capital e os fundamentos* de Lenine poderá pensar tal coisa. Joseph Staline foi de facto um brutal ditador, mas, ao contrário de Hitler e de outros tantos sanguinários, o desenvolvimento humano na Rússia evolui muito no século passado, comparativamente com a opulência centralista e empobrecedora do império Ortodoxo Czariano. Os fundamentos para a revolução russa tiveram como principal impulso a discrepância social de classes e a pobreza extrema dos cidadãos russos. Os russos foram empurrados para a atractiva demagogia comunista, que se Estalinizou. Os Czares, assim como grande parte da monorquia Europeia, consideravam-se descendentes directos de Deus, sustentados (como é óbvio) pelo Clero. O ateísmo obrigatório é mau, mas por livre opção é bom. Tentar sobrepor o evangelho (ou outra doutrina religiosa) ao livre arbítrio é um passo em direcção à idade média.
Só para concluir, os anos 90 da Rússia são para ser recordados de 'Annus Horribilis'. A Rússia e os russos merecem respeito e prosperidade, seja ela através do comunismo ou de uma democracia 'musculada'. Putin pôs ordem na 'casa', devolvendo o rumo e a prosperidade tanto ansiados após a queda do regime comunista e a consequente libertinagem alcoolizada de Yeltsin. A Rússia deu e continuará a dar muito ao mundo. Deixemo-nos de demagogia e sejamos intelectualmente honestos.
Caro José Milhazes, apesar de uma visão diferente da sua, aprecio a qualidade do seu jornalismo e o seu inigualável carisma, continue o seu bom trabalho. Cumps Bruno Silva.

* Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática, Vladimir Ilitch Lenine, 1905

Anónimo disse...

Oh zé milhazes, ouvi dizer que você foi comunista e andou a ser bem tratado na ex urss. E quando o oiço na tsf acho piada ter essa voz finiha. Só tenho pena que não lhe tenham arrancado os tomates em devido tempo. Vá mas é cantar ópera que de anticomunismo difarçado de antiestalinismo já estamos fartos!

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Bruno Silva, o Capital de Karl Marx e as obras de Lénine até podem estar cheias de boas ideias, mas a sua realização deu no que deu, tanto na URSS, como na China, Cambodja, Coreia do Norte, etc.
Não duvido que houve progressos durante o período comunista em relação ao czarismo, mas isso não justifica os crimes. E se a URSS não tivesse existido, como teria evoluído a Rússia depois da revolução de Fevereiro de 1917? Feliz ou infelizmente, o condicional não faz parte da História. Por isso, deve-se analisar resultados.
Em relação ao comentário do leitor seguinte, não o vou retirar, porque sei de onde vem e mostra bem o nível intelectual da pessoa que o escreve.
Não é por acaso que ele não tem coragem de o assinar.
Não vou usar o mesmo tipo de linguagem porque os outros leitores não têm culpa.
Ganhe coragem, marxista-leninista-estalinista, não se esconda por detrás da tecnologia criada pelo imperialismo, que lhe permite ser anónimo.

Anónimo disse...

"ismos para enganar nosso cinismo"

é tudo uma questão de quem está no poder e quanto ganha.
ideologias são uma perda de tempo
capitalismo então não mata nada.