sábado, agosto 30, 2008

Cinco princípios da política externa do Kremlin


O Presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, revelou os “cinco princípios” em que se irá basear a sua política externa.
Numa entrevista transmitida por três canais televisivos russos, o Presidente Medvedev enunciou, pela primeira vez depois do reconhecimento da independência da Abkházia e da Ossétia do Sul, os cinco princípios da política russa no campo internacional.
”Antes de tudo, a Rússia reconhece a primacia dos princípios fundamentais do Direito Internacional que definem as relações entre os povos civilizados”, começou Dmitri Medvedev.
“Segundo, continua o Presidente russo, o mundo deve ser multipolar. A unipolaridade é inaceitável”.
“A Rússia jamais aceitará uma organização do mundo em que todas as decisões sejam tomadas apenas pelos Estados Unidos. Semelhante mundo só provocará conflitos”, explicou o dirigente russo.
“Terceiro, a Rússia não quer confronto com nenhum país. A Rússia não tenciona isolar-se. Nós iremos desenvolver, até onde for possível, as nossas relações de amizade com a Europa, os EUA e outros países do mundo”, acrescentou.
“Quarto, a defesa da vida e da dignidade dos cidadãos russos, estejam onde estiverem, é uma prioridade incondicional da nossa política externa”, declarou Medvedev.
“O quinto princípio são os interesses da Rússia nas regiões amigas”, juntou.

Por "regiões amigas", o Kremlin tem em vista os países da Comunidade de Estados Independentes.
Dmitri Medvedev ameaçou que “a Rússia, em caso de necessidade, está pronta a aprovar leis sobre sanções contra outros Estados, mas isso não é produtivo”.

19 comentários:

Anónimo disse...

“O quinto princípio são os interesses da Rússia nas regiões amigas”, juntou.
Eu não tenho nada contra esse principio, até acho muito bem, só não sei se as "regiões amigas" pensam da mesma forma e estão pelos ajustes.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Sérgio, esse é que é o grande problema. Eu não entendi é como se pode impor a amizade a quem quer que seja. Essas regiões já não podem escolher os amigos. Esta doutrina chama-se "soberania limitada".

Anónimo disse...

Infelizmente alguém vai ter de impor limites à Rússia na sua actuação com os seus vizinhos. Espero que esse alguém seja a UE, porque se forem os EUA isto não vai acabar bem para ninguém. Mais do que nunca o mundo precisa de uma UE forte, unida e decidida nas decisões que tem de tomar. Será que os dirigentes da UE têm consciencia disso?

Anónimo disse...

“Cinco princípios da política externa russa...” se não estou enganado, meu caro JM, eu fiz menção de expô-las aqui. Será mesmo que Medvedev tem o meu mesmo pensamento “atrasado”e “desconhecedor” das coisas de fato úteis para política externa russa? Eu acho que não postei tantas asneiras neste blog. Vejo que algumas são aproveitáveis. Um abraço.

Anónimo disse...

Retirando o 2º principio o do Mundo bipolar,e de que não devem ser os EUA a comandar os destinos de todos os povos,prinicipio com que eu concordo totalmente,este discurso não é muito diferente do de Bush mesmo no que diz respeito ás regiões ou países amigos.Quanto á sua opinião de que as regiões não podem escolher os amigos é bem verdade,veja o que se passa com o bloqueio a Cuba,as veladas ameaças a Hugo Chavez,as grandes amizades com Uribes.O senhor jornalista passa muito tempo no leste e não deve gostar de ler o que se escreve na Europa Ocidental e até nos EUA,se o fizesse percebia porque razão é contrariado tantas vezes neste blog.Houve quem defendesse o fim da história mas estão enganados o Mundo não é "o tabuleiro de xadrez imaginado por Bush em que ele movia todas as peças".O povo americano honesto,franco,e por vezes ingénuo vai colocar aquele grande Páis no lugar que ele merece.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Cara Ana, estou muito atento ao que se diz e escreve aí e, recentemente, num dos meus comentários, tive oportunidade de revelar a minha posição face à tese do "fim da história". Considero-a, há muitos anos, bastante infeliz, para não utilizar um termo mais forte.
Quanto à sua previsão sobre o povo americano, apenas lhe posso dizer: Deus a ouça.

Anónimo disse...

Não entendo a objecção de alguns dos participantes deste blog ao 5º princípio da PE russa. É algo perfeitamente natural sob o ponto de vista estratégico.
Os EUA fazem isso relativamente ao seu "quintal das traseiras" (ou será que mantém boas relações com Cua, a Venezuela e a Bolívia?); a França faz o mesmo relativamente à África Francófona (até deu para umas guerras na Guiné-Bissau); e Portugal, dentro das suas possibilidades, tenta garantir as "amizades" de Angola, Moçambique e etc. A diferença é que, ao contrário dos países acima citados, nós não temos poder económico e militar para impor as "amizades".
Mas olhem, até Angola se impõe aos seus vizinhos. É algo natural.
Em suma, Sérgio, JM e outros: as grandes potências são aquelas que têm o poder e a vontade de "impor a sua amizade" a quem quer que esteja dentro do seu alcance de projecção de poder. E de facto, a maioria dos países, se não mesmo todos, têm uma "soberania limitada", sendo que uns estão mais limitados que outros.

Quanto à imposição dos limites, quem é a UE para fazer o que quer que seja? O grau de interdependência UE-Rússia impossibilita embargos e demais acções económicas (como os recentes eventos assim o demonstram); e a UE não tem nem capacidade política nem sequer moral (Kosovo) para impor o que quer que seja.
Quanto aos EUA/NATO, será que estão dispostos a entrar em guerra por causa de uma Geórgia ou de uma Ucrânia?

Fernanda Valente disse...

«O quinto princípio são os interesses da Rússia nas regiões amigas»

JM, quanto a este princípio, fala de uma «soberania limitada», ou seja do facto de a Rússia querer impor a sua "amizade" às regiões que, entretanto, se transformaram em estados autonómicos.
É bastante parcial esta opinião de JM, para mais sendo português e tendo como exemplo o processo da descolonização portuguesa pós revolução, levado a cabo nas provincias ultramarinas, cujos contornos imponderáveis que envolveram as negociações do acordo de paz nos envergonham até hoje. Nós fomos pura e simplesmente escorraçados dos territórios, sem sequer ter acautelado a possibilidade de o Estado poder vir a ser ressarcido dos investimentos que realizou, tomando eu como exemplo a barragem de Cahora Bassa que, só muito recentemente é que se terá chegado a acordo, apesar do maior beneficiário ir ser a África do Sul.
Faltou liderança e vontade política por parte das nossas Forças Armadas que lavaram as mãos como Pilatos.
As consequências que se seguiram a nível humanitário e de sobrevivência de centenas de portugueses que atingiram o "ground zero" das suas vivências, são sobejamente do nosso conhecimento. E, é neste aspecto que estabeço um paralelo com a posição russa em relação aos territórios tornados autónomos da ex-URSS.
O problema do povo latino é pensar com o coração, ao contrário de outros povos que pensam com a razão.
No nosso país, governa-se com emoção, legisla-se com emoção, assiste-se à impunidade com emoção, inocenta-se, por falta de provas, com emoção. Enfim, a emoção é, entre nós, um sentimento recorrente que direcciona as nossas vidas 24 horas por dia.

Anónimo disse...

Os Americanos não são ingênuos, podem sofrer de uma elevada falta de conhecimento geográfico, histórico e geopolítico, pois acreditam que seu país é o salvador do mundo, a terra da liberdade o propulsor da democracia mundial, em outras posições são extremamente arrogantes, mas não é culpa deles, também são vítimas da mídia ocidental e crêeem na desinformação ou na informação pró-ocidente como ocorre com a maioria das pessoas no mundo atual que leêm jornais, navegam na internet etc... Infelizmente a imprensa hoje não é imparcial e por sinal muito tendenciosa. Os princípios ditados pela Rússia de forma simplificada não são diferentes da Política Externa dos Estados Unidos, a única diferença é que neste caso foi ditado pela Rússia e não pelos Estados Unidos o que vai gerar protestos como já gerou e opiniões ambíguas e Russofobas como sempre. Pelo menos a Rússia ainda não adotou como os EU, fizeram na década de 90 Uma Agenda de Política Externa, delineada, editada e aprovada no Congresso, para cada Continente e/ou países do mundo. Pois é foi uma para a Rússia, esta por sinal é muito interessante pois começa com o texto " Os Estados Unidos, sendo a única superpotência que resta no no mundo, devem continuar a fazer que o controle de armas seja um elemento central de sua política externa de segurança nacional", Atentem para a "segurança nacional" esta agenda é muito interessante pois tinha o objetivo de reduzir a Rússia a nada, pois previa o desmantelamento completo de sua estrutura militar, além do controle Americano em indústrias e recursos energéticos Russos, nesta mesma Agenda de Política Externa, é que se encontra o famigerado acordo das CFE, e mais uma vez as limitações de forças só recaem para Rússia e também Ucrania, não se vê a menção de qualquer limitação aos efetivos da NATO. Quanto à questão das nações amigas, volto a refutar o caso de Granada, do Panamá, além da presença de bases americanas na Alemanha, Itália, Japão os derrotados na Segunda Guerra Mundial, o mais engraçado é que os alemães queriam o fim da presença soviética na Alemanha, o muro de Berlin caiu, os Russos foram embora e os Americanos ficaram e suas bases também, se todos gostam de falar de soberania, fronteiras e acusar a Rússia, porque não protestam da presença Americana, invadido a soberania dos países citados? Se os Europeus participantes desde blog e de outros, tão ávidos por uma "União Européia" livre e forte, porque não se unem em protestos e pedem a saída dos Americanos de seus países? Portugal possui bases Americanas em Lajes e Açores, Itália em Sigonella, Nápoles, Livorno e São Vito, Alemanha em Ramstein, Spangdahlen, Stutgart, Geicenkirchen,Heidelberg e Grafennoher, Inglaterra em Alcombury, Upper Heiford, Milden Hall, Menwith e Lakenheth, Espanha em Rota, Na Bósnia em Tuzla, Taszar na Hungria, 4 bases na Bulgária, etc... Só citei as com maior volume de militares e equipamentos. Isto é só na Europa e o resto do mundo? Desse modo fica difícil de entender tantas opiniões inflamdas e contrárias à Rússia, quando o País que assalta o mundo é os Estados Unidos. Sr. José Milhazes em outra oportunidade me perguntou se eu era de esquerda, respondi que sou apolítico e não tenho lado. Agora pergunto, o senhor que reside na Rússia a 31 anos, se não me engano e reconheço que possui informações muito mais presentes do que as minhas que são obtidas através de diversos amigos e correspondentes na Rússia e que divergem bastante em alguns aspectos. O senhor é de Esquerda ou de Direita? Porque seu posicionamento é tão Antirússia? Se não for peço desculpas, mas é o que deixa transparecer. Temos em comum a Formação Acadêmica em História, cadeira acadêmica que hoje passa por uma verdadeira revolução, ao corrigir os erros da História Ocidentalizada que purgou o conhecimento verdadeiro nos últimos sessenta anos.

Grande abraço

Fernanda Valente disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Caro pippo tem uma coerencia a toda a prova. Primeiro, ninguem fez objecção nehuma ao 5º princípio da PE russa, apenas foi referido que as regiões amigas podem não ser tão amigáveis como a Rússia pensa. Segundo, é completamente normal o que a Rússia tenta fazer já que os EUA também o tentam fazer no seu quintal, portanto não haverá nenhuma censura a fazer, pena é que o pippo não viva em nenhum destes países, ou se calhar também é daqueles que gostava de ver a poderosa Espanha vir estender a sua amizade sobre Portugal, admitamos que vontade nunca lhes faltou. Terceiro, as grandes potencias são as que podem impor a sua amizade, então não percebo porque ficou tão indignado quando os EUA impuseram a sua amizade no Iraque e no Kosovo, e porque não gosta da ideia da NATO se alargar à Geórgia e Ucrânia, afinal eles têm poder para impor isso, portanto essa deve ser a coisa mais natural para si, quem sabe se os EUA não tem até poder para o tirar do sofá e obriga-lo a dar-lhes uma mãozinha. Quarto, a UE não tem nem capacidade política nem sequer moral (Kosovo) para impor o que quer que seja. Ó pippo mas afinal estamos a falar do ponto de vista estratégico ou moral, até me está a deixar confuso. A UE não tem capacidade politica, isso é o que se verá.

Anónimo disse...

Eu gostava era de saber que soberania *ilimitada* têm os países da OTAN, cheios de bases militares americanas...

... logo para começar, poderia perguntar porque é que a OTAN näo acabou no dia seguinte ao fim do Pacto de Varsóvia...

... por mais que o povo demonstre a sua vontade (veja-se as manifs antes da guerra do Iraque--até noes EUA e RU), os líderes vêm lamber as botas ao dono, ou entäo, o dono "amigo" dá-lhe bordoadas pela calada. Entäo que moral têm para criticar o "Ursito"?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Cara Fernanda, não entendi a analogia feita no seu comentário. Quanto ao processo de descolonização, concordo que foram cometidos erros, mas ela poderia ter sido feita de outra forma na situação criada após o 25 de Abril? O que podiam fazer as nossas Forças Armadas?
Quanto aos leitores que dizem que a minha posição face à soberania limitada é lírica, irreal, acredito que tenham razão, mas acho que no Direito Internacional deve existir um pouquinho de moral. Caso contrário, vale tudo e até arrancar olhos.

Anónimo disse...

Sérgio, aqui a questão não é saber se vivemos ou não nesses países, aqui a questão é analisar as coisas como elas são.
Em termos de poder, os países tentam manter a soberania quando podem, e alargam-na quando podem. O facto dos países limítrofes não gostarem dessa amizade depende da sua capacidade, do seu poder. Até aqui estamos conversados.
Mas a questão aqui prende-se com a moralidade, em que uns (os "bons") estendem a sua "amizade" usando argumentos hipócritas como o dos Direitos Humanos ou o da Democracia. Isso é que tenho alguma dificuldade em engolir. Chatear-me-ia menos se a NATO tivesse atacado a Sérvia e tivesse limpo o Kosovo de boa parte dos sérvios dizendo que o fazia apenas para garantir um corredor de territórios "fieis" aos EUA entre a Trácia e o Tirreno; ou se os EUA tivessem invadido o Iraque para garantir a "amizade" de um país estratégicamente central no Médio Oriente, não wahabita e com petróleo.
Mas o facto é que os argumentos para ambas as invasões foram hipócritas. Ao contrário, os argumentos russos não o foram. e ainda que estes não tenham confessado totalmente os seus objectivos, pelo menos não mentiram.
Quando se usa a moral como "arma", convém que se seja honesto.

A minha objecção ao alargamento da da NATO à Geórgia e Ucrânia deriva da minha percepção de que isso irá inflamar ainda mais as psicoses de cerco no seu da população russa (e não apenas das elites). Convenhamos, nenhum país gosta de se sentir cercado, e a Rússia tem toda uma História de cerco (Alemães e Livónios a Ocidente, Mongóis a Leste, gelo no Norte e Turcos a Sul). Estando as coisas como estão, estando o aparelho económico, militar e sobretudo psicológico dos EUA em pantanas, não sei se a NATO terá assim tanto poder, sobretudo porque terá inevitavelmente de lidar com problemas étnicos (na Ucrânia, por exemplo), e sinceramente não estou a ver a população da NATO com vontade de entrar numa campanha de limpeza étnica de russos naquele país.
Por fim, quanto à capacidade política da UE, isso não é o que se verá, é o que já se está a ver. E a diversificação da oferta russa mais minará a capacidade de reacção da UE. Referiu a sua (ou minha?) confusão entre a moral e a estratégia. Pois é, o problema é que, como disse mais acima, o "Ocidente", mormente a UE, usam argumentos morais para prosseguir a sua estratégia. Quando aquela é falha, a segunda dará de si. Por isso é que os dirigentes da UE ñão conseguem encontrar argumentos para atacar a Rússia sob o ponto de vista moral e de acção, pois foram esse dirigentes, ou os seus antecessores, quem apoiou acções bem mais graves no seio da Europa.

Abraço

PS - Não, os EUA não me conseguem arrancar do sofá para lhes dar uma mãozinha. Se é para lutar pelos interesses norte-americanos, prefiro ir de cana. Apesar dos riscos, sempre é melhor do que levar com uma bala na testa...

Anónimo disse...

Falava o sérgio da capacidade política da UE. Ora cá está o que eu andava dizer:

"Entretanto, a Rússia e a Alemanha chegaram também ontem a um acordo com o objectivo de reduzir o clima de tensão que se tem feito sentir na Europa na sequência do conflito entre Moscovo e Tbilissi, de acordo com o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov." in Público, "Rússia recusa mundo dominado pelos Estados Unidos, garante Medvedev", 31/08/2008

Anónimo disse...

A Rússia está desesperada em relação á Ucrania, e tem motivos para isso, em causa está a construção da nova rússia dos proximos séculos.Sem a ucrania a Rússia não pode ascender novamente ao estatuto de super potência. Se for criado um estado semelhante a UE entre a Rússia, Ucrania, Biélorussia e Cazaquistão nasce uma nova super potência, mas sem a ucrania neste cenário não tem sentido a russia ter pretenções de Super Potência. A ucrania "vale" 50 milhoes de habitantes, a russia com os seus 140 milhoes(a diminuir) não tem dimensão populacional suficiente para subir a categoria de super potência

Gabriel martins, Porto

Fernanda Valente disse...

Caro José Milhazes,

A analogia está na diferença entre o que, entre nós, deveria ter acontecido e o que não aconteceu.
Não conseguimos impor a nossa "amizade" através da tal soberania limitada ou relativa que só teria trazido benefícios para ambas as partes.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Cara Fernanda, desculpa, mas está a ser pouco realista. Acha que um país pequeno, fraco como Portugal conseguiria impor soberania limitada a quem quer que fosse durante a guerra fria. Aconselho-a a estudar a guerra, fria e quente, entre os EUA e a URSS, pelas nossas colónias e verá que pouco ou nada os portugueses poderiam fazer.

Anónimo disse...

O homem é podre de bom e por aqui só há inveja. Ah, se eu tivesse um PR assim, passava o dia em Belém.